Quando um casal com filhos decide tomar rumos diferentes na vida conjugal, existem questões que vão além da decisão de ambos. Normalmente, esses contrapontos estão ligados aos filhos, que agora precisam entender, assimilar e aceitar essa mudança.
Mas o que de fato representa essa mudança na cabeça deles? Se será algo positivo ou negativo dependerá muito da maturidade do casal em saber administrar e comunicar com sinceridade e empatia essa mudança. Se questões como mal-estar e ressentimentos ainda tiverem muito latentes na esfera do casal, será necessário um tempo de entendimento dessas emoções e a criação de um espaço de humildade para o perdão, pois a felicidade dos pais reflete diretamente na saúde emocional dos filhos.
Quando ouço no meu consultório a frase “terminou porque não deu certo”, abro um espaço para a reflexão deste meu paciente para que ele entenda que possivelmente deu certo sim, até o momento em que não foi mais possível continuar naquela relação. É preciso aceitar que coisas boas foram vividas e podem se tornar boas lembranças no futuro, com gratidão.
E o filho deste casal é fruto dessa certeza de que
algo muito genuíno existiu ali. Por isso, existem alguns pontos importantes e
algumas “armadilhas emocionais” nessa separação que precisam de uma certa
atenção:
- Evite falar com a criança sobre questões como, brigas, traição,
etc, porque isso diz respeito às questões intimas do casal e não da
família.
- Nunca colocar o filho como substituto do pai ou da mãe que foram
embora. Frases como “meu companheiro”, “agora ele é o homem da casa”, “meu
parceirinho” não é positivo para o entendimento da criança nesse novo
lugar que ela vai precisar se encontrar.
- Também não atribuir ao filho a responsabilidade de confidente ou
conselheiro. Isso tira a criança do papel dela de ser criança. Não torne
seu filho um adulto para entender suas questões emocionais.
- Não trate seu filho como um aliado, marcando territórios,
boicotando, por exemplo, a nova namorada do pai, tampouco servindo de
mensageiro entre as relações. O filho certamente ama pai e mãe, portanto,
é necessário respeitar essa imparcialidade.
- Nunca culpe a criança pela separação. Isso é algo muito comum e ao
mesmo tempo perigoso quando acontece nas separações de casal.
- Manter a rotina nas duas casas, evitando desequilíbrios
financeiros. Se uma criança tem muitos brinquedos em uma casa, certamente
na outra ela terá conflitos se o mesmo cenário não se repetir. Portanto,
cuidado com as configurações dos novos lares. É necessário um equilíbrio
para evitar o desconforto emocional em ambos os contextos.
- Manter as crianças perto dos avós, independente da separação. O
carinho deles é fundamental para a segurança emocional dos netos.
Em alguns casos de separação observo questões como agressividade e regressão. Quando isso acontece, certamente, é por uma confusão nos sentimentos dessa criança, que pode estar ressentida e não saber expressar isso de outra forma. Elas fantasiam e acreditam que o pai ou a mãe, por exemplo, vão sumir a qualquer momento e não voltar mais. Acontece casos em que a criança regride no desempenho escolar por conflitos emocionais internos. Portanto, é necessário ficar atento ao comportamento dessa criança no pós-relacionamento e trabalhar com acolhimento, carinho, segurança e empatia. Mostrar que ele pode se sentir seguro, ainda que em uma relação de separação do casal e tratar o tema com muito diálogo, sem repreender ou oprimir os sentimentos.
Questionamentos por parte dos filhos também são
muito comuns nessa fase da separação. Uma maneira interessante para ajudar a
criança a entender é devolver esse mesmo questionamento com outra pergunta para
ela de forma que consiga extrair a percepção que ali está. Ao ouvir “Mãe, o que
está acontecendo? ”, você responder “Filha, o que você acha que está
acontecendo? ”. Nesse momento, você consegue contar para a criança a situação
no nível em que ela consegue compreender.
E a nova configuração familiar? Como aceitar o novo contexto?
Primeiramente, é necessário que a maturidade do casal esteja em um nível satisfatório. Isso para evitar fazer o chamado “inferno” na vida um do outro. Isso pode interferir de forma drástica na condição emocional dos filhos, trazendo traumas irreversíveis. Lembre-se sempre de que esse filho é 50% de cada um, ou seja, uma mistura dos dois. Então, é preciso honrar a relação que existiu entre esse casal e preservar o fruto desse amor que também existiu um dia.
A concepção dessa nova família precisa ser aceita
como uma extensão boa e não como um fardo. Se o ex tiver uma namorada que seu
filho adora, pense nisso de forma positiva. Afinal, é melhor uma pessoa que
trate bem o seu filho do que uma que crie conflitos. Acredite sempre na
felicidade e no lado positivo das coisas. Respire fundo e vida que segue!
Cilene
Dantas - Psicóloga Clínica (CRP 06/76083), especialista em atendimento de pais,
desenvolvimento do potencial humano e saúde mental, professora no Instituto
Sede Sapientiae e palestrante.
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