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domingo, 13 de março de 2022

Quatro maneiras de combater uma crise existencial

 Mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia, Adriana Drulla destaca quais são as conexões fundamentais para uma vida com sentido 

 

Quem nunca se sentiu desconectado em algum momento da vida? O trabalho que perdeu o brilho, os relacionamentos que parecem superficiais e as escolhas passadas que já não fazem mais sentido. As denominadas “crises existenciais” são bastante comuns e afetam boa parte da sociedade. 

É como perder a conexão consigo mesmo, com o outro e com o mundo, resultando em muita inquietação e angústia. Mas, segundo Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia, se existe uma lição útil na psicologia é que todas as emoções, por mais desconfortáveis que sejam, são valiosas. “As emoções são importantes fontes de informação e, mesmo negativas, elas sinalizam o que precisa da sua atenção”, destaca. 

Vale pontuar que não existe uma receita única para uma vida com sentido. O que motiva e traz realização para uma pessoa, não é o que motiva e traz realização para a outra. No entanto, por mais que o objeto que dê sentido à vida das pessoas seja diferente, todos encontram sentido preenchendo necessidades básicas de conexão. “Ou seja, a crise existencial sinaliza que precisamos nos reconectar”, completa Adriana, apresentando quatro tipos de conexão importantes para uma vida com sentido.

 

1) Conexão consigo: autoconhecimento

Se o desejo é construir um maior senso de coerência e identidade, é preciso entender onde se encaixa cada peça da nossa história. Isso significa refletir e processar inclusive aquilo que preferimos esquecer. Por exemplo, um divórcio, por mais trágico que seja, pode trazer como consequência a valorização da família. ”Ao nos conectarmos com a nossa história, temos mais clareza sobre nossos valores. E valores são uma bússola eficiente para guiar os nossos passos em direção a uma vida com sentido”, destaca Adriana. 

E se você deseja uma ferramenta para conectar-se com a sua história, experimente contar sobre ela. Por exemplo, você pode fazer isto na psicoterapia ou até mesmo na escrita. Além de um maior entendimento sobre si, escrever reduz o impacto negativo destes eventos sobre os seus pensamentos e emoções. 

 

2) Conexão com o outro: vínculos autênticos

A cultura do cancelamento deixa claro que, para sermos aceitos, é comum reprimir aquilo que pensamos e sentimos. Podemos inclusive assumir objetivos e metas por conta do valor que eles têm para a sociedade, amigos ou família. Mas se você se relacionar com o mundo a partir de uma imagem ou escolhas que não condizem com quem você é, você vai se sentir desconectado.

“Isto revela que relacionamentos superficiais não suprem nossa necessidade de conexão. Precisamos de vínculos profundos. Sentimos profundamente conectados a alguém quando essa pessoa conhece nosso íntimo e nos aceita como somos – defeitos inclusos. Precisamos de amor e relacionamentos de cuidado mútuo. Quando nos sentimos valorizados pelo que somos, e verdadeiramente importantes, a vida tem mais significado”, completa a especialista.

 

3) Conexão com o mundo: propósito

O propósito nos permite sentir que fazemos a diferença. Em outras palavras, sentimos que somos importantes para o mundo. E, por mais que a palavra propósito seja usada em associação com causas grandiosas, ele não é um luxo disponível apenas para os que podem largar o emprego ou investir horas sem fim em uma causa.

“Propósito é sobre usar as suas habilidades para adicionar valor para o mundo. Ou seja, você pode encontrar mais propósito ajudando o morador de rua que está na frente da sua casa, ajudando uma creche ou abrigo de animais, fazendo uma campanha em benefício de algo que você se importe, ou ainda na criação de seus filhos”, explica Adriana. Se entendermos propósito como um conjunto de ações que podem ser simples em prol das outras pessoas, fica mais fácil incorporar mais propósito em nossas vidas.  

 

4) Conexão com algo maior: transcendência

Uma quarta forma de encontrar mais sentido é conectando-se com algo maior. Uma pessoa transcende a realidade cotidiana, composta por boletos e obrigações, quando se permite conectar com o mistério da vida. Para alguns, isso pode acontecer observando os espetáculos da natureza, para outros em meditação, oração ou até em um ritual ou experiência religiosa. 

“É quando nos vemos pequenos, porém conectados, com algo grandioso e que vai além da nossa experiência imediata. Nos momentos de transcendência nós não recebemos uma resposta verbal sobre o sentido da vida, mas vivenciamos essa resposta com os sentidos. É como se a resposta estivesse diante de nós. É como se, de alguma forma, entendêssemos que somos parte dessa resposta”, finaliza. 

 

Por fim, entrevistando pessoas realizadas, pesquisadores descobriram que é a pluralidade de fontes que traz um sentido global para a vida. Por exemplo, enquanto a família ou os amigos podem suprir a necessidade de vínculos autênticos, um projeto pode trazer propósito. Por isso, é possível que o significado da vida esteja na capacidade de encontrar valor em cada papel que desempenhamos. Talvez a satisfação da sede por significado esteja em diversos copos meio cheios.

 

 Adriana Drulla - Mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA), e pós graduada em Terapia Focada em Compaixão pela Universidade de Derby (Inglaterra). Estudou com Martin Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva e com Paul Gilbert, psicólogo criador da Terapia Focada em Compaixão. Formada em Conscious Parenting por Shefali Tsabary, psicóloga referência em parentalidade, é também especialista em Mindfulness pela Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). Adriana é autora de um estudo que correlaciona autocompaixão de pais e filhos adolescentes em publicação nos Estados Unidos. É autora dos podcasts Crescer Humano, onde fala sobre psicologia, e Mente Compassiva, onde publica meditações para o desenvolvimento da autocompaixão.

https://www.instagram.com/adrianadrulla/?hl=pt-br


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