Dia
Mundial da Obesidade busca refletir sobre as causas da doença, como evitá-la e
o acesso ao seu tratamentoFoto ilustrativa / Divulgação
Uma pesquisa publicada pela revista científica Nature
Communications sugere que a obesidade produz alterações celulares que
promovem a origem de tecidos carcinogênicos, ou seja, que produzem células cancerígenas.
O Dia Mundial da Obesidade chama a atenção para esta que é uma doença crônica e
que, inclusive, está diretamente relacionada com ao menos 10% das mortes
oncológicas em não fumantes no mundo.
De acordo com o estudo, uma das hipóteses é que a
obesidade eleva os níveis de insulina, hormônio que aumenta o metabolismo e a
duplicação celular. O tecido gorduroso também produz hormônios femininos que
são fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Outro ponto é a
inflamação crônica causada pela obesidade, algo que também aumenta o risco de
desenvolvimento de cânceres.
Segundo o especialista em obesidade, cirurgião
bariátrico e do aparelho digestivo, Dr. José Alfredo Sadowski, a obesidade
promove diversas alterações físicas e metabólicas que colaboram não apenas para
o desenvolvimento de diversos tipos de câncer como também para problemas
cardiovasculares, diabetes, hipertensão, entre outras comorbidades.
"Hoje vemos mais estudos apontando a
incidência de casos de câncer em pacientes com obesidade. Durante a pandemia
também vimos como a obesidade se tornou um fator de risco para pacientes com
COVID-19, que evoluíam mais facilmente para formas graves da doença",
comenta Sadowski.
Contudo, o médico destaca que a obesidade possui
tratamentos eficazes e seguros como a cirurgia bariátrica. O procedimento é
indicado quando o paciente atende a alguns critérios como Índice de Massa
Corporal (IMC) entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades e acima de 40
kg/m² mesmo sem a presença de outras doenças diagnosticadas; idade e tempo de
tratamento.
"O principal benefício da cirurgia bariátrica,
além de promover a perda de peso, é combater e controlar as doenças associadas
e promover qualidade de vida aos pacientes. Além da saúde física, a cirurgia apresenta
bons resultados também na saúde mental. Pessoas com obesidade enfrentam grave
estigma social, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, e outros diversos
tipos de estigmas sociais devido ao preconceito pelo excesso de peso.
Câncer de Mama - De acordo
com a médica radiologista Dra. Cristiane Spadoni, estudos epidemiológicos
mostram a importância de fatores culturais e de estilo de vida, sendo 5% a 10%
hereditários e 20% a 50% atribuídos a fatores de risco modificáveis, incluindo
inatividade física e escolhas nutricionais que levam à obesidade. Segundo ela,
o aumento da gordura abdominal aumenta o risco para tumores mais
agressivos.
"O risco de desenvolver câncer de mama
pós-menopausa é aumentado pela obesidade. Além disso, há redução da sobrevida
apesar do tratamento apropriado, mais complicações durante a cirurgia,
radioterapia, quimioterapia e maior recorrência local. Há, ainda, aumento da
probabilidade para ter um tumor maior, metastático, resistente à terapia
endócrina e doença avançada no momento do diagnóstico", explica Cristiane
Spadoni.
A dona de casa Marli Rodrigues Borges, de 47 anos,
descobriu o câncer de mama pouco tempo após iniciar o tratamento para a redução
de peso, quando estava com 97 quilos e um IMC de 30, que caracteriza obesidade.
“Fiz a mamografia em fevereiro de 2019, apareceu uma calcificação e a biópsia
apresentou uma lesão benigna. Continuei a ter sintomas como mamas inchadas e
sangramento menstrual, mesmo sem ter útero; repeti os exames e tive o
diagnóstico do câncer”, afirmou.
Marli realizou a cirurgia de mastectomia total para
a retirada do tumor e, hoje, está bem; segue com o tratamento de
hormonioterapia. “O meu ginecologista sempre falava que a obesidade é um dos
itens que pode levar ao câncer, os exames apontaram que o meu tumor não foi
causado por alterações hormonais”.
Genoma e obesidade - Um outro
estudo publicado por pesquisadores do King's College London no último mês
aponta que os cientistas encontraram 74 novas regiões do genoma humano ligados
à obesidade.
Os pesquisadores correlacionaram o resto do
processo de decomposição de um alimento em energia - o metabolismo - com áreas
específicas do mapa genético dos voluntários. Esses resquícios são chamados
metabólitos e alguns deles estão diretamente ligados ao bem-estar instantâneo
fornecido após uma refeição, enquanto outros estão atrelados aos principais
processos fisiológicos do organismo e que interferem em seu equilíbrio.
"É uma pesquisa muito inicial, mas no futuro
essas descobertas podem ajudar a desenvolver abordagens para manter um peso
saudável que levem em consideração o perfil genético de uma pessoa",
comenta Sadowski.
“Um maior entendimento do porque o metabolismo e as
necessidades de nutrientes diferem entre indivíduos, considerando os fatores intrínsecos
como a genética, epigenética, microbioma e fatores ambientais, como dieta,
atividade física, saúde mental e exposição ao meio ambiente permitirão
estratégias mais personalizadas para reduzir o câncer de mama relacionado à
obesidade”, diz Cristiane Spadoni.
Obesidade cresce no Brasil - A última
edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) aponta o crescimento do índice de
sobrepeso e obesidade. De acordo com os dados, 96 milhões de pessoas, ou cerca
de 60,3% da população adulta do Brasil, estão com sobrepeso. Especificamente
sobre a obesidade, o índice de prevalência em homens adultos é de 22,8% e de
30,2% nas mulheres.
Critérios para indicação da cirurgia bariátrica - No Brasil,
a cirurgia bariátrica pode ser indicada quando os pacientes atendem a critérios
de peso, idade e/ou doenças associadas. Estão aptos os pacientes com Índice de
Massa Corporal (IMC) acima de 40 kg/m², independentemente da presença de
comorbidades; IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades; IMC entre 30
e 35 kg/m² na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente a
classificação "grave" por um médico especialista na respectiva área
da doença.
A idade também é fator a ser analisado. Pacientes
entre 18 e 65 anos não têm restrição. Acima de 65 anos, o paciente deverá
passar por uma avaliação individual. Em pacientes com menos de 16 anos, o
Consenso Bariátrico recomenda que a operação deve ser consentida pela família
ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de
recuperação.
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