Clama-se por igualdade, num impreciso
conceito que arrisca desfocar da verdadeira e obrigatória missão: ofertar
iguais oportunidades a todos, desde cedo e através do pleno acesso à educação.
Enfim, assumida tal prioridade, cada indivíduo reagirá ao estímulo ou
investimento da sociedade a seu modo.
Sem propor classificações, julgamento de
mérito ou valor, existe uma série de formas de inteligência e de aptidão,
inatas ou adquiridas, a serem desenvolvidas, sendo que algumas atividades
repercutem mais ou menos na vida dos demais cidadãos, mas em geral não matam, e
sua aceitação é determinada pela população, com baixo risco.
Já várias outras áreas, dentre elas a
Medicina, deveria ser mais que óbvio, não toleram a incompetência, que
representa perigo, dano e morte. E o fracasso na formação custa caro, social, afetiva
e economicamente.
Nesse sentido, elitizar é fundamental, e
faz bem à saúde. Selecionar e formar uma elite é defendido em muitos campos de
forma mais natural, por exemplo ao avaliar os melhores nos esportes, nas artes
e nas ciências, vide os prêmios de teatro e cinema, e os que legitimamente
representam a nação nas olimpíadas, sejam atléticas ou matemáticas. E frise-se,
dar acesso geral na infância à boa formação é fundamental direito e obrigação.
E a Medicina, sem pretender arrogância ou
superioridade, não deve ser massificada. Nosso sistema educacional superior
precisa ser seletivo e vigiado com máximo rigor para praticar a excelência
técnica e ética. Devemos restringir o exercício dessa vital profissão somente
aos que demonstrem que de fato são capazes tecnica e emocionalmente de acolher,
diagnosticar e tratar de pessoas. A relação feita de dedicação e confiança deve
ser valorizada, senão exigida.
Tanto nas escolas públicas quanto nas
privadas, aos que não possam pagar e aos que podem, o justo suporte acadêmico e
financeiro pode ser diverso, mas deve-se considerar essencial tratar de forma
idêntica a seleção na admissão, a cobrança de desempenho ao longo do curso e a
comprovação de amplas habilidades ao final.
Se nosso país seguir criando faculdades em massa, tolerando que sejam mal estruturadas, não reprovem e formem “sub-médicos” para atender interesses impublicáveis, caminhamos para piorar a qualidade da saúde da população. E a busca e escolha de um bom médico (competente, empático e acessível), que todos desejamos e merecemos no momento da doença, irá se tornar uma tarefa cada vez mais difícil…
Marcos Sarvat - médico e professor da UNIRIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário