Sinistros graves com ciclistas disparam na pandemia e Abramet divulga nova diretriz sobre o tema
A maior presença de ciclistas nas vias brasileiras já
mostra seu efeito colateral: o total de sinistros graves com ciclistas no
Brasil aumentou 11% em 2021, quando comparado a 2020. Em números absolutos
foram 14.416 casos em 2020 e 16.070 em 2021. Preocupada com esse cenário, a
Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) está divulgando diretriz
de conduta inédita para orientar os médicos especialistas e a todo o sistema de
saúde com as melhores práticas no atendimento de sinistros envolvendo
ciclistas. O objetivo da entidade é chamar a atenção para esse público e
conscientizar a população dos riscos associados ao ciclismo.
“A Abramet, mais uma vez, cumpre seu papel de dar
respostas aos temas mais importantes para a preservação da vida humana no
trânsito”, afirma Antonio Meira Júnior, presidente da entidade. “Um meio de
transporte associado à saúde não pode tornar-se vetor de óbitos ou sequelas
decorrentes de sinistros. Por isso, estamos trazendo este documento tão importante
para orientar o médico do tráfego e todo o sistema de saúde”.
Segundo o documento, entre 2018 e 2020 o Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o Brasil registrou
quase quatro óbitos de ciclistas por dia. Além disso, cerca de 55,8 mil
ciclistas foram internados gravemente na rede pública entre 2018 e 2021,
vítimas de sinistros de trânsito (80% do gênero masculino e 47% com idades
entre 20 e 49 anos).
Em alguns estados, o número de internações praticamente
dobrou em 2021, como é o caso do estado de Goiás: aumento de 101% em relação ao
ano anterior. Também chama a atenção o salto no número de sinistros graves
envolvendo ciclistas nos estados do Ceará (44%), Sergipe (37%) e Rio de Janeiro
(34%).
CONFIRA
AQUI AS INTERNAÇÕES POR ESTADO
Outros dados oficiais levantados pela entidade mostram a
evolução dos sinistros. Registros de 2020 da Polícia Rodoviária Federal (PRF),
por exemplo, mostram que, só nas rodovias brasileiras, a colisão entre veículos
e bicicletas vitimou 13.648 pessoas, sendo que 16% delas não sobreviveram.
Outros 223 mil motociclistas e/ou ciclistas também sofreram queda nas pistas,
com mais de 7 mil casos com desfecho fatal.
O Brasil possui a sexta maior frota de bicicletas
circulando pelo mundo, com 70 milhões de unidades, ficando atrás apenas de
países como a China, a Índia, os EUA, o Japão e a Alemanha. Quarto maior
produtor mundial, o país coloca no mercado cerca de 4 milhões de novas unidades
por ano.
“O uso crescente da bicicleta como meio de transporte e o
consequente aumento das lesões decorrentes desse tipo de deslocamento tornam
essencial que nós busquemos as melhores e mais atuais evidências científicas,
para orientar os usuários e estimular a formulação de políticas públicas para
tornar mais seguro e saudável o uso da bicicleta no Brasil”, justifica Flávio
Emir Adura, diretor científico da Abramet.
A nova diretriz apresenta um panorama que percorre as peculiaridades desse meio de transporte, esclarecendo inclusive a ausência de marcos legais que permitam um melhor monitoramento do seu uso. “Dos ciclistas não é exigido nenhum tipo de habilitação oficial, grande parte desconhece a legislação de trânsito e com frequência violam suas regras”, alerta o documento. “Sendo assim, a prática do ciclismo traz benefícios inequívocos, mas medidas preventivas de sinistros têm que ser consideradas, sendo fundamental que os usuários sejam orientados quanto aos riscos”, destaca.
Fator de risco -- O documento aborda o alto risco do
deslocamento por bicicleta e aponta os mais frequentes tipos de lesão nos
sinistros envolvendo esse meio de transporte. “Por quilômetro percorrido,
aqueles que se deslocam através de bicicletas têm oito vezes maior
probabilidade de morrer em um sinistro de trânsito do que ocupantes de um
veículo de passeio, sinistralidade superada apenas pelos deslocamentos a pé
nove vezes e por motocicletas 20 vezes”, informa a Abramet.
“Nos sinistros graves e fatais, as lesões se devem a
forças e acelerações superiores às que o corpo pode tolerar. (...) A
probabilidade de uma lesão fatal de um ciclista aumenta 11 vezes quando colide
com veículos a velocidades superiores a 64,4 km / h 16 vezes a 80,5 km / h”.
A diretriz também é esclarecedora quanto às ferramentas
de prevenção de sinistros: o documento discorre sobre a importância do uso de
equipamentos como o capacete, e aponta os trajes mais adequados para que o
transporte por bicicleta se torne mais seguro para o condutor e todos os
usuários do sistema de trânsito. A Abramet orienta sobre como prover o
atendimento à vítima do sinistro, desde a mobilização do apoio de emergência
até a passagem da vítima pelo serviço de saúde.
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