Nefrologista Rodrigo Meira, do Vera
Cruz Hospital, em Campinas (SP), elenca perigos e formas de consumir
fermentadas, destiladas, licores, e coquetéis e drinques Crédito: Bespirituosas /Pixabay
Atualmente, cerca de 28% dos adultos brasileiros ingerem bebida alcoólica ao menos uma vez por semana. A informação é do Observatório da Saúde Pública, que realizou uma pesquisa nas capitais brasileiras, em 2023, reunindo mais de 34 mil participantes. Embora o marketing do setor seja liberado, o alcoolismo pode desencadear sérios problemas de saúde. Neste mês, temos duas datas alusivas à causa: o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo (18/2) e o Dia da Ressaca (28/2).
O nefrologista Rodrigo Meira, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), explica que há classificações dessas bebidas de acordo com o teor alcoólico e efeitos diferentes: destiladas, fermentadas, licores e coquetéis (que geralmente misturam mais de um tipo).
Antes, porém, é importante destacar que fatores metabólicos interferem nos efeitos das bebidas alcoólicas em cada organismo. “As mulheres têm metabolização 30% mais lenta que o homem; os homens possuem maior quantidade de água corporal; ambos possuem diferenças enzimáticas e hormonais significativas”, salienta. Ou seja, se o consumo considerado “social” para o homem é de duas doses, para a mulher, é de apenas uma.
Essa diferença se deve a alguns fatores, como o uso de
anticoncepcionais, que altera a metabolização; a menopausa, que altera a
tolerância; a tensão pré-menstrual (TPM), que causa maior sensibilidade aos
efeitos; e fatores de risco aumentado, como câncer de mama, osteoporose,
alterações hormonais e hepáticas. No caso de gestantes ou mulheres na fase de
amamentação, a abstinência do álcool deve ser total.
Destiladas
Dentre as destiladas, estão vodka, uísque, cachaça, tequila, rum e gim. “São bebidas com alto teor alcoólico (40-50%) e impactam em nosso organismo de forma abrangente”, explica Meira. “No sistema nervoso, a curto prazo, este tipo de bebida causa desinibição, falta de coordenação e reflexos lentos; a médio, gera alterações de memória e concentração; e a longo prazo pode gerar riscos de danos cerebrais permanentes”, alerta.
Os perigos não param por aí, as bebidas destiladas podem comprometer o fígado, gerando desde o acúmulo de gordura (esteatose) até hepatite por álcool ou cirrose hepática. No sistema cardiovascular, os efeitos são o aumento de pressão arterial, risco de arritmias cardíacas e possível cardiopatia alcoólica. No sistema digestivo, é possível desenvolver irritação da mucosa gástrica e risco de úlceras e gastrite crônica. Também é necessário estar atento ao equilíbrio hidroeletrolítico, ou seja, risco de desidratação, uma vez que o álcool estimula a urinar e, consequentemente, eliminar uma quantidade maior de sais minerais essenciais.
Ao consumir bebida destilada, é importante manter a hidratação antes,
durante e após ingerir álcool, preferencialmente com água mineral. A regra
básica pede um copo de água (200-250ml) para cada dose alcoólica. No entanto, o
médico recomenda uma hidratação estratégica: 500ml de água antes de começar a
beber; 200-250ml entre cada dose; e 500ml antes de dormir. Os sinais de alerta
para desidratação são sensação de sede excessiva, boca seca, urina escura e
tontura. Nestes casos, ingira mais água.
Fermentadas
Na categoria de bebidas alcoólicas fermentadas estão cerveja, vinho, saquê e hidromel. “Esse gênero impacta o organismo de forma multissistêmica, ou seja, afeta o corpo de várias formas. No sistema digestivo, causa o aumento de 40-60% no risco de refluxo gastroesofágico; gera alteração significativa da microbiota intestinal; aumenta o risco de câncer colorretal (15-20% maior em bebedores regulares); e causa má absorção de nutrientes essenciais (especialmente vitaminas B12, D e ferro) e inflamação crônica da mucosa gástrica. No fígado, pode desencadear o acúmulo de gordura (esteatose); risco de hepatite alcoólica - menor que destilados, mas significativo; progressão para cirrose em 10-20% dos casos de consumo excessivo; e alteração das enzimas hepáticas”, enumera o médico.
Assim como as destiladas, as bebidas fermentadas também devem ser
consumidas em alternância com a água nas mesmas proporções. A água é essencial
para ajudar o organismo a reduzir em 40% os sintomas de ressaca, diminuir em
30% o risco de desidratação, melhorar a metabolização do álcool, reduzir no organismo
o consumo total de álcool, melhorar a qualidade do sono e reduzir problemas
gástricos.
Licores
Outro grupo de bebidas alcoólicas são os licores, que, em excesso, apresentam riscos específicos. “O consumo frequente de licores pode desencadear diversos problemas de saúde significativos, sendo particularmente preocupante a relação com o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e outras complicações metabólicas.
Uma análise publicada no Diabetes Care (2015), com dados de mais de 1,9 milhão de indivíduos, revelou que a combinação específica presente nos licores - álcool concentrado e alto teor de açúcar - apresenta riscos únicos para a saúde metabólica. Outro estudo EPIC-InterAct (2021), com 350 mil participantes europeus acompanhados por 12 anos, fortaleceu tais descobertas, demonstrando uma associação significativa entre o consumo regular de licores e alterações metabólicas importantes.
Outro fator relevante é a influência dos licores na saúde bucal. “Podem causar maior incidência de cáries devido ao açúcar e à acidez, erosão no esmalte dentário, alteração no pH bucal e gengivite”, afirma. Também levam a outros riscos específicos, tais como dependência química e psicológica, alterações no sono, problemas gastrointestinais e desequilíbrio hormonal.
Os licores também devem ser consumidos alternados com água. Neste
caso, a sugestão é 200ml de água para cada 30ml de licor. Bem como 500ml antes
do consumo e 500ml após. Meira recomenda que os licores sejam consumidos sempre
com alimentos e que se evite a mistura com outras bebidas alcoólicas. O teor
alcoólico varia de 15 a 55%.
Coquetéis e drinques
Se existe um grupo de bebidas alcoólicas considerado mais “perigoso”, é o de coquetéis e drinques, especialmente por suas composições complexas. Geralmente misturam múltiplos tipos de álcool, acarretando na interação entre os ingredientes. Alguns incluem estimulantes como café e energéticos, açúcar e outros aditivos.
Neste caso, um, no máximo dois drinques já são suficientes. Sem
contar que o médico recomenda intervalo de 1 hora entre dois drinques. Os
“efeitos colaterais” podem ser: intoxicação acelerada, desidratação severa,
sobrecarga hepática, ressaca intensificada, náusea e vômitos, tonturas
prolongadas, alterações de pressão, blackouts, arritmias cardíacas e desmaios.
“Para prevenir eventuais efeitos dessas combinações, prefira drinques menos
alcoólicos, alterne com água na mesma proporção, conheça os ingredientes, evite
aqueles desconhecidos e consuma junto com alimentos”, sugere.
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