Defensor público destaca ações importantes mas ressalta que muito ainda precisa ser feito para que os PcDs possam aproveitar melhor a festa
O carnaval mobiliza todos os anos milhões de pessoas em blocos de
rua, clubes e desfiles das escolas de samba. Mas será que a maior festa popular
do país é acessível a todos os brasileiros? Nas principais cidades onde a folia
acontece, muito além de pensar em qual fantasia usar, pessoas com deficiência
precisam levar em conta a acessibilidade nas ruas e nos locais da festa. E esse
é um público muito numeroso. Segundo o último Censo do IBGE, cerca de 24% dos
brasileiros declararam ter algum grau de deficiência em pelo menos uma das
habilidades investigadas - enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus -; ou
possui deficiência mental/ intelectual.
Para o Carnaval 2023, cidades como Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador e Recife, entre outras, vão oferecer muitas oportunidades para pessoas
com deficiência (PcDs) aproveitarem a Folia de Momo.
São Paulo, por exemplo, terá vários blocos formados ou
frequentados por PcDs. O “Sim, Podemos” é um
deles. O bloco foi criado para promover a igualdade e destacar a importância da
presença de pessoas com deficiência em todos os ambientes. Além disso, durante
o desfile haverá banheiros químicos acessíveis, Libras e audiodescrição para
que todos possam se divertir. Por parte da prefeitura paulistana, foi
lançada a 7ª Edição do “Samba Com as Mãos. A ação, que traduz sambas-enredo em
Libras, é realizada anualmente em parceria com a Liga Independente das Escolas
de Samba de São Paulo. A luta pela inclusão também ganhou espaço este ano no
Sambódromo do Anhembi. “Da Inclusão à Superação. Todos Somos Iguais. Sou um
Campeão” foi o tema do enredo da escola de samba Camisa 12. A agremiação,
oriunda da torcida organizada do Corinthians, foi a penúltima a desfilar no
Grupo de Acesso II, no sábado passado.
No Rio de Janeiro, a prefeitura está distribuindo 300 ingressos,
gratuitamente, para pessoas com deficiência acompanharem o desfile das escolas
de samba no Sambódromo da Sapucaí. Os convites para o Setor 13-PCD valem para
os dias de apresentação do Grupo Especial, Série Ouro e para o Sábado das
Campeãs. Vale ressaltar que a cidade já conta com a escola de samba Embaixadores
da Alegria, fundada em 2003 - a primeira agremiação inclusiva do carnaval
carioca.
Vários blocos também vão garantir acessibilidade no carnaval do
Rio, entre eles: “Tá Pirando, Pirado, Pirou!”; “Loucura”; e “Senta Que Eu Te
Empurro”. Já o “Sargento Pimenta” manterá intérpretes de Libras em seu trio. O
“Bangalafumenga” e o “Oficina da Alegria” também. Além disso, no carnaval
carioca serão instalados três mil e quatrocentos banheiros químicos específicos
para pessoas com deficiência ao longo do trajeto dos blocos de rua - 10% do
total que estará disponível para a população.
“Quando se trata de acessibilidade para pessoas com deficiência, o
carnaval ainda deixa a desejar, mas já vemos avanços. A enorme quantidade de
blocos existentes hoje no Brasil, que reúnem pessoas com e sem deficiência,
ajuda a dar visibilidade a essa população e ainda lança luz ao tema Inclusão,
de forma leve e descontraída. Vale destacar que nos Sambódromos do Rio e de São
Paulo já é realidade a presença de deficientes físicos e visuais como jurados e
funcionários, desde 2012. Isso ajuda a quebrar preconceitos e ainda abre espaço
para a cobrança de políticas públicas direcionadas a esse público”, ressalta o
defensor público federal André Naves, especialista em Direitos Humanos e
Sociais.
Naves lembra que o tema Acessibilidade e Inclusão já foi destaque
também de escolas de samba e blocos de outras regiões do país, como em Manaus.
“O Grêmio Recreativo Unidos do Alvorada já trouxe o samba-enredo “Oi, eu estou
aqui! Alvorada com um cromossomo a mais mostra que ser diferente é normal”,
homenageando pessoas com Síndrome de Down e mostrando a importância da inclusão
de pessoas com deficiência”, lembrou o defensor público, acrescentando que
também na cidade de Santos (SP), “a Escola de Samba Vila Mathias já desfilou
com uma ala inteiramente formada por pessoas com deficiência física, auditiva,
visual e intelectual; dentre tantos outros exemplos por todo o país”, conclui.
Inclusão no Carnaval 2023 em outros pontos do Brasil
Em Belo Horizonte, quatro blocos prometem animar foliões com
deficiência. Três desfilam no próximo sábado: “Apaetucada”, “US” e “Gato”; e o
bloco “Todo” desfila no domingo de carnaval.
Incentivar a inclusão no carnaval também é uma das tarefas da
prefeitura de Recife. Assim como em Olinda, a capital pernambucana vai oferecer
o Camarote da Acessibilidade para o desfile do Galo da Madrugada. Para a folia
deste ano, as inscrições para o camarote inclusivo, que tem capacidade para 300
pessoas, já estão acontecendo.
Em Salvador, também haverá camarotes acessíveis disponíveis às pessoas com deficiência. Nos espaços, os foliões poderão se divertir à vontade, com conforto e segurança, em uma estrutura que vai proporcionar inclusão e bem-estar. As inscrições são gratuitas.
Em São Luiz, no
Maranhão, dois dos maiores circuitos de carnaval da cidade recebem desde 2015
recursos para promover acessibilidade para pessoas com deficiência participarem
da folia sem se preocupar. O projeto Carnaval de Todos incentiva a
presença de pessoas com deficiência, oferecendo banheiros acessíveis, rampas
para deslocamento e intérprete de Libras.
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