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sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Obesidade abdominal associada a fraqueza muscular eleva em 85% o risco de morte por doença cardiovascula

 

Conclusão é de pesquisadores da UFSCar e da University College London
que acompanharam durante oito anos 7.030 pessoas com 50 anos ou mais
rawpixel/Freepik

Obesidade abdominal e fraqueza muscular, quando associadas, aumentam em 85% o risco de morte por doenças cardiovasculares em pessoas com mais de 50 anos. A constatação é de pesquisadores das universidades de São Carlos (UFSCar) e College London (Reino Unido) que acompanharam durante oito anos 7.030 participantes do English Longitudinal Study of Ageing (Estudo ELSA) com 50 anos ou mais de idade.

"A fraqueza muscular em si aumenta em 62% o risco de morte por doença cardiovascular. No entanto, quando analisamos os dois fatores juntos – obesidade abdominal e fraqueza muscular – observamos que o risco de morte por doença cardiovascular aumenta para 85%. Curiosamente, as pessoas analisadas que tinham apenas gordura abdominal não apresentaram um aumento significativo no risco de morte cardiovascular", conta Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo apoiado pela FAPESP.

Um trabalho anterior, que envolveu 6.173 participantes do ELSA e do Estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), realizado em São Paulo, já havia demonstrado que a obesidade abdominal dinapênica (a combinação de obesidade abdominal e fraqueza muscular) aumentava em 37% o risco de mortalidade geral. Da mesma forma, as pessoas analisadas que tinham apenas gordura abdominal não apresentaram um aumento significativo no risco de mortalidade geral. No entanto, ainda não estava estabelecido naquele momento que a obesidade abdominal dinapênica aumentava também especificamente o risco de mortalidade cardiovascular (leia mais em: agencia.fapesp.br/39452/).

Neste novo artigo, divulgado na revista Age and Ageing, os pesquisadores explicam que a obesidade abdominal dinapênica aumenta o risco de morte por doenças cardiovasculares porque a gordura gera uma inflamação crônica. "Já demonstramos que a gordura abdominal é um fator de risco para a fraqueza muscular. Isso porque a gordura prejudica o músculo. Mas ainda não sabemos o que vem antes: a obesidade ou a fraqueza. De qualquer forma, são componentes sinérgicos, pois geram mioesteatose, que é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura dentro da musculatura esquelética. E essa condição amplifica a inflamação, prejudicando o metabolismo do indivíduo e aumentando o risco de doença cardiovascular", explica Alexandre.

Basicamente, a obesidade mantém o sistema imunológico constantemente em alerta, ativando células de defesa como os macrófagos, mastócitos e linfócitos T. Como resultado, pode ocorrer uma inflamação crônica moderada conhecida como metaiflamação, que acarreta resistência à insulina, inibição da síntese proteica e aumento do catabolismo muscular – quando o corpo passa a obter energia a partir das próprias fibras musculares.

Já a dinapenia e a obesidade abdominal dinapênica podem resultar em maior disfunção da mitocôndria – organela responsável por fornecer energia às células –, bem como o aumento do estresse oxidativo, prejudicando o endotélio vascular e as células do músculo cardíaco responsáveis pelo permanente fluxo sanguíneo (cardiomiócitos), o que pode levar à aterosclerose e outras doenças cardíacas.

"Todos esses fatores prejudicam o metabolismo e aumentam o risco de incidência de doenças cardiovasculares e, por consequência, o risco de morte por essas doenças", explica Paula Camila Ramírez, autora do artigo que é fruto de seu trabalho de doutorado.

No estudo, o diagnóstico de obesidade abdominal dinapênica foi feito com base na circunferência de cintura maior que 102 centímetros para homens e maior que 88 centímetros para mulheres. Já a fraqueza muscular (dinapenia) foi medida usando como referência a força da mão – menor que 26 quilos para homens e menor que 16 quilos para mulheres –, que é medida por um aparelho chamado dinamômetro.

Paradoxo da obesidade

No estudo, os pesquisadores surpreendentemente não encontraram aumento significativo de risco por morte cardiovascular para os indivíduos que apresentavam apenas obesidade abdominal (e não tinham fraqueza muscular). Os resultados do estudo contribuem para um conceito que vem sendo abordado por especialistas que se chama "paradoxo da obesidade".

"Sabe-se, e os nossos números comprovam isso, que pessoas obesas têm maior risco de apresentar doenças cardiovasculares e menor risco de morrer por isso. Isso configura o que a literatura tem chamado de ‘paradoxo da obesidade’, algo ainda controverso, mas com explicações bem plausíveis para o nosso achado. Uma das explicações está [na hipótese de] a gordura servir como uma reserva energética muito útil para o paciente com doenças cardíacas. Outro fator é que as pessoas obesas que preservam o músculo, ou seja, que ainda têm massa muscular, têm o metabolismo menos afetado do que as que perdem músculo e força", explica Ramírez.

"O nosso achado coloca mais um tijolinho na construção do paradoxo da obesidade. Mostramos que a questão não é só a quantidade de gordura, mas sim a quantidade de gordura e a condição desse músculo ser capaz de gerar força. Pois, quando está com gordura infiltrada [mioesteatose], ele já enfraqueceu e isso gera uma tempestade perfeita para o aumento de risco de morte cardiovascular", afirma Alexandre.

Além de apontar para os maiores fatores de risco para morte por doença cardiovascular, o estudo também serve de alerta. "A obesidade abdominal dinapênica é uma condição completamente reversível que pode ser tratada com treinamento aeróbio, exercício de ganho de força muscular e alimentação adequada", diz Alexandre.

O artigo Is dynapenic abdominal obesity a risk factor for cardiovascular mortality? A competing risk analysis pode ser lido em: https://academic.oup.com/ageing/article/52/1/afac301/6966518?login=false.

 

Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/obesidade-abdominal-associada-a-fraqueza-muscular-eleva-em-85-o-risco-de-morte-por-doenca-cardiovascular/42053/


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