Pesquisar no Blog

terça-feira, 24 de abril de 2018

Pequenas crianças, grandes responsabilidades


Ao ouvirem especialistas afirmarem com propriedade que a Educação Infantil é a mais importante etapa do desenvolvimento de um indivíduo - mais até do que a universidade - muitas pessoas se mostram surpresas ou incrédulas. Quem trabalha com crianças nessa faixa etária - até os 6 anos - sabe que a afirmação não é exagerada. Essa é a fase de maior desenvolvimento humano. Durante a chamada primeiríssima infância, de 0 a 3 anos, se aprende mais do que se aprenderá ao longo de toda a vida. Para além do discurso de educadores, são os cientistas que afirmam: nos primeiros anos, o cérebro faz mais conexões do que em qualquer outro período da vida. São de 700 a 1.000 conexões por segundo. Aos 3 anos, ele é duas vezes mais ativo que o cérebro de um adulto. Pesquisas americanas realizadas com milhares de crianças mostram que alunos que tiveram uma boa Educação Infantil precisam de menos reforço escolar e apresentam melhor desempenho no Ensino Fundamental. Em outro estudo, cientistas de Harvard já apontaram que quanto mais a criança se desenvolve na escola nessa fase da vida, maiores são as chances de chegar ao Ensino Superior e ganhar bons salários, quando adulta.

As afirmações são importantes para reforçar que o ambiente no qual a criança cresce é fundamental para garantir seu pleno desenvolvimento - e não estamos falando apenas do cenário doméstico: o ambiente escolar também é determinante. As escolas que ofertam a Educação Infantil têm uma enorme responsabilidade com a humanidade, por isso saber o que fazer, por que fazer e como fazer é para profissionais - e exige muita formação continuada e acompanhamento direto de pessoas capacitadas para transformar a prática em objeto de reflexão para a melhoria contínua. É necessário que os profissionais entendam que o brincar é a linguagem da criança e que consigam transformá-lo em instrumento mediador no processo didático-pedagógico. Tal recurso é ferramenta indispensável no desenvolvimento qualitativo dos aspectos cognitivo, motor, afetivo, psicológico e social, e, portanto, necessita de valorização dentro das propostas educacionais. 

Apesar da legislação brasileira considerar que a Educação Infantil faz parte da Educação Básica, o país ainda não exige formação superior dos profissionais que atuam nessa etapa de ensino (mesmo que essa seja a 15ª meta do nosso Plano Nacional de Educação).  Fora isso, há escolas com um número imenso de profissionais atuando na Educação Infantil sem a formação adequada porque muitos ainda acreditam que, quando se trata de criança pequena, basta apenas cuidar. Uma pesquisa realizada em seis capitais brasileiras revela que 65% dos professores que atuam nessa fase de ensino não tem qualificação específica para trabalhar com educação de crianças. O que não é levado em conta nesse atual cenário é que o próprio cuidar deve vir acompanhado de orientações e embasamentos. Sem o conhecimento necessário, o profissional recorre ao senso comum, sem conhecer o que é esperado para cada faixa etária, como aprender, ensinar e organizar tempo e espaço na Educação Infantil, como, efetivamente, podemos proporcionar o aprender brincando. E só para reforçar: não basta apenas formação inicial, a formação continuada precisa fazer parte da rotina do profissional.

O professor de Educação Infantil deve ter um coração disposto a criar vínculos afetivos, mãos habilidosas para se dedicar ao trabalho diário e uma mente disposta a aprender, sempre. Deve apresentar também um olhar que é desenvolvido por meio de orientação e formação, calibrado para perceber situações corriqueiras, transformando-as em disparadores para novas aprendizagens. Ele precisa ser paciente - a repetição faz parte do processo - ao mesmo tempo que precisa ser criativo, procurando diferentes maneiras de mediar a aprendizagem. É na troca e na rica experiência que testamos, nos frustramos, conquistamos e crescemos. É com a atitude diária, cotidiana, muitas vezes vista como banal, que transformamos. A repetição, a permanência da regra, a mediação realizada “milhões de vezes”, essas sim, consideram a complexidade do ser humano. Devemos ser capazes de transformar o pensamento em ação e repensar a ação por meio da reflexão, sem perder o entusiasmo, a coragem de tentar o diferente e inovar.  Afinal, trabalhamos com a melhor fase do ser humano.






