Fazer uma graduação pode desenvolver competências que preparam jovens para empreender. Recentemente, uma reportagem questionava a capacidade das instituições de ensino superior de desenvolverem conhecimentos e habilidades suficientes para incentivar o empreendedorismo. A reportagem se baseava em uma pesquisa realizada pela ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior - em parceria com a Educa Insights e relatava que somente 32% dos jovens pesquisados acham que a faculdade oferece cursos que estimulem os alunos a colocarem a mão na massa para desenvolver soluções inovadoras para velhos problemas. Assim, para reverterem essa percepção e serem capazes de prepararem os jovens para empreender, as próprias instituições de ensino precisam inovar no seu processo pedagógico.
Para
entendermos tal possibilidade, precisamos revisitar o que é empreendedorismo,
suas abordagens acadêmicas e as práticas pedagógicas que podem ser usadas para
atingir o objetivo de uma formação empreendedora.
Empreender é
essencialmente o processo de identificar oportunidades e criar soluções
inovadoras para aproveitar essas oportunidades. Tradicionalmente, as
instituições de ensino costumam preparar seus estudantes para descobrir uma
oportunidade, buscar recursos para o projeto e desenhar um plano para sua
implantação. A partir dessa abordagem, as decisões são tomadas de forma
racional com base em informações relevantes disponíveis e no cálculo da
expectativa de retorno oferecida por cada opção identificada e analisada. Como
produto dessa análise, os estudantes produzem um plano de negócios. Essa
abordagem é conhecida como Abordagem Causal.
Contudo, na
vida real, empreendedores não agem de forma tão racional. Em condições de
incerteza, empreendedores adotam uma lógica de decisão diferente do modelo
tradicional e racional. A lógica que prevalece é baseada no processo
experimental e no aprendizado interativo, onde o empreendedor busca encontrar a
melhor combinação dos meios que ele tem disponíveis. Eles partem do que
conhecem e de quem conhecem, interagindo com as pessoas que elas conhecem.
Nesse processo, o empreendedor experimenta, considera quais são as perdas
aceitáveis, é mais flexível e trabalha com pré-acordos com quem conhece. Ou
seja, não é um processo nem racional, muito menos linear. Essa abordagem é
chamada de Abordagem Effectual.
Embora as
duas abordagens sejam complementares, a abordagem effectual é muito mais
próxima da dinâmica real de empreendedorismo que a abordagem causal. O problema
é que tipicamente, as instituições de ensino preparam seus estudantes somente
para a abordagem causal.
Para
desenvolver a abordagem effectual em seus cursos, as instituições de ensino não
podem se basear em práticas pedagógicas que privilegiem somente a dimensão
cognitiva. As aulas tradicionais, que a reportagem em questão diz serem
baseadas em um saber enciclopédico, são conteudistas.
É então que
se faz urgente e necessário o desenvolvimento de práticas pedagógicas
inovadoras, as metodologias ativas. Para formar empreendedores, as instituições
de ensino precisam se preocupar em desenvolver competências e não somente
conhecimentos. Quando o foco muda para a competência, as estruturas
curriculares passam a considerar não somente os conhecimentos necessários, mas
precisam também desenvolver habilidades e atitudes. Algumas das metodologias
ativas mais indicadas para desenvolver as competências empreendedoras no ensino
superior são a Aprendizagem Baseada em Projetos e a Aprendizagem Baseada em
Problemas.
Nas duas
metodologias, os estudantes são confrontados com dilemas e precisam em grupo
criar soluções. Para tanto, desenvolvem habilidades e atitudes. Os estudantes
exercitam a autonomia porque se tornam protagonistas do seu processo de aprendizagem
e dos caminhos que seus projetos desenvolvem. Os estudantes precisam negociar
com outros atores os recursos necessários e, como os projetos são desenvolvidos
em grupo, precisam saber influenciar e mobilizar as pessoas. Praticam assim
também a capacidade de trabalharem em grupo. Precisam ser flexíveis e tomar
decisões com base em perdas aceitáveis. As atividades não privilegiam somente
as análises racionais, mas também o processo experimental. Por exemplo, como os
estudantes podem calcular a demanda de um negócio que ainda não existe? Ou como
calcular o preço considerando custos que ainda não se compreendem?
São fartos
os estudos que reforçam a importância da Hélice Tríplice para o fomento da
inovação e do empreendedorismo. A interação entre universidades, empresas e
governo é a chave para a inovação e o empreendedorismo, isso porque a
universidade é a geradora do conhecimento. Nesse sentido, desempenha papel
fundamental na transferência de tecnologia e na incubação de novas empresas.
Contudo, ela precisa assumir seu protagonismo na formação das mentes que
impulsionarão o empreendedorismo e para isso, a sala de aula precisa mudar com
a adoção de metodologias ativas que privilegiem o desenvolvimento de
competências empreendedoras. Não será somente com uma disciplina de
empreendedorismo, em uma sala de aula expositiva, que se forma um empreendedor.
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