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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Câncer de mama e mamografia: a saga continua

Médicos e autoridades da saúde seguem divergindo quanto a faixa etária e a periodicidade da realização do exame 

 

As divergências que já vêm de longa data voltaram à tona há alguns dias, quando a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fez consulta pública sobre as atualizações do Manual de Boas Práticas em Atenção Oncológica, usado no Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde. Órgão regulador dos planos de saúde, cabe à ANS fiscalizar o serviço prestado e criar normas e outras iniciativas que melhorem o atendimento à população. Para autoridades públicas, como o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o ideal é que a mamografia seja feita a cada dois anos por todas as mulheres entre 50 e 69 anos. Entretanto, algumas entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), preconiza que o exame seja anual a partir dos 40 anos.

De acordo com a Dra. Maria Julia Gregorio Calas, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Rio de Janeiro, há décadas a realização da mamografia é motivo de preocupação, pois, historicamente o rastreamento mamográfico no país, tendo a mamografia como exame mais eficaz para o diagnóstico precoce do câncer de mama, se mantém abaixo dos 70% de cobertura populacional, preconizado pela Organização Mundial de Saúde. “Não foram poucos os levantamentos feitos ao longo dos anos que comprovaram esse déficit. O acesso é um problema crônico e a discussão da periodicidade é tudo que não precisamos, pois primeiro temos que potencializar a acessibilidade das mulheres ao exame”, alerta a mastologista.

Maria Julia lembra um levantamento realizado pela Dr. Sandra Gigoia, membro da SBM Rio, através do DataSus, constatando que a cobertura nacional era baixa. Nas Regiões Sul e Sudeste a piora dos resultados no período de 2013 a 2018 foram notórias. Segundo ela, teoricamente são duas regiões que deveriam servir de exemplo para o resto do país, pois contam com grandes centros de atendimento e detêm um corpo médico muito maior, além de contemplarem maior distribuição de mamógrafos. “É inacreditável grandes centros amargarem um índice baixo de realização desse exame tão importante para as mulheres em pleno século XXI”, afirma indignada.

Maria Julia sugere alguns caminhos para os gestores públicos aumentarem a cobertura mamográfica de forma organizada. Primeiro a conscientização da população sobre a mastologia enquanto especialidade que cuida da saúde das mamas (mais de 70% da população não sabe disso), segundo ajustar o fluxo do atendimento, diminuindo o tempo para a realização da mamografia, do diagnóstico (biópsia) e do início de tratamento. “Não precisamos mais de leis, mas, sim, que as existentes sejam cumpridas. Todo cidadão tem direito à saúde. Está na Constituição. Tem lei que garante a mulher o direito de realizar a mamografia. Lei que prevê o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico, entre outras. Mas, infelizmente, não é bem isso que acontece”, alerta novamente a médica. 

A presidente da SBM Rio lembra que a introdução do rastreamento mamográfico organizado tem diminuído drasticamente a mortalidade por câncer de mama em muitos países. Para ela, pelas dimensões territoriais do Brasil, há uma complexidade, porém, com ações coordenadas é possível melhorar o acesso das mulheres à prevenção e o tratamento. “A nossa dificuldade não é em relação ao número de mamógrafos, pois há equipamentos em número suficiente, embora a grande maioria seja de tecnologia ultrapassada (CR). O que precisamos é aumentar a cobertura, através de organização, com melhor fluxo para a navegação das pacientes e capacitação contínua dos profissionais. Isso otimizaria os recursos já existentes e proporcionaria resultados significativos com melhor eficiência, menor impacto financeiro e, acima de tudo, minimizando a mortalidade”, conclui.

 

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