Estatísticas indicam que a quantidade de idosos que precisam de cuidados aumentou, fazendo com que as mulheres acabem sendo responsáveis pelos cuidados e fiquem mais sobrecarregadas
Dia 8 de março chegando, data em que se comemora o
Dia Internacional da Mulher. Com a data vem a lembrança do quanto foi e é
importante a conquista dos direitos femininos. Mas com essa conquista também
vem a quantidade de responsabilidades que a mulher adquiriu ao longo da vida
moderna. Entre eles, o cuidado com os filhos, com os pais idosos e com a vida
profissional.
Apesar de tantas conquistas, algumas tarefas ainda
são “supostamente” atribuídas diretamente às mulheres, como cuidar dos pais
idosos. Antigamente, sempre havia uma tia, uma nora, uma sobrinha que era dona
de casa e ficava responsável por cuidar dos idosos da família. Hoje todas essas
tias, noras e sobrinhas estão no mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo, a
sobrecarga de dar suporte aos pais envelhecendo ainda continua com elas.O
desafio de cuidar dos pais na velhice tem sido um dos assuntos mais debatidos
da atualidade, pois traz demandas reais, práticas e, também uma série de
angústias.
Estudo comparativo das sociólogas Nadya Araujo Guimarães,
da Universidade de São Paulo (USP), e Helena Hirata, do Centro de Pesquisas
Sociológicas e Políticas de Paris, na França, divulgado em janeiro de 2021 na
revista da Fapesp, identificou, nos últimos 20 anos, o surgimento de arranjos
que visam amparar indivíduos com distintos níveis de dependência, como
crianças, idosos e pessoas com deficiência. E dentro deste cenário elas
apontaram que, na América Latina, o fornecimento de cuidados é tradicionalmente
feito pelas famílias, nas quais mulheres desempenham gratuitamente papel
central como as cuidadoras de crianças, idosos e pessoas com deficiência.
“Culturalmente as mulheres acabam assumindo mais
esta função, o que acarreta uma sobrecarga no dia a dia feminino”, conta Marcia
Sena, fundadora e CEO da Senior Concierge e especialista em qualidade de vida
na terceira idade.
Marcia criou a Senior Concierge justamente por
vivenciar essas e outras dores, a partir de uma experiência pessoal de
dificuldade de conciliar seu trabalho como executiva e cuidar dos pais que
estavam envelhecendo. Se especializou nas necessidades e desafios da terceira
idade e desenvolveu serviços com foco na manutenção da autonomia de pessoas da
melhor idade no seu local de convívio, oferecendo resolução de problemas de
mobilidade, bem-estar, tarefas domésticas do dia a dia e segurança contra males
súbitos.
Este panorama se agravou ainda mais durante a
pandemia. Segundo recente levantamento realizado por estudiosos da Fiocruz,
77,5% das cuidadoras familiares disseram que o tempo de dedicação
aos cuidados aumentou e 75% responderam que a quantidade de esforço
também aumentou nesse período, o que refletiu nas saúdes física e mental das
mulheres.
De acordo com o último Censo brasileiro de 2019,
mais brasileiros tiveram de cuidar de seus parentes idosos. O número de
familiares que se dedicavam a cuidados de indivíduos de 60 anos ou mais saltou
de 3,7 milhões em 2016 para 5,1 milhões em 2019.
Junta-se a essa realidade o fato de a população
estar ficando cada vez mais velha, de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam
que até 2060 o número de idosos no País irá quadruplicar e chegar à casa dos
58,4 milhões. Hoje essa população é de 14,9 milhões.
Cuidar de idosos é uma atividade que demanda tempo
e, basicamente, os filhos contam com três formas de providenciar esses
cuidados: dar aos pais a assistência para que sejam independentes em suas
próprias casas, colocá-los em algum tipo de moradia assistida ou trazê-los para
viver com a família.
Essa última opção, que é a mais utilizada, traz
também a necessidades de adaptar os lares para receber os familiares que estão
envelhecendo, como a instalação de rampas, barras de apoio e outras mudanças de
rotina que trazem impactos na vida de toda a família.
De acordo com Márcia, o primeiro passo que deve ser
tomado e, também o mais difícil é, desde cedo, ter uma conversa franca com os
pais sobre suas finanças e sobre como eles pretendem passar esse momento da
vida. “É uma questão para a qual todos nós devemos nos preparar”, comenta.
A responsabilidade de cuidar de parentes idosos
pode trazer angústias em todas as esferas da vida de um profissional, que
muitas vezes tem que se ausentar do escritório para levar os pais a
compromissos ou consultas ou pode ser interrompido por questões de urgência.
De acordo com a especialista, os impactos na vida
pessoal também podem ser significativos. “Pode afetar o relacionamento com os
filhos e o cônjuge, além de alterar a dinâmica familiar. Isso tudo deve
alavancar a demanda por serviços pensados exclusivamente para a qualidade de
vida daqueles que vivenciam a situação no dia a dia”.
Entre as facilidades que são bem-vindas estão, por
exemplo, ter alguém que possa acompanhar os idosos em exames, consultas e,
também atividades de lazer ou compras, orientação médica e farmacêutica por
telefone e até mesmo aplicativos que mantenha os responsáveis informados sobre
a rotina e bem-estar dos pais.
Diante de tantos desafios vivenciados, assim como
ela, enfrentando as mesmas situações, Márcia teve a ideia de criar uma empresa
para ajudar as famílias a cuidarem dos pais que estão envelhecendo e começam a
precisar de apoio para suas atividades diárias e manterem sua qualidade de
vida. Assim nasceu a Senior Concierge, trazendo para o Brasil um novo conceito,
chamado de Aging in Place, de cuidados para a terceira idade.
Já popular nos Estados Unidos e Europa, o modelo
oferece um pool de serviços que permitem que o idoso continue sua rotina diária
sem perder autonomia. Os serviços estão focados em cuidados gerais com os
idosos, enfermagem, acompanhante para internação hospitalar, pós-operatório com
welcome home, cuidados com idosos que têm Parkinson e Alzheimer, leva e traz de
idosos, ginástica, entre outros.
Márcia Sena - fundadora e CEO da Senior Concierge e especialista em qualidade de vida na terceira idade. Tem MBA em Administração na Marquette University (EUA) e experiência em várias áreas da indústria farmacêutica.
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