Hannyni Mesquita pedagoga, especialista em Gestão das Organizações Educacionais e Educação Bilíngue. É gestora da Educação Infantil do Colégio Positivo Júnior, de Curitiba (PR)


Impeachment: golpe ou expulsão do clube dos ladrões?


Que Brasil está sendo revelado à exaustão pelos mensalões e pela Lava Jato?

Do ponto de vista eleitoral, trata-se de uma democracia (governo eleito pelo povo) que carrega o peso contaminador da venalidade. Os donos inescrupulosos do poder compram votos de muitos eleitores assim como boa parcela dos próprios parlamentares (que fabricam leis que garantem os privilégios e roubalheiras deles).  

Em termos de governabilidade, alguns agentes públicos bem-intencionados convivem com o nefasto clube dos ladrões do dinheiro público, cujos sócios principais (grandes conglomerados econômicos com acesso ao poder, alguns bancos e partidos, grandes meios de comunicação etc.) se digladiam para saber quem mais se apodera dos bens e do patrimônio da população. Nesse sentido, o Brasil é uma roubocracia ou uma cleptocracia,

Do ponto de vista gerencial, por força da predominância da má política (nepotismo, fisiologismo, “tomaladaquismo”), a parcela honesta e competente do setor público divide espaço com os piores indivíduos da sociedade (isso se chama caquistocracia = governo dos piores).

O lado obscuro do Brasil fracassado é, portanto, um misto de democracia venal com roubocracia e caquistocracia. Esse Brasil atrasado é gerido por um clube, cujos membros são os verdadeiros donos do País. Ele tem suas regras.

Nele se ingressa pela força ou pelo voto. Mas essa admissão é sempre condicionada. Para se manter como sócio desse clube o que interessa não é a honestidade nem o bem-estar ou a felicidade do cidadão. O que importa é, desde logo, o crescimento econômico, pois quanto mais forte a economia, mais roubalheira se torna possível.

Dois anos consecutivos de crescimento econômico negativo significa expulsão do clube (do grupo). Cartão vermelho. Isso ocorreu com a ditadura militar nos anos 1981-1983 (-6,3%), que foi expulsa do poder em 1985. O mesmo fenômeno se repetiria com o impeachment de Collor (1990-1992, -3,8%) e de Dilma (2015-2016, -7%) (ver Otavio Frias Filho, Folha 22/4/18).

Nos últimos 40 anos, os grandes sócios expulsos do clube das roubalheiras foram, portanto, o regime militar (1964-1985), Collor (1990-1992) e o Partido dos Trabalhadores (2003-2016). Eles foram defenestrados pelo sistema (ou mecanismo) da roubocracia. Enquanto úteis, permaneceram no clube. Quando se tornaram inconvenientes, foram expelidos.

A regra de Esparta é outra diretriz seguida pelos donos ladrões do poder: tolera-se e incentiva-se o roubo, mas o ladrão não pode ser publicamente descoberto ou flagrado ou perder sua força. Expoentes máximos do PT, PSDB, MDB, PP e outros partidos (Aécio, Cunha, Geddel, Palocci, Lula etc.) estão sendo ou já foram expulsos da estrutura da roubocracia por terem violado a regra de Esparta, que castigava suas crianças não pelo roubo que era estimulado, mas por terem sido descobertas.  

Qual é a função da medida extrema do impeachment ou da queda de um regime?

Benjamin Franklin (um dos pais fundadores da modernidade norte-americana) implacavelmente escreveu: “o impeachment é uma forma de se livrar de um mandatário que se revela detestável (“obnoxious”) sem ter de matá-lo”. Aliás, cumprem esse papel não apenas o impeachment, senão também a queda de um regime e a cadeia.

