A obesidade representa um risco para o desenvolvimento de 13 tipos de câncer. Estudo revela como a intervenção cirúrgica auxilia na redução de até metade das taxas de óbito por cânceres diretamente ligados à obesidade
De acordo com um estudo publicado pela revista The
New England Journal of Medicine (Long-Term
Mortality after Gastric Bypass Surgery), a intervenção cirúrgica
com o objetivo de auxiliar a perda de peso pode significar uma redução de
metade dos casos de óbito devido a cânceres ligados diretamente à obesidade e,
além disso, reduzir em até ⅓ a incidência de outros tipos da doença após um período de sete anos.
Assim, a incidência de cânceres de esôfago e de
mama - o primeiro, duas vezes mais comum e o segundo 10% mais provável em
pessoas com quadro de obesidade - pode apresentar uma queda significativa entre
a população estadunidense.
Segundo a Agência Internacional para Pesquisa em
Câncer - da Organização Mundial de Saúde -, o excesso de gordura corporal
representa risco para o desenvolvimento de, pelo menos, 13 tipos de câncer: o
de esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), pâncreas, vesícula biliar,
fígado, intestino (cólon e reto), rins, mama (em mulheres na pós-menopausa),
ovário, endométrio, meningioma, tireoide e mieloma múltiplo.
Para o Dr. Antonio Cavaleiro, coordenador do Centro
de Oncologia do Hospital Santa Catarina -- Paulista, o controle do peso é uma
importante medida preventiva contra o câncer e outras patologias. "De modo
geral, o excesso de gordura no corpo gera níveis elevados de hormônios do
crescimento, e isso pode levar as células a se dividirem de maneira acelerada,
resultando em um possível câncer. Além disso, grande parte das pessoas obesas
graves tem um nível crônico e baixo de inflamação que, ao longo do tempo, pode
causar dano no material genético do indivíduo e levar à doença. O sobrepeso e a
obesidade estão, inclusive, relacionados ao aumento de outras doenças que têm
relação com inflamações crônicas, como refluxo, pedra na vesícula, hepatite não
alcoólica, entre outras", alerta o Dr. Cavaleiro.
O quadro de obesidade pode ser desencadeado por
diversos fatores - genéticos, psicológicos, sociais, metabólicos -- e, assim
como o excesso de peso, também pode estar ligado aos hábitos da vida moderna,
ao estresse e à diminuição da atividade física. "Para o bem da população,
temos que evitar ou diminuir o sedentarismo, refeições industrializadas, além
do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar, que resultam no aumento do
número de pessoas obesas, inclusive crianças", explica Hugo Valente,
endocrinologista do Hospital Santa Catarina - Paulista.
O cenário atual se mostra preocupante visto que o
número de indivíduos com obesidade e excesso de peso no mundo tem apresentado
aumento constante nos últimos anos, quadro agravado pela pandemia da Covid-19.
De acordo com o estudo Diet & Health Under COVID-19, realizado pela IPSOS,
que entrevistou 22 mil pessoas em 30 países, os brasileiros representam a nação
que mais ganhou peso durante o período da pandemia: enquanto a média global de
pessoas que afirmam ter engordado é de 31%, o mesmo índice entre os brasileiros
entrevistados - que engordaram cerca de 6,5kg nesse período - é de 52%.
Cirurgia Bariátrica como
ferramenta para controle da obesidade
Além da melhora da qualidade de vida, o tratamento cirúrgico da obesidade também
diminui o surgimento e/ou complicações de outras enfermidades, evidenciando a
importância de um profissional qualificado para o acompanhamento desse processo
que, devido à pandemia, apresenta uma demanda reprimida de cirurgias
bariátricas e metabólicas.
"No Brasil, menos de 2% da população elegível
para o procedimento realiza a cirurgia. Apesar do medo de sair de casa e dos
receios para realizar os procedimentos bariátricos, as pessoas estão cada vez
mais seguras com o avanço da vacinação e a evolução dos tratamentos para perda
de peso", informa o Dr. José Luís Corrêa, cirurgião bariátrico do Hospital
Santa Catarina - Paulista.
Quem são os pacientes
elegíveis à cirurgia?
Os pacientes candidatos a realizar a cirurgia devem
ter entre 18 e 65 anos e podem ser divididos em três grupos, conforme o índice
de massa corpórea (IMC) - que é a divisão do peso (em kg) pela altura ao
quadrado (em metros).
IMC entre 30 e 34,9: pacientes
que são diabéticos tipo II, com idade mínima de 30 e máxima de 70 anos, com menos
de 10 anos de doença e com resultados clínicos pouco satisfatórios após 2 anos
com endocrinologista e mínimo de 2 anos em dieta, exercícios físicos e
medicações orais e/ou injetáveis.
IMC entre 35 e 40: aqueles
pacientes que apresentarem pelo menos um quadro dentre os citados: diabetes;
doenças cardiovasculares (Hipertensão, IAM, ICC, Angina e Fibrilação atrial);
AVC; dislipidemia (colesterol e/ou triglicérides aumentados); artropatias, como
problemas ortopédicos de coluna, quadril, joelhos, pés etc.; refluxo
gastroesofágico; asma grave; colecistopatia calculosa; pancreatites agudas de
repetição; esteatose hepática; incontinência urinária; infertilidade;
estigmatização social; depressão e apneia do sono.
IMC > 40: todos os
pacientes com mais de 2 anos de tratamento clínico.
Para jovens entre 16 e 18 anos, a cirurgia pode ser
realizada mediante a autorização da família, avaliação pediátrica e
consolidação das epífises de crescimento dos punhos. Pacientes com idade
superior a 65 anos também devem respeitar os critérios citados e ter a presença
de comorbidades, além de avaliação individual por equipe multiprofissional e
avaliação criteriosa do risco/benefício. Já em casos de pacientes com histórico
de abuso de entorpecentes ou quadro de alcoolismo, transtorno de humor grave,
transtorno psicótico e ausência de entendimento do procedimento, pode haver a
contraindicação do procedimento.
Procedimento clínico e
recuperação
Para a realização do procedimento, é necessário que
o paciente permaneça, em média, de 36 a 48 horas internado, para que os
procedimentos pré-operatórios possam ser realizados de acordo com o protocolo
médico. Além disso, é preciso seguir rigorosamente a orientação dada pelo
nutricionista e pela equipe quanto à alimentação (dieta líquida para gastroplastia
na fase inicial). Outras recomendações comuns incluem: não carregar peso,
evitar esforços físicos exagerados, estimular a deambulação após liberação
médica, não ficar deitado em demasia e fazer o uso da meia anti-trombo.
"O paciente pode retomar a maioria das
atividades habituais - como dirigir - cerca de sete dias após a operação, mas
recomenda-se que permaneça em home-office nesse primeiro período. Atividades
físicas como musculação e exercícios aeróbicos são liberados após 30 dias, e
são tão importantes quanto a dieta no processo de emagrecimento", explica
Dr. Corrêa.
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