Os noticiários da última semana foram tomados pelo anúncio da taxação da importação de aço e alumínio pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. A tarifa de importação dos metais, que será de 25%, pode impactar diretamente a economia do Brasil, que é o segundo maior fornecedor dessas mercadorias para os estadunidenses, ficando atrás somente do Canadá. Além disso, o presidente dos EUA já informou que pretende aplicar as chamadas "tarifas recíprocas", o que pode causar um aumento na taxa de importação do etanol, visto que o Brasil cobra 18% de exportação da substância, enquanto os norte-americanos cobram 2,5%.
O setor siderúrgico dos Estados Unidos
enfrenta grandes problemas em relação à concorrência externa, muito em virtude
de uma falta de qualidade do minério local, o que explica a postura do
presidente na imposição dessas taxações de importação. "Em um contexto de
grande competição com os chineses e receios de um declínio econômico, Trump
tenta garantir alguma vantagem para setores considerados críticos para a
segurança nacional estadunidense", explica o doutor em Internacionalização
e Estratégia e especialista em Negócios Internacionais, João Alfredo Lopes
Nyegray. Ele aponta que, desde a primeira campanha presidencial de Trump, há
uma orientação protecionista que visa defender indústrias domésticas
consideradas estratégicas para o país.
Principais impactos na economia do
Brasil
Essas tarifas são preocupantes para a
economia brasileira, visto que acabam encarecendo os produtos no mercado
norte-americano, causando uma possível queda nas exportações. Além do viés
econômico, a queda nas negociações entre os dois países pode ser um gatilho
para gerar problemas diplomáticos, conforme aponta João Alfredo. "Embora
historicamente Brasil e EUA tenham um forte componente comercial, essas tarifas
unilaterais podem estimular uma eventual retaliação do governo brasileiro às
importações de produtos estadunidenses, afetando as relações comerciais num
futuro próximo."
O setor siderúrgico brasileiro é
altamente integrado ao setor norte-americano e pode sofrer uma redução
significativa nas vendas, afetando a balança comercial brasileira e podendo
causar o fechamento de postos de trabalho. O especialista revela que uma das
saídas para evitar esses impactos é buscar uma maior aproximação com outros
parceiros, como a China, a Índia ou países da União Europeia. No entanto, em
caso de queda do fluxo de dólares proveniente das exportações de aço e
alumínio, o real pode se desvalorizar ainda mais, aumentando a volatilidade
cambial. "Pensando nisso, há uma necessidade de o Brasil diversificar seus
mercados, o que não é algo fácil, principalmente na mesma escala de demanda dos
Estados Unidos", alerta.
Outras prováveis taxações
Pensando no futuro, João Alfredo
acredita que há, sim, o potencial para que outros produtos exportados pelo
Brasil recebam sobretaxas estadunidenses, principalmente produtos agrícolas.
"Como o Brasil é um grande concorrente dos EUA em commodities como soja,
milho e carnes, as medidas protecionistas de Trump podem se estender para esse
tipo de produto numa tentativa de defender seus produtores rurais, que são uma base
eleitoral importante para os republicanos", explica o especialista.
Possíveis medidas compensatórias
Embora não seja fácil e rápido
compensar essa provável diminuição da exportação de produtos para os Estados
Unidos, é fundamental expandir e aprofundar acordos com outros parceiros
estratégicos. Investir em promoção comercial e participar ativamente de setores
em crescimento, como a indústria ESG, são medidas que podem ajudar a diminuir a
dependência do Brasil em relação a determinados produtos enviados para os
estadunidenses. "Além disso, é importante agregar valor e inovação,
estimulando cadeias produtivas locais para enviar ao exterior produtos que
tenham maior valor. Isso passa necessariamente pelo investimento em pesquisa,
desenvolvimento e pela necessidade de competitividade", detalha o
especialista, que finaliza indicando que o Brasil deve utilizar mecanismos de
solução de controvérsias, especialmente da Organização Mundial do Comércio,
para tentar reduzir os efeitos que essas tarifas podem ter sobre o mercado
interno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário