Sugestões vão desde tocar o negócio ao estilo ‘arroz com feijão’, preservando o caixa, até colher e transformar dados de clientes em ações para conduzir o negócio
Na era de pandemia, expansão do
e-commerce e revolução digital, quais são os principais desafios para o varejo
brasileiro em 2023?
A pergunta foi feita pelo Diário
do Comércio para quatro consultores de varejo com a missão de
identificar tendências e contribuir para melhorar a performance do setor.
Evidentemente, Inflação e juros
altos precisam estar na conta das empresas no ano que vem, assim como a
perspectiva de uma economia com baixo crescimento.
Deixando um pouco de lado as
condições macroeconômicas do país, agora nas mãos do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, no que mais os comerciantes precisam prestar a atenção?
Para os consultores, mais uma
vez, a omnicanalidade, isto é, a integração de todos os canais de contato com o
cliente, aparece como essencial para o sucesso de uma loja.
“O varejo, para ser
competitivo, tem de ser eficiente no on-line e no off-line”, afirma Luiz
Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls.
As lojas não podem mais, de
acordo com ele, se dar ao luxo de só vender produtos. “Elas têm de oferecer
serviços e ainda funcionar como mini centros de distribuição.”
Para ele, programas de
fidelidade também devem fazer parte do dia-a-dia do comerciante.
É a partir desses programas, de
acordo com Marinho, que se forma uma base de dados para conhecer e interagir
com a clientela, tornando o negócio promissor.
As marcas estarão mais
presentes no mundo digital, com e-commerce, lives, programas de compra em redes
sociais, buscando interferir na jornada do consumidor.
“A loja tem de ir até o consumidor,
onde ele estiver, e não esperar por ele.”
Grandes marcas devem continuar
se juntando, diz ele, em um movimento que deve tornar os lojistas independentes
mais frágeis, com mais dificuldade para competir.
Um exemplo é o grupo Soma, que
reúne as marcas Farm, Fabula, Animale, Cris Barros, Foxton, NV, Maria Filó, Off
Premium, Hering, que já demonstrou apetite para mais aquisições em 2023.
É fato também, de acordo com
Marinho, que os comerciantes em geral têm hoje mais oportunidades de negócios,
podendo ir para ruas, shoppings, aeroportos, strip malls.
DADOS DOS
CLIENTES
Maurício Morgado, líder do
FGVcev - Centro de Excelência em Varejo da FGV, destaca a ‘leitura’ de dados de
clientes como grande desafio dos comerciantes nos próximos anos.
“A grande dificuldade será
transformar toda essa parafernália de dados dos consumidores em informações
úteis para o negócio. Não adianta ter dados e não saber usá-los.”
Será que um consumidor que
compra mais produtos na linha de comida italiana, como massas, molhos, diz ele,
precisa receber ofertas de produtos para preparo de feijoada?
“O profissional de marketing
hoje tem de entender de estatística, matemática, TI, o que é raro no universo,
transformar informação do consumidor em ação de comunicação”, diz Morgado.
Os lojistas vão ter também de
descobrir novo jeito de fazer marketing, de se comunicar com os clientes. O
Instagram e o Facebook, diz ele, estão perdendo interesse por conta do TikTok.
AMBIENTAL
E SOCIAL
A agenda ESG, sigla, em inglês,
para ambiental, social e governança, também precisa estar cada vez mais
presente nos negócios do varejo, de acordo com Morgado.
“Em relação a esses três temas,
os lojistas, especialmente os pequenos, estão perdidos. Alguns até têm algumas
ações sociais, mas são mínimas”, afirma.
Os pequenos até conseguem
empregar de maneira correta, de acordo com Morgado, mas, em relação ao meio
ambiente, são mais seguidores do que executores.
‘FEIJÃO
COM ARROZ’
Marcos Hirai, fundador do
Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas (NDEV), diz que especialistas
em varejo gostam de falar de inovação, omnicanalidade, experiência.
“Mas o fato é que tem mais
consultor falando o que precisa ser feito para ser competitivo do que varejista
adotando. Vejo ainda muito o ‘feijão com arroz’ no varejo brasileiro”, diz.
Os desafios para os lojistas
brasileiros, de acordo com Hirai, continuam os mesmos dos últimos anos, até
porque a integração entre os canais físico e digital sequer é uma realidade no
Brasil.
“O país saiu de uma crise
brava, que deixou cicatrizes, e o empresário, em sua maioria, não tem dinheiro
para investir em projetos dos sonhos. O importante ainda é sobreviver.”
Hirai faz uma analogia: “Vejo
muito varejista que realmente deseja ter um carro elétrico, mas acaba ficando
mesmo com o tradicional por falta de recursos.”
Muitas redes, de acordo com
ele, investem em loja uma moderna, bem equipada, para mostrar que estão
antenadas com as novas tecnológicas, e tudo acaba por aí.
“As outras lojas da rede
continuam do mesmo jeito.”
Para Hirai, em 2023, o
varejista deve continuar a busca pela melhoria de processos, reduzir custos e,
depois, buscar inovação. “Ainda estamos voltando aos patamares de 2018, 2019.”
PRESERVAR
O CAIXA
Sandro Benelli, consultor que
participa de conselhos de grupos de varejo, afirma que não é hora de grandes
investimentos, correr atrás de experiências, e, sim, de preservar o caixa.
“É o momento de investir no que
tem retorno garantido, ficar atento à produtividade para reduzir custos,
repassando os ganhos para o cliente, para se tornar relevante.”
Benelli vê a omnicanalidade,
assim como programas de fidelidade, como ferramentas capacitadoras. “Meu
conselho para o lojista é: seja espartano no começo de 2023.”
Para ele, o comerciante deve
investir na clientela que já tem. “Não é o momento de procurar brinquedo novo
e, sim, de tirar o máximo de brincadeira dos brinquedos que já tem.”
Ferramentas de CRM (Customer
Relationship Management), diz ele, ajudam os lojistas a ter uma gestão mais
eficiente a partir do relacionamento com os clientes.
“Os varejistas passam a ter o
domínio do perfil dos consumidores e, portanto, conseguem propor ações para
torná-los fieis.”
Várias empresas oferecerem
esses softwares, com preços que variam de acordo com o uso ou do pacote de
alternativas.
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/especialistas-listam-os-principais-desafios-para-o-varejo-em-2023
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