Crianças cujas mães
estão em burnout podem apresentar mais problemas comportamentais e emocionais
O burnout materno é um fenômeno
que ganha crescente atenção nas últimas décadas, à
medida que mais se reconhece o impacto psicológico e emocional da maternidade
na saúde mental das mulheres. Este tipo de esgotamento não é restrito às mães
trabalhadoras, como é frequentemente associado ao burnout profissional, mas
envolve todas as mães, incluindo aquelas que se dedicam integralmente ao
cuidado dos filhos.
“A condição é caracterizada por sintomas como
exaustão extrema, distanciamento emocional dos filhos, irritabilidade, insônia,
falta de prazer nas atividades diárias e uma sensação de ineficácia e desespero
no papel materno”, explica o neuropsicólogo Aslan Alves.
O profissional enfatiza que o burnout materno
pode ser particularmente intenso para mães de filhos atípicos, ou seja, com
necessidades especiais, sejam elas relacionadas ao neurodesenvolvimento ou
condições neurológicas.
“Crianças com autismo, síndrome de Down, TDAH,
paralisia cerebral, entre outras condições, requerem uma atenção e cuidado
contínuos e, muitas vezes, intensos. A constante demanda por cuidados
especializados, a necessidade de interagir com múltiplos profissionais de
saúde, a gestão de terapias e tratamentos, a preocupação constante com o
bem-estar e desenvolvimento da criança podem levar a um nível de estresse
crônico muito elevado”, esclarece.
Para essas mães, o suporte social pode ser
insuficiente. Elas frequentemente se encontram isoladas, seja por falta de
compreensão de familiares e amigos, ou pela dificuldade em participar de
atividades sociais comuns devido às necessidades especiais de seus filhos. Esse
isolamento social pode intensificar a sensação de sobrecarga e esgotamento.
Além disso, a falta de tempo para cuidar de si mesmas e a culpa por sentir
cansaço ou frustração podem agravar ainda mais o quadro de burnout.
“Mães de filhos típicos, ou seja, aquelas cujas
crianças não possuem necessidades especiais específicas, também podem sofrer de
burnout materno, embora os fatores desencadeantes possam ser diferentes. A
pressão para equilibrar o trabalho, o cuidado com os filhos e as tarefas
domésticas, além da expectativa social de serem mães perfeitas, pode ser
esmagadora. A falta de políticas de apoio à maternidade, como licença
maternidade adequada e flexibilidade no trabalho, contribui para esse cenário.
A competição nas redes sociais, em que muitas mães se sentem compelidas a
mostrar uma imagem idealizada da maternidade, também pode aumentar a sensação
de inadequação e esgotamento”, lembra Aslan.
O burnout materno, seja em mães de filhos
atípicos ou típicos, tem implicações profundas não apenas para a saúde mental
das mães, mas também para o desenvolvimento e bem-estar dos filhos. Crianças
cujas mães estão em burnout podem apresentar mais problemas comportamentais e
emocionais, refletindo o impacto negativo do ambiente familiar estressante.
Para combater o burnout materno, Aslan Alves
orienta: “é fundamental um apoio mais robusto e abrangente. Isso inclui políticas
públicas que ofereçam suporte real às mães, programas de intervenção e
prevenção, e uma rede de apoio social mais forte. A conscientização e a
desestigmatização da condição também são passos importantes, permitindo que
mais mães busquem ajuda sem medo de julgamento. Promover o autocuidado e a
saúde mental das mães é fundamental para garantir o bem-estar de toda a
família, criando um ambiente mais saudável e equilibrado para todos”.
A luta contra o burnout materno exige uma
abrangência na abordagem capaz de reconhecer as diversas necessidades das mães,
em diferentes contextos. É importante ter um investimento em programas de apoio
psicológico, que ofereçam espaços seguros para as mães compartilharem suas
experiências e desafios, sem receio de julgamentos. Grupos de apoio, terapia
individual ou em grupo e workshops sobre gestão do estresse e técnicas de
relaxamento também trazem resultados positivos. Além disso, é necessário que as
famílias e parceiros se envolvam ativamente no apoio às mães, dividindo responsabilidades
e oferecendo reconhecimento pelo trabalho diário que realizam.
“A valorização do papel materno na sociedade e a criação de uma cultura de empatia e suporte podem aliviar significativamente a pressão que muitas mães sentem. As mães devem entender a importância de buscar ajuda profissional quando necessário, colocando sua saúde mental como prioridade, pois dela depende a harmonia e a saúde da família”, completa Alves.
Aslan Alves - CPR 05/54575 - Psicólogo com pós-graduação em Neuropsicologia, especialista no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com mais de cinco anos de experiência, atualmente dedica-se ao atendimento com abordagem da TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) e à realização de avaliações neuropsicológicas detalhadas para crianças e adultos, com desenvolvimento de protocolos personalizados para avaliação psicológica e neuropsicológica. Atuou como coordenador do setor de Neuropsicologia em clínica de saúde mental e trabalhou na linha de frente contra a COVID-19, oferecendo suporte vital aos setores clínicos, CTI e emergência durante a crise sanitária.
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