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segunda-feira, 17 de julho de 2023

Elitizar é preciso. Massificar é perigoso


Clama-se por igualdade, num impreciso conceito que arrisca desfocar da verdadeira e obrigatória missão: ofertar iguais oportunidades a todos, desde cedo e através do pleno acesso à educação. Enfim, assumida tal prioridade, cada indivíduo reagirá ao estímulo ou investimento da sociedade a seu modo.

 

Sem propor classificações, julgamento de mérito ou valor, existe uma série de formas de inteligência e de aptidão, inatas ou adquiridas, a serem desenvolvidas, sendo que algumas atividades repercutem mais ou menos na vida dos demais cidadãos, mas em geral não matam, e sua aceitação é determinada pela população, com baixo risco.

 

Já várias outras áreas, dentre elas a Medicina, deveria ser mais que óbvio, não toleram a incompetência, que representa perigo, dano e morte. E o fracasso na formação custa caro, social, afetiva e economicamente.

 

Nesse sentido, elitizar é fundamental, e faz bem à saúde. Selecionar e formar uma elite é defendido em muitos campos de forma mais natural, por exemplo ao avaliar os melhores nos esportes, nas artes e nas ciências, vide os prêmios de teatro e cinema, e os que legitimamente representam a nação nas olimpíadas, sejam atléticas ou matemáticas. E frise-se, dar acesso geral na infância à boa formação é fundamental direito e obrigação.

 

E a Medicina, sem pretender arrogância ou superioridade, não deve ser massificada. Nosso sistema educacional superior precisa ser seletivo e vigiado com máximo rigor para praticar a excelência técnica e ética. Devemos restringir o exercício dessa vital profissão somente aos que demonstrem que de fato são capazes tecnica e emocionalmente de acolher, diagnosticar e tratar de pessoas. A relação feita de dedicação e confiança deve ser valorizada, senão exigida.

 

Tanto nas escolas públicas quanto nas privadas, aos que não possam pagar e aos que podem, o justo suporte acadêmico e financeiro pode ser diverso, mas deve-se considerar essencial tratar de forma idêntica a seleção na admissão, a cobrança de desempenho ao longo do curso e a comprovação de amplas habilidades ao final.

 

Se nosso país seguir criando faculdades em massa, tolerando que sejam mal estruturadas, não reprovem e formem “sub-médicos” para atender interesses impublicáveis, caminhamos para piorar a qualidade da saúde da população. E a busca e escolha de um bom médico (competente, empático e acessível), que todos desejamos e merecemos no momento da doença, irá se tornar uma tarefa cada vez mais difícil…




Marcos Sarvat - médico e professor da UNIRIO


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