80% das pessoas com a síndrome
apresentam problemas gastrointestinais, destaca nutricionista do CEJAMShutterstock
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou simplesmente autismo, como é popularmente conhecido, é uma condição de saúde geralmente identificada entre 1 ano e meio e 3 anos, caracterizada pelo déficit na comunicação social -- seja ela verbal, não verbal e na própria socialização em si --, gerando inúmeras mudanças comportamentais.
Antes visto como um problema exclusivamente mental, hoje, graças à ciência, o TEA é considerado sistêmico, que acarreta diversos sintomas associados, inclusive os de trato gastrointestinal, afetando diretamente o funcionamento cerebral.
No Dia Mundial da Conscientização do
Autismo, celebrado em 2 de abril, a nutricionista Alice Coca, especialista em
nutrição para autistas na UBS Jd. Paranapanema, gerenciada pelo CEJAM - Centro
de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, chama a atenção às necessidades
nutricionais específicas de pessoas dentro do espectro autista.
Alice destaca que a nutrição é considerada a base de todo o tratamento para o autismo. “Geralmente, quando uma criança é diagnosticada autista, é comum que sejam inseridas rapidamente em diversas terapias, entre elas psicológica, fonoaudióloga e ocupacional. Porém, quando estes pacientes não possuem um suporte nutricional adequado, eles não têm base metabólica capaz de sustentar os demais tratamentos, algo que dificulta nos resultados.”
No entanto, a especialista explica que, quando o tratamento nutricional é aplicado corretamente, estas crianças conseguem resultados mais efetivos nas demais terapias.
Alice ressalta que mais de 80% dos autistas têm problemas gastrointestinais, impactando de forma considerável em suas vidas, já que 90% da serotonina, neurotransmissor que confere sensação de bem-estar e interfere diretamente no humor, é produzida no intestino.
“Diversos estudos mostram que intervenções
nutricionais são capazes de melhorar os sintomas associados ao autismo, dando o
suporte neurológico à comunicação e demais comportamentos desafiadores, como
irritabilidade, agressividade e sintomas regressivos, além
da melhora no ciclo do sono e a síntese dos neurotransmissores.”
Terapia alimentar
A hipersensibilidade alimentar, atrelada à seletividade sensorial, afeta o estado de saúde do indivíduo dentro do espectro. O fato altera as escolhas que eles fazem dos alimentos, podendo resultar em uma baixa ingestão alimentar e menor síntese de enzimas e neurotransmissores dependentes de nutrientes, muito importantes à saúde.
A terapia alimentar é uma técnica utilizada como principal ferramenta para solucionar o problema. Trata-se de uma abordagem que visa ressignificar a alimentação, aproximando a criança da comida, por meio de ações que geram habilidades e oferecem estímulos sensoriais, trazendo conforto e familiarização com novos sabores.
“Na UBS na qual atuo pelo CEJAM, conseguimos trabalhar com orientações que os pais e responsáveis podem replicar em casa, ou indicar para o professor aplicar no ambiente escolar, quando necessário.”
A nutricionista afirma que uma das frentes de trabalho consiste na substituição de alimentos nocivos com uso de técnicas como o Food Chaining, que introduz novas opções, capazes de favorecer a aceitação e ampliação do repertório alimentar da criança.
Conforme Alice, o método consiste em adicionar, gradativamente, uma nova gama de alimentos anteriormente rejeitados por meio de estratégias que modificam textura, aparência, temperatura, sabor e odor do alimento.
“Por exemplo, uma criança que só aceita comer nuggets,
que são artificiais e cheios de conservantes. Por meio das técnicas,
gradativamente, os substituímos por frango frito, para posteriormente tentar
incluir em sua alimentação um filé de frango grelhado, muito mais saudável”,
explica.
Benefícios
As intervenções nutricionais trazem benefícios com relação ao suporte neurológico, para que o paciente avance nas demais terapias, melhorando sintomas gastrointestinais encontrados em mais da metade dos pacientes dentro do espectro.
“O fato proporciona um melhor suporte nutricional para aguentarem os medicamentos prescritos, quando necessário, obtendo melhor efeito, uma vez que as vias neurológicas dependem de nutrientes. Além disso, a intervenção nutricional também aumenta a gama de alimentos ingeridos e controla a compulsão alimentar.”
A nutricionista encerra destacando que nenhuma
terapia faz efeito sozinha. “É necessário, além do suporte nutricional, que o
paciente tenha acesso a toda equipe
multiprofissional, que dê suporte, não só ao paciente, mas também aos
familiares. Eles também precisam ser orientados, não só com relação à saúde,
mas também acerca dos direitos e especificidades que esse indivíduo tem como
autista.”
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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