Quando o mandatário se torna detestável? Para o clube dos donos corruptos do poder (os que saqueiam a nação sem dó nem piedade) o decisivo não é a desonestidade (com a qual eles estão habituados) muito menos a má qualidade de vida ou a miséria extrema do povo (o povo só vale como consumidor e nada mais).  

O mandatário se torna detestável e é punido com a expulsão do clube dos ladrões se for publicamente descoberto ou quando não promove crescimento econômico positivo. Quando tudo vai mal na economia, os donos do poder se encarregam de promover o isolamento político do governante, que fica sem sustentação no Parlamento e no povo.

No crime organizado privado assim como nas máfias, quando o líder perde a confiança é assassinado. No crime organizado dos donos corruptos do poder promove-se seu impeachment, sua queda ou sua prisão. Cortando o foro privilegiado, por exemplo, chega-se fácil à prisão.  

O que as facções vitoriosas do clube de ladrões chamam de impeachment, os militantes das facções expulsas desse paraíso denominam de “golpe”. O nome não importa, seja golpe, impeachment, queda ou prisão: essa é a dinâmica nua e crua de todos os crimes organizados.




LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista. Criador do movimento Quero Um BrasilÉtico. Estou no f/luizflaviogomesoficial


CONTRA OS FATOS, OS CHAVÕES


       Não era incomum, nos meus tempos de escola primária, que algum colega mais irrequieto fosse obrigado a perder o recreio escrevendo no quadro negro uma centena de vezes: "Não devo conversar durante as aulas". Quando retornávamos, o coitado ali estava, solitário, infeliz e sujo de giz, contemplando o produto de sua desgraça, convencido de que em boca fechada não entra mosca.

        Os que nos querem convencer de que as ideias marxistas funcionam fazem bom uso da insistente repetição dos seus chavões. Um deles afirma que "as desigualdades sociais são fruto desse modelo concentrador que aí está". Ou seja, elas decorreriam da economia de mercado, do direito à propriedade privada, da liberdade de empreender, do tal capitalismo. Apontam a miséria da África e da Ibero-América como resultado desse "modelo" explorador e desumano. Repita-se isso até a exaustão e você não duvidará de que os africanos eram ricos, prósperos, poderosos e bem nutridos até a chegada das desgraças ocidentais e que norte-americanos, europeus, japoneses, canadenses e australianos vivem à custa das esplêndidas riquezas sul-americanas.

        Acreditaremos, também, que nossos projetos com vistas à prosperidade nacional, conduzidos por longa e estável série de governantes sábios, prudentes e dedicados ao uso lúcido e honrado dos recursos públicos, sob um sistema de governo e uma ordem constitucional moderna e eficiente, só fracassam por causa da ganância externa. Pela insistente repetição, assumiremos como verdadeiro que todo o bem que afanosamente fazemos por nós mesmos tropeça em coisas satânicas como Consenso de Washington, Clube de Paris, FMI, G7, G8, Escola de Chicago, Fórum de Davos e outras sinistras conjunções empresariais ou zodiacais.

        Para que a culpa possa ser atribuída "a esse modelo que aí está", é preciso jamais mencionar a concentração de riqueza do antigo Egito, de certas dinastias chinesas, do Indostão, do Império Romano, dos barões medievais, dos comerciantes venezianos e genoveses, dos banqueiros surgidos no Renascimento. É preciso esquecer que a fome era endêmica na Europa em pleno período colonial e assim permaneceu até meados do século passado. E é preciso, principalmente, jogar nas sombras da ignorância dois fatos essenciais: 1º) que foi precisamente sob o regime das economias de mercado e com o surgimento das democracias constitucionais que a renda passou a ser mais bem distribuída entre os cidadãos; e 2º) que o modelo mais radicalmente oposto a "esse que aí está" somente gerou opressão, corrupção, genocídio e miséria. Mas essas são coisas que ninguém diz e ninguém repete.






Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


Posts mais acessados