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domingo, 5 de junho de 2022

O que está acontecendo com os jovens de hoje?

 

Nos últimos meses temos nos deparados com uma série de notícias impactantes a respeito do comportamento dos jovens brasileiros. Ao longo de mais de 40 anos como educadora, conto nos dedos as vezes em que vivenciei situações como as que vemos agora com tanta frequência. 

 

Embora para alguns possa parecer normal, não consigo me acostumar à ideia de ver crianças e adolescentes cada vez mais jovens portando seus próprios cigarros eletrônicos. Também é impossível encarar com tranquilidade a nova “moda” de cheirar pó de corretivo. O que está acontecendo com os jovens de hoje? O que há por trás desse tipo de comportamento? 

 

Quanto mais reflito sobre o assunto, mais acredito que há uma ligação importante entre uma série de aspectos. Muitos desses jovens estão passando por um momento de transição muito importante, que requer um olhar mais atento por parte dos responsáveis, por se tratar de uma fase muito difícil também, que é a passagem da infância para a adolescência. Esse momento pode ser dolorido e conflituoso para alguns. São muitas mudanças acontecendo ao mesmo tempo: no corpo, na mente e no entorno. Ainda temos um componente adicional, com a pandemia e tudo que foi perdido – e aprendido – diante desse universo novo que fomos obrigados a encarar e vivenciar. 

 

Além dessa fase de transição, há uma importante questão socioemocional. O período de reclusão social claramente prejudicou a saúde mental de muitas pessoas. Isso foi algo que pudemos notar ao longo da pandemia – em curso – e que ficou evidente na retomada das atividades presenciais. E não me refiro apenas ao ambiente escolar. É algo que vale para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Em diversas situações, muitos de nós nos vimos reunidos com nossos familiares em casa e possivelmente nos sentimos extremamente solitários. Estamos todos “juntos”, mas cada um em um espaço reservado, muito distante, virtual. No caso dos adolescentes, o tempo passado em frente aos dispositivos eletrônicos, como o celular, tablet, videogame, computador e outros colabora ainda mais para essa solidão, para a introversão e os leva à aversão ao diálogo, seja sobre amenidades, seja sobre temas mais profundos e importantes para a formação de valores. 

 

Ao mesmo tempo em que se mostram avessos às conversas, há uma necessidade enorme entre esses adolescentes de chamar a atenção e mostrar que precisam de algum tipo de ajuda. É nesse momento que os comportamentos alarmantes acontecem e que os pais precisam, reforço mais uma vez, ter um olhar atento. Citei o uso dos cigarros eletrônicos e do corretivo em pó, mas há dezenas de outras maneiras utilizadas por eles para atrair o olhar dos adultos. Praticar bullying com um colega pode ser um exemplo, assim como o desinteresse por temas que antes eram de sua preferência, a ausência frequente em sala de aula, a falta de vontade de estar em família ou em grupo para socializar, o mau humor excessivo ou rispidez em quem antes sempre foi amoroso. 

 

Assim, acredito que é nosso papel enquanto adultos, sejamos nós pais, educadores ou responsáveis, estar constantemente atentos aos mínimos sinais de mudança de comportamento por parte das nossas crianças e adolescentes para que possamos agir prontamente e evitar que determinadas situações tomem grandes proporções. Em diversas delas, a intervenção não precisa ser radical. Basta uma boa conversa e orientações dadas de maneira didática e carinhosa para que a compreensão aconteça. A partir daí, a orientação é supervisionar o que eles estão fazendo, com quem andam e, especialmente, com quem conversam na internet. Outro ponto importante: crianças e adolescentes precisam de limites e esperam isso dos pais. Novamente, reitero, é necessário que tudo seja feito com equilíbrio e diálogo, deixando claro qual é o objetivo final por trás dessas atitudes cuidadosas protetoras, como muitos deles entendem: formar cidadãos éticos, honestos e com uma vida cheia de saúde, harmonia e sucesso!   

 

Sueli Bravi Conte - educadora, psicopedagoga, mestre em Neurociência e mantenedora do Colégio Renovação, instituição de ensino com mais de 35 anos de atividades e que atua da Educação Infantil ao Ensino Médio. 


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