Muitos pacientes vêm ao consultório preocupados com
um achado de um exame, extremamente comum nos dias de hoje: “Doutor, estou com
gordura no fígado. Isto é normal? É grave?”. A resposta é sempre a mesma. Não é
grave, mas pode ficar.
A incidência de esteatose hepática na população geral está entre 20% e 40%,
sendo os principais fatores de risco a obesidade, o diabetes melitus tipo 2, as
dislipidemias e a síndrome metabólica.
A gordura no fígado é conhecida por vários nomes. A esteatose hepática (ES) é a
mais comum e, no meio médico, é mais utilizado o termo “doença hepática
gordurosa não-alcóolica”. Nada mais é que um acúmulo excessivo de
triglicerídeos (conhecido popularmente como gordura) no fígado.
A ES está presente em mais de 50% dos obesos e em torno de 35% dos pacientes
diabéticos resistentes à insulina. A obesidade infantil também é um forte fator
de risco e a ES está presente neste grupo de crianças em até 77%. Alguns
produtos químicos, medicamentos e anabolizantes também podem ser fatores de
risco para o desenvolvimento da doença.
O depósito acentuado de gordura na célula do fígado pode levar à lesão na
célula do fígado e, posteriormente, a uma inflamação, seguida por fibrose.
Quando o fígado inflama, temos, então, um problema mais grave: a conhecida
esteato-hepatite. Inicia-se, a partir daí, um dano na célula do fígado,
levando a alterações da função normal do fígado.
Podemos avaliar o problema colhendo exames de sangue, as conhecidas enzimas
hepáticas. Se este processo não parar por aí, existe uma evolução do fígado
para fibrose e posterior cirrose hepática. Nesta fase, o risco de câncer é
real, e o nome desta doença é hepatocarcinoma.
A detecção da ES é feita geralmente por ultrassonografia. Em casos de
esteato-hepatite, a elastografia hepática (um exame específico, indolor,
semelhante à um ultrassom normal) serve para avaliar o grau de fibrose e
inflamação. Em alguns casos, também pode ser necessária a realização de uma
biópsia hepática para uma melhor avaliação do grau de comprometimento do
fígado.
O melhor e mais eficaz tratamento da ES é a mudança nos hábitos alimentares e
no estilo de vida. Dietas radicais, jejum, zero calorias e dietas retiradas da
internet não resolvem o problema e podem até prejudicar.
O mais indicado é um programa de perda de peso gradual, onde se evite o consumo
de alimentos e líquidos rico em açúcares, gorduras saturadas/trans e muito
calóricos. Exemplos de alimentos a serem evitados: carne vermelha, leite e
laticínios integrais, pães gordurosos com recheios, bolachas, bolos, tortas,
alimentos enlatados, frituras (fast foods) e bebidas alcoólicas.
Sempre recomendo aos pacientes inserir em sua rotina a prática de exercícios
físicos, em torno de 150-200 minutos por semana, em 3 a 4 sessões, atividades
aeróbicas, de resistência e com pesos.
Alguns alimentos, ainda, são mais propensos à melhoria do quadro e, portanto,
contribuem muito para o tratamento. São eles: alimentos ricos em Omega-3, como
peixes e linhaça, frutas e verduras, cereais integrais, leguminosas,
oleaginosas e carne branca (frango).
Vale frisar que é necessária uma assistência multidisciplinar para tratar esta
doença. Por isso, ao identificar o problema, é fundamental buscar um hospital
que possua uma equipe multidisciplinar composta por gastroenterologistas,
nutricionistas, psicólogos, nutrólogos, hepatologistas cardiologistas e
cirurgiões, que, juntos, irão compor o tratamento mais adequado e completo para
cada paciente.
Dr.
Henrique Perobelli - gastro/proctologista e cirurgião do aparelho digestivo da
Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
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