Professor de filosofia, empresário do ramo de segurança, ex-atleta de boxe, praticante de jiu-jítsu, pai, voluntário, e agora um apaixonado pelo estudo da psicologia. Esse sou eu, uma multidão de gostos e afazeres em apenas uma pessoa. Sou assim, não consigo escolher uma ou duas coisas que gosto de fazer, sendo assim, faço tudo o que eu consigo.
Já fazia uns anos que não dava aula
de boxe. Porém, procurado por um amigo, comecei a treiná-lo. Decorrido um tempo
ele me disse que tinha procurado o boxe por um problema pessoal. Me disse que
teve um pai muito violente e que, desde de criança, ficou sempre inseguro em
situações de confronto. Tratando-se meu amigo de um psicólogo, e sendo eu um
estudioso do tema, decidimos mudar a abordagem do treinamento. Segundo Sigmund
Freud todos somos neuróticos em alguma escala. Ao desenvolver o sistema de
catarse, descoberto pelo doutor Josef Breuer, Freud postula a necessidade de
expor ou reviver os episódios traumáticos. Falar sobre um episódio traumático
ou revivê-lo de alguma forma, “desembaraça” a neurose e faz com que ela se
dissipe.
Dito isso, durante o treinamento de
boxe, comecei a reproduzir falas do pai que intimidavam meu amigo quando
criança. Em um processo mais avançado, subi com ele no ringue e disse para me
bater com toda a força. É impressionante como o inconsciente rege nossa vida. Tanto
Nietzsche quanto Freud concordavam que o consciente é a parte mais ínfima e
menos importante da nossa psique. “Não sou amo em meu próprio lar”, dizia
Freud. Mesmo eu dizendo que não revidaria, ele não conseguia me bater.
A medida que ele foi se soltando,
cada vez que eu, apenas ameaçava uma reação, ele reagia de modo infantilizado,
se retraindo e fazendo uma expressão de criança assustada, com medo do castigo.
Ele fingia que me batia, assim como, algumas pessoas, fingem que estão vivendo.
Estão tão presas a seus medos que não conseguem viver de fato.
Porém, o processo de catarse é
libertador. Em poucos rounds a confiança lhe veio, como que por mágica.
“Insides” de sua infância lhe vinham toda hora a mente, mas sua confiança foi
aumentando gradativamente. No último round me custava receber diversos socos
realmente fortes.
Treino terminado, exaustos
física e psicologicamente, a satisfação e alegria brilhavam radiantes em seu
rosto. Mais tarde, nesse mesmo dia o encontrei em uma reunião. Ele veio
sorrindo e me disse: “cara, mudou alguma coisa em mim. Parece que virou uma
chave na minha cabeça”.
Em mais de 20 anos praticando boxe,
ouvi centenas, para não dizer milhares de vezes, que o boxe é uma terapia (não
sou adepto de hipérboles), porém, desconfio que, dessa vez, os números não são
exagerados. Uma forma das pessoas descarregarem sua energia e sua agressividade
de forma saudável sem ser nocivo a ninguém. Contudo, é a primeira vez que
aplico o treinamento de boxe como psicoterapia. Ouso dizer que apliquei como
psicoterapia por ter planejado cada passo de forma a liberar a neurose
instalada. Não posso deixar de dar o devido crédito ao meu amigo, que
supervisionou a aplicação da psicoterapia em si mesmo.
Já ouviu que o boxe faz bem? Que o
boxe emagrece? Que te dá consciência corporal? Condicionamento aeróbio?
Enfim, acrescento mais um benefício
da prática do boxe. Ele liberta sua mente. Te destrava dos seus medos e de suas
neuroses. Com muita satisfação posso afirmar, BOXE É PSICOTERAPIA.
Chileno Gómez - Palestrante, professor de filosofia, psicanalista e mestrando em psicanálise dentre outras formações e empresário do ramo de segurança. Ex-atleta de boxe e faixa-preta de jiu jitsu. Tem por objetivo de vida proporcionar conhecimento de qualidade de forma acessível e descomplicada para quem busca o bom pensar. Entendeu ser a educação a única forma real de transformação saudável de uma sociedade, buscando sempre a excelência. Autor do best-seller “O Deus da filosofia – Deus existe?”.
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