Noites
mal dormidas podem causar problemas sérios de saúde
Cerca de 80 países promoverão atividades de
conscientização para os perigos do distúrbio; em Campinas, especialistas do IOU
da Unicamp participam de ações para alerta da população
Dormir bem faz tanta diferença para a saúde que a World
Association of Sleep Medicine (Associação Mundial de Medicina do Sono) alerta
anualmente sobre a necessidade desse período de descanso com qualidade. No Dia
Mundial do Sono, 18 de março, cerca de 80 países promoverão ações de
conscientização para elucidar os benefícios do repouso restaurador para o
organismo e também problemas que podem surgir com a sua ausência.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
quatro em cada dez indivíduos não têm sono revigorante. É um índice que chama a
atenção, já que as pessoas passam 1/3 da vida dormindo.
O otorrinolaringologista Dr. Edilson Zancanella,
especialista em medicina do sono do Instituto de
Otorrino & Cirurgia de Cabeça e Pescoço -- IOU na Unicamp, diz que as
doenças mais comuns são apneia e insônia, mas existem outras que precisam de
tratamento, como parassonias, narcolepsia e síndrome das pernas inquietas,
entre outras doenças.
Apneia
O Dr. Edilson explica que a apneia provoca paradas
respiratórias durante o sono que podem estar associadas frequentemente a
roncos, podendo gerar engasgos e a não renovação da oxigenação. As apneias
estão associadas a um aumento do risco cardiovascular, hipertensão arterial,
AVC (Acidente Vascular Cerebral) e infarto, além de levar à síndrome
metabólica, que pode desencadear a diabetes.
A apneia é mais comum em homens acima dos 50 anos e
em mulheres pós menopausa. “O sono fica superficial e não reparador, podendo
resultar em sonolência diurna, cansaço, perda de memória e de concentração”.
Segundo o médico, o tratamento é individualizado e
entre as indicações estão cirurgia, uso de CPAP, aparelhos bucais e fonoterapia
específica.
Insônia
A insônia é a dificuldade para iniciar e manter o
sono. O Dr. Edilson salienta que, no geral, é mais comum em mulheres com mais
de 50 anos. Fatores emocionais como depressão, ansiedade e preocupação podem
fazer a pessoa deitar e não conseguir iniciar o sono. Outras vezes, a pessoa
até começa a dormir, mais depois de algum tempo desperta e não adormece. No dia
seguinte pode acontecer irritabilidade, alteração de memória, perda de
produtividade e, também como na apneia, aumentar o risco cardiovascular e até de
acidentes automobilísticos por sonolência diurna.
O Dr. Edilson enfatiza que o tratamento para a
insônia, em geral, visa entender as causas e muitas vezes hábitos inadequados.
“Uso de celular, computador e TV na hora de dormir podem dificultar o
adormecimento. Pode haver indicação de medicação por curto período e medidas de
higiene do sono, mudanças de hábito e terapia cognitivo comportamental”,
esclarece.
Medicina do
sono
O Instituto de Otorrino &
Cirurgia de Cabeça e Pescoço -- IOU na Unicamp, que começará a funcionar em
breve, tem toda a estrutura e profissionais habilitados para o diagnóstico e
tratamento de qualquer distúrbio do sono.
“O tema Medicina do Sono será diferenciado no IOU.
O setor vai atender a população com um serviço inédito, tanto no Sistema
Público de Saúde (SUS), encaminhado pela Cross
(Central de Regulação de Vagas e Ofertas e Serviços de Saúde), quanto
pela Unicamp. Será um serviço pioneiro há muito tempo esperado dentro da
instituição”, adianta o médico.
Zerando a fila de exames
O Dr. ressalta que leitos para fazer
polissonografia são bastante limitados no Brasil e o IOU irá incluir o exame
para todo tipo de doença relacionada ao sono. A estimativa é a de que sejam
realizados 180 exames de polissonografia, em média, por mês, com os seis
aparelhos em funcionamento logo nos primeiros dias de atividade, devendo
aumentar essa capacidade com a chegada já planejada de outros quatro
equipamentos em breve.
“Campinas e região têm cerca de dez serviços de
polissonografia em clínicas particulares e de atendimento a convênios médicos e
nenhum em ambiente público. No IOU, teremos equipamentos de última geração
capazes de monitorizar todo tipo de patologia numa estrutura agradável, com
instalações modernas e adequadas. Todos os exames serão documentados e
analisados por uma equipe muito experiente em Medicina do Sono, atuando há
muitos anos nesse tipo de atendimento em instituições privadas de alto nível”,
frisa.
O Serviço de Medicina do Sono do IOU conta com
equipe multiprofissional e multidisciplinar experiente. O Dr. Edilson afirma
que as novas instalações do IOU serão fundamentais para zerar a fila de espera
para polissonografia, que tem mais de 2,5 mil pessoas sob coordenação do
Departamento Regional de Saúde 7, do Estado Paulista, que abrange Campinas e
mais 41 cidades. O IOU realizará também outros exames, como testes de latência
do sono, que são feitos durante o dia. “O envolvimento de diferentes áreas
médicas na área do sono como otorrinolaringologia, neurologia, pneumologia e
pediatria trarão a capacidade de tratamento de qualquer tipo de patologia
associada”, observa Dr. Edilson.
Sob coordenação do professor titular da Faculdade
de Ciências Médicas (FCM) Dr. Agrício Crespo, o projeto do IOU é inovador no
meio acadêmico e é voltado à formação de especialistas e à educação continuada,
além do desenvolvimento de pesquisas e difusão de conhecimentos.
“Serão viabilizados novos diagnósticos, linhas de
pesquisa, aprendizado e treinamento para médicos, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, psicólogos, dentistas, enfermeiras. Desde alunos, residentes,
pós-graduandos a várias especialidades médicas, todos poderão aperfeiçoar e
descobrir um vasto campo de conhecimento ligado ao sono e a outras áreas que
envolvem cabeça e pescoço”, pontua o Dr. Agrício Crespo.
Atividades de conscientização
Os especialistas do sono do IOU planejam intensa
participação nas ações da Semana do Sono, conduzida pela Associação Brasileira
do Sono (ABS) e na programação da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia
e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). As atividades, que serão on-line,
incluem lives, mesas-redondas multidisciplinares e outras iniciativas.
No dia 21 de março, os profissionais de saúde do
Departamento da Medicina do Sono do Hospital de Clínicas da Unicamp farão todos
os atendimentos no ambulatório vestindo camisetas que trazem mensagens de
alerta sobre o ronco.
Dr. Agrício Crespo - diretor do IOU e coordenador/
prof. titular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp
Dr. Edilson Zancanella – otorrinolaringologista, especialista em
medicina do sono do IOU, na Unicamp
Instituto de Otorrino & Cirurgia de Cabeça e Pescoço --
IOU, a ser inaugurado no primeiro semestre de 2022, é a reestruturação e expansão da Divisão de
Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas da Unicamp.
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