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sexta-feira, 12 de julho de 2024

Consumo excessivo de medicamentos e vitaminas gera lesões no fígado

Consumo excessivo de suplementação vitamínica e uso de
medicamentos sem indicação médica pode levar a sérios
problemas no fígado.
Crédito: Divulgação / Cighep
Médicos hepatologistas e nefrologistas têm recebido cada vez mais pacientes com fígado e rins lesionados pelo consumo, errado ou sem necessidade, de remédios e vitaminas

 

O consumo indiscriminado de medicamentos e suplementos vitamínicos sem necessidade médica está se tornando uma preocupação crescente entre os profissionais de saúde. Pacientes com lesões e intoxicação no fígado (hepatotoxicidade) geradas pelo uso destas substâncias já são maioria nos consultórios de hepatologistas e nefrologistas. 

A Dra. Daphne Morsoletto, hepatologista do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), que fica no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, alerta para os riscos. “Estamos vendo muitos pacientes saudáveis, sem comorbidades, mas que estão usando um excesso de substâncias sem saber dos riscos que correm, por imaginarem que vitaminas e fitoterápicos são naturais e não fazem mal algum", explica. 

Entre os riscos estão esteatose hepática, colestase, perda de função hepática, inflamação e até câncer, já que é no fígado que as substâncias são processadas. 

Ela relata um caso em particular que atendeu há algumas semanas, onde uma paciente com intoxicação hepática consumia 66 substâncias diferentes todo dia, incluindo medicamentos manipulados (uma só cápsula pode conter até 10 substâncias diferentes), fitoterápicos e hormônios. Tudo sob prescrição médica, o que demonstra a inabilidade de alguns médicos ao prescrever suplementação. Sem contar os pacientes que fazem isso por conta própria, sem orientação profissional.

 

Farmácia “fácil”

No Brasil, o acesso facilitado a medicamentos é um grande problema. Em outros países, mostra a profissional, os medicamentos são vendidos por unidade, na quantia necessária ao tratamento. “No Brasil se vendem caixas fechadas. O que sobra o paciente guarda para usar depois, para não perder o dinheiro”, lamenta a médica. 

Outra questão é a venda de medicamentos com tarja vermelha que, na teoria, só deveriam ser comercializados com prescrição médica. Mas, na prática, as farmácias não exigem receita. 

Outro ponto crítico levantado pela hepatologista é a automedicação com fitoterápicos e a mistura de drogas, as chamadas interações medicamentosas. “Produtos naturais também oferecem riscos, pois podem anular ou aumentar o efeito de outras substâncias. O paciente pode estar em quimioterapia, por exemplo, e tomando um fitoterápico que anula o efeito do medicamento que trata o câncer. Olha o risco”, alerta. 

A médica tem visto duas situações “conflitantes” com frequência no consultório. “A estatina é uma substância que revolucionou a história da medicina. Ela reduz o risco de doenças cardiovasculares e ajuda a reduzir o colesterol. Estudos científicos comprovam que é muito segura. Alguns pacientes não querem tomar porque acham perigoso. Mas não tem medo algum de ingerir produtos naturais que consideram inofensivos, vitaminas ou anabolizantes para ganho de massa muscular, que fazem muito mal ao fígado e aos rins”, lamenta a médica.

 

Antiinflamatórios

Uma pesquisa feita pela Cosap Internacional, uma auditoria em saúde, mostra que os medicamentos mais prescritos no Brasil são amoxicilina (antibiótico), escitalopram (antidepressivo), azitromicina (antibiótico), cefalexina (antibiótico), losartana (para pressão alta), alprazolam (ansiolítico), sinvastatina (para colesterol). 

Apesar da listagem, a hepatologista acredita que o medicamento mais vendido é o antiinflamatório. Só não está na lista porque, como pode ser comprado sem receita, não foi rastreado pela pesquisa. 

Mas o uso deles é altamente tóxico para o fígado. “Muitas pessoas sentem dor e pulam diretamente para antiinflamatórios, antes de considerar analgésicos comuns, por acharem que são mais potentes”, expõe a Dra. Daphne. 

Além dos antiinflamatórios, a hepatologista tem outra preocupação. “Nós também utilizamos muito antibiótico sem necessidade. O nosso sistema imune é muito mais poderoso do que a gente imagina”, ressalta. 

A Dra. Daphne destaca que os médicos devem orientar os pacientes a evitar a automedicação e só consumir remédios e vitaminas quando necessário. “Quando a gente faz a formatura de Medicina, uma parte do juramento está: ‘Não induzir o mal ao paciente’. Então se paciente é saudável e você oferece algo potencialmente tóxico, para melhorar o que já está bom, isso é antiético. Suplementação é para casos muito específicos”, ressalta.


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