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A presença crescente dos bebês reborn na vida adulta exige uma reflexão: quando o acolhimento simbólico se transforma em obstáculo para a saúde emocional?
Em um mundo onde a solidão, o luto e as perdas
emocionais se tornaram ainda mais intensos, os chamados bebês
reborn — bonecos hiper-realistas que imitam com precisão um
recém-nascido — ganharam um novo status. Mais do que brinquedos, passaram a ser
companheiros de adultos que, em muitas situações, enfrentam lutos, traumas ou
dores relacionadas à maternidade.
Ainda que, à primeira vista, o ato de adotar um
bebê reborn possa parecer um recurso inofensivo para oferecer acolhimento
emocional, a psicologia clínica adverte: quando essa substituição simbólica se
torna prolongada ou intensa demais, há risco de prejuízos significativos para a
saúde mental.
Os bebês reborn, em certos contextos, funcionam
como objetos transicionais, ou seja, elementos que ajudam a lidar com a dor
emocional. No entanto, se esse vínculo se cristaliza, impedindo a pessoa de
elaborar suas perdas ou seguir com a vida real, entramos em um campo de
patologização do luto e da negação da realidade.
Um dos exemplos mais delicados envolve mulheres que
enfrentam dificuldades para engravidar. Nesses casos, o uso do bebê reborn pode
inicialmente aliviar o sofrimento. Entretanto, se o vínculo se transforma em
uma fixação, substituindo de forma permanente a busca por elaborações
emocionais mais profundas, surgem riscos de agravar quadros como depressão,
transtornos de ansiedade ou até transtornos dissociativos.
Outro ponto de atenção é a solidão contemporânea,
que favorece o surgimento de vínculos intensos com objetos inanimados como
forma de suprir necessidades afetivas. É compreensível que, diante da falta de
suporte social ou familiar, a pessoa busque alternativas emocionais. Mas é essencial
que haja acompanhamento psicológico para garantir que o bebê reborn não se
torne um substituto permanente para relações humanas.
A psicologia não condena o uso dos bonecos. Pelo
contrário: reconhece seu valor simbólico como instrumento temporário de
acolhimento e reconstrução emocional. A questão central está na vigilância
sobre o tempo e a função que esse objeto passa a ocupar na vida da pessoa.
Quando o bebê reborn é um recurso dentro de um
processo terapêutico, ele pode ser muito útil. O problema surge quando ele se
transforma em uma prisão emocional, impedindo que o indivíduo elabore suas
perdas, estabeleça novos projetos de vida e se reconecte com o mundo real.
Em tempos de vínculos frágeis e dores invisíveis,
os bebês reborn revelam uma realidade urgente: a necessidade crescente de
acolhimento emocional verdadeiro, que respeite a complexidade dos lutos e das
ausências — e que estimule, sempre que possível, o resgate da capacidade de
viver plenamente.

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