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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Alimentação inadequada e pouca ingestão de líquidos aumenta incidência de cálculo renal nas crianças e preocupa especialistas

No 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, que ocorre essa semana, em Salvador, pesquisadores discutem o tema, além de orientar tratamentos e tratar sobre o papel central dos exames laboratoriais no diagnóstico de nefrolitíase, na Mesa redonda ´Laboratório em pediatria'.


 

A segurança alimentar de crianças ainda é um grande desafio mundial a se transpor. A alimentação de baixa qualidade, a pouca ingestão de água, e a falta de acesso a tratamentos médicos - característica de países subdesenvolvidos - faz com que a conhecida enfermidade ‘pedra nos rins’, ou seja, a nefrolitíase, venha sendo cada vez mais observada em crianças nascidas em países com baixos indicadores sociais e econômicos. E o grande problema é que surgindo na infância, o risco de formação de cálculos ao longo da vida é elevado. 

A correlação entre a saúde renal infantil e o cenário socioeconômico no qual a família está inserida, é uma das discussões que serão tratadas na Mesa Redonda com o tema ‘Laboratório em Pediatria’, no 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, no dia 11/09, pelo professor Adagmar Andriolo, uma das maiores referências no Brasil quando o assunto é medicina laboratorial. Médico formado pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e professor titular na mesma instituição, o doutor em Patologia Clínica atesta que a dificuldade no diagnóstico de pacientes pediátricos pode ser atenuada por indicadores laboratoriais. 

Segundo o Dr Andriolo, o tipo de nefrolitíase nas crianças também difere de acordo com o contexto socioeconômico no qual ela se insere. “Uma das frentes que vamos tratar nessa mesa redonda é a diferença do tipo de acometimento da cálculos em crianças em países menos desenvolvidos. Nos países menos desenvolvidos, as crianças têm, mais frequentemente, a formação de cálculo associado à infecção urinária, cálculos em porções mais baixas do trato urinário, ou seja, no ureter e na bexiga. Já nos países mais desenvolvidos, a formação de cálculo está mais relacionada a causas metabólicas, como erros inatos do metabolismo e distúrbios dietéticos, com formação de cálculos em posições mais altas das vias urinárias e nos rins”, explica ele. 

Entre as anormalidades metabólicas citadas pelo médico, a hipercalciúria – alta excreção de cálcio na urina – é observada em cerca de 40% dos casos de formação de cálculos em crianças. De acordo com o professor, anomalias anatômicas, fatores ambientais, distúrbios genéticos e processos infecciosos também estão associados com os casos.
 
Conforme avalia o dr. Andriolo, esse perfil de adoecimento está relacionado com o desenvolvimento socioeconômico do país e não necessariamente com a faixa etária, já que a doença se comporta da mesma maneira em jovens e adultos. Segundo o professor, isso está diretamente conectado com a falta de acesso a serviços de saúde pública. 

“Em países como o Brasil, muitas vezes, as infecções urinárias não são tratadas como deveriam. Os pacientes não chegam a ter acesso aos antibióticos ou não fazem o tratamento pelo tempo necessário para acabar com a infecção”, relata.
 

Exames laboratoriais: Aliado poderoso em diagnóstico pediátrico 

A dificuldade no diagnóstico se dá justamente pelo fato de que pacientes pediátricos não conseguem se expressar muito bem verbalmente. Por esta razão, o professor reforça a necessidade de o médico traçar o histórico de saúde familiar, atentando para o fato de haver familiares com cálculos ou doenças renais. 

“Além do exame físico detalhado, o médico também deve se informar sobre hábitos alimentares e de ingestão de água da criança, bem como a ocorrência de infecção urinária de repetição”. 

Quando há suspeita clínica, a tomografia de abdômen e o exame de urina de rotina são os mais eficazes na detecção, independentemente da posição em que se encontram os cálculos. O médico ressalta a importância de se obter o cálculo para avaliar sua composição química, o que pode orientar o tratamento. Exames mais específicos devem ser realizados após ter passado a crise aguda e têm a finalidade de avaliar o metabolismo, principalmente, ou seja, as substâncias que formam a pedra, que podem ser, em sua maioria, cálcio, oxalato e ácido úrico. Em função disso, as dietas são propostas de forma mais assertiva.
 

Tratamento:

O tratamento depende da natureza e da causa do cálculo, mas o aumento da ingestão hídrica é uma orientação geral que auxilia muito no controle das recorrências. Além disso, a dieta com controle da ingestão de gorduras, sal e açúcar também são fundamentais.

 

Sobre o Congresso:

Entre os dias 10 e 13 de setembro, Salvador vai sediar o 56º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial - no Centro de Convenções da cidade. Reconhecido como o maior congresso do setor na América Latina, o evento de 2024 tem como tema central 'O Papel da Patologia Clínica na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde'. Este tema destaca os desafios contemporâneos enfrentados pela saúde pública e privada no pós-pandemia, promovendo discussões científicas alinhadas à urgência de tornar os sistemas de saúde mais eficientes e sustentáveis. As inscrições estão abertas. 

O congresso será palco para discussões sobre inteligência artificial (IA) e sua aplicação na medicina laboratorial. De acordo com Fábio Sodré, médico patologista clínico, diretor regional da SBPC/ML e presidente do congresso, a IA tem se mostrado uma ferramenta poderosa na identificação de padrões, agilização de exames e otimização de recursos. "Teremos uma grande variedade de palestras sobre IA, abrangendo diversos aspectos para melhorar o atendimento nos laboratórios clínicos", destaca Sodré.

Outras áreas de destaque incluem diagnósticos moleculares e genéticos, Bioquímica, Microbiologia, Hematologia, Testes Laboratoriais Remotos, qualidade assistencial e segurança do paciente. O evento contará com mesas redondas, workshops e palestras sobre temas como gestão de laboratórios, relacionamento com operadoras de saúde e regulação do setor. 

O 56º Congresso da SBPC/ML busca atender tanto os profissionais da bancada quanto os estrategistas de inovação. Serão dez salas de aula com palestras simultâneas, além de workshops e arenas promovidas pela indústria diagnóstica. A área de expositores será a maior da história do congresso, com 4.200 metros quadrados. 

Fábio Sodré, conta que, entre os palestrantes de destaque, para as conferências magnas, está Luiz Cláudio Lemos Correia, mestre em saúde pública pela Johns Hopkins University e pesquisador da Emory University. "Ele vai abordar a utilização racional dos recursos em saúde. Sua experiência com a metodologia Choosing Wisely, que promove o uso adequado dos recursos médicos, promete trazer insights valiosos para os participantes", ressaltou Fábio Sodré. 

Outro nome de peso e que também fará conferência magna é o Alysson Muotri, professor da Universidade de San Diego e especialista em organoides cerebrais, revelou Fábio. "Muotri apresentará suas pesquisas inovadoras que mimetizam o comportamento do cérebro humano em modelos reduzidos, oferecendo novas perspectivas para o estudo de doenças neurológicas." 

Confira no site a grade completa de Mesas Redondas, Encontro com Especialistas, Cursos Pré-Congresso, Atividades de Empresas, entre outros eventos, como cerimônia de abertura, festa de encerramento e palestras.


 

SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial



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