Política é ciência indispensável à governança, especialmente nas democracias.
O bom e útil exercício da política é essencial, desde que desempenhado com
honestidade e interesse social e patriótico pelos seus atores. No Brasil, para
a maioria dos cidadãos a política é vista com reserva e não raro rotulada com
qualificativos desabonadores. Todavia, não é a política que não presta, são os
políticos que por sua postura e por seu caráter pessoal a degradam. É o que
está acontecendo.
Manobras e negociações estranhas à prática política sempre existiram e certamente
continuarão existindo, mas no Brasil a deturpação vem num crescendo preocupante
até chegar a episódios mais recentes que produziram dois dos maiores
escândalos, popularmente conhecidos como ‘mensalão’ e ‘petrolão’. Este
último afetou a governabilidade nacional, dado o número e a posição dos
envolvidos.
A presidente Dilma Roussef se viu extremamente fragilizada em vista de
crises econômicas, problemas sociais e políticos que a deixaram sem condições
de governar, de exercer plenamente o seu mandato. Aí, afloraram no meio
político e partidário de sustentação do governo manobras mesquinhas, traições e
delações que potencializaram as dificuldades, agravadas com o processo de
impeachment em andamento.
O PMDB, partido da base aliada e presidido pelo vice-presidente Michel
Temer, iniciou estratégico afastamento, talvez antevendo a possibilidade de
assumir o governo em caso de afastamento de Dilma, o que efetivamente
aconteceu. O primeiro passo foi o lançamento de um programa nacional denominado
Ponte para o Futuro, uma peça com viés oposicionista, sugerindo que o governo
não tinha condições de apresentar propostas ao país. PP, PSD e outros menores
permaneceram pendurados nas tetas do governo até poucos dias antes da votação
do impeachment, que ajudaram a referendar, e já negociavam cargos no futuro
governo de Temer.
A Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na
Petrobras, acabou por revelar casos estarrecedores envolvendo parlamentares,
gestores públicos e integrantes do governo mancomunados com empreiteiras de
obras e empresas que mantinham contratos com o governo e com a estatal. Nesse
processo foram aceitas as deleções de diretores da Petrobras, de empresas
investigadas e políticos, o que ampliou o número de denunciados, indiciados e
até condenados.
Entre as delações a que mais expôs o lado espúrio dos políticos foi a
de Delcídio do Amaral. Ex-diretor de estatais, ex-ministro e então senador e
líder do governo foi preso por corrupção e promoveu ‘entregação’ geral.
Seria de se imaginar que se sabia de todos os atos delatados e tivesse bom
caráter teria denunciado à época dos acontecimentos, porém, só o fez na hora de
salvar a própria pele.
Caso de traição explícita foi protagonizado por Sérgio Machado,
ex-senador e ex-diretor da Braspetro. Propositalmente e com interesse escuso
não teve o menor pudor em gravar conversas com políticos que o apoiaram na
obtenção e manutenção de cargos, principalmente na presidência da empresa.
Insidioso, levou os interlocutores e falarem o que não deviam e para completar
a rasteira manobra, entregou as gravações para a mídia publicar e repercutir.
Em resumo, são esses os políticos que desvirtuam a essência da política
e se valem dos cargos públicos para proveito próprio. São esses que reforçam o
argumento de que o país está precisando de importantes reformas, porém, a mais
urgente e necessária é a reforma moral e ética. Não é fácil promovê-la porque
depende do caráter dos políticos e os que aí estão já provaram que dificilmente
se emendarão, pois como se diz, não há ex-corrupto...
Acredito que somente se chegará à depuração política com a renovação,
com novas ideias, novos atores não contaminados. A busca desses envolve
trazê-los à participação no cenário político. Todavia, sabe-se que a maioria dos
cidadãos, especialmente a juventude, não participa porque tem essa visão
negativa da política disseminada pelos maus políticos que precisam ser banidos
através das urnas, a via democrática. Isto leva a outra constatação: a reforma
moral e ética, tão necessária e urgente, depende também de quem vota...
Concluo com a frase de Ulysses Guimarães, líder político por
excelência, dita há mais de vinte anos: “República suja pela corrupção impune
tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam”.
Luiz Carlos
Borges da Silveira - empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e
Deputado Federal.