Plano B, idosos digitais,
propósito, saúde e segurança, compras 'peer-to-peer'... Baseado no novo estilo
de vida acelerado pela pandemia, relatório anual da Euromonitor aponta as 10
principais tendências globais de consumo para 2022Pixabay
"Simplesmente voltar a adotar
práticas anteriores à pandemia não deve gerar os mesmos resultados daqui para
frente”. A frase de Alison Angus, líder de lifestyles da
Euromonitor International, sintetiza os insights do recém-lançado relatório
anual "10 principais tendências globais de consumo 2022", que cobre
100 países.
Como ninguém é mais o mesmo
do período pré-covid, e isso inclui o consumidor, as alterações radicais no
estilo de vida levaram as pessoas a tomarem decisões intencionais, conscientes
e ambiciosas, de modo a se adaptarem ao cenário e procurarem satisfazer da
melhor forma suas necessidades, imediatas ou não.
Mas agora, dois anos depois,
enquanto o mundo começa a se recuperar, esses mesmos consumidores colocam seus
planos em ação, e arriscam-se para aproveitar o atual momento, na expectativa
de voltar à normalidade.
“As empresas precisam se
transformar para acompanhar as preferências em rápida evolução dos
consumidores”, diz a executiva.
A seguir, conheça as
transformações que desafiarão estratégias de negócio no terceiro ano de
convivência com a covid:
SEMPRE COM
UM PLANO B - Os consumidores
encontraram soluções criativas para comprar os produtos desejados ou pesquisar
as próximas opções diante da escassez causada por interrupções das cadeias de
abastecimento. Para driblar o problema, 28% deles passaram a comprar produtos e
serviços locais.
De acordo com o relatório,
esse tipo de consumidor está sempre um passo à frente da multidão,
assumindo o controle e usando a tecnologia para ir para a frente da fila
quando o abastecimento é ameaçado.
Alguns contam com serviços de
assinatura ou compras em grupo para garantir as entregas. E
quando frustrados, se voltam para a segunda melhor opção, buscando
alternativas e, em alguns casos, adiando ou mudando hábitos de
compra.
Quem já faz: A chinesa Pinduoduo
passou a facilitar as vendas diretas entre pequenos agricultores e
consumidores, enquanto a PepsiCo. lançou, em 2020, dois sites de venda direta
ao consumidor final.
AGENTES DO
CLIMA - A 'ecoansiedade' e a
emergência climática promoveram o ativismo ambiental para uma economia “net
zero” (ou neutra em carbono). Em 2021, 35% dos consumidores reduziram suas
emissões de carbono, e outros 67% tentaram causar impacto positivo por meio de
ações cotidianas no meio ambiente.
Esses consumidores fazem
escolhas mais sustentáveis, ao mesmo tempo que exigem ação e transparência
das marcas. Não existe lacuna entre a consciência sobre o clima e a
intenção de agir. Com isso, 39% das empresas indicaram que investirão
em inovação de produtos de baixo carbono e no desenvolvimento desses
produtos.
Quem já faz: A fintech Klarna lançou
um rastreador de emissões de Co2 com informações para 90 milhões de
consumidores globais, e a fabricante de cosméticos Izzy desenvolveu a primeira
máscara com desperdício zero.
IDOSOS
DIGITAIS - Os consumidores mais
velhos se tornam usuários mais aptos da tecnologia. Portanto, soluções virtuais
devem ser personalizadas, para atender às necessidades desse público on-line
mais amplo.
A princípio forçados a
ficar on-line enquanto o mundo se fechava, eles acabaram conquistando
autonomia para fazer compras e utilizar os serviços por meio desse
canal.
Se 82% deles tinham
smartphones em 2021, 45% passaram a usar serviços bancários em apps no celular
pelo menos uma vez por semana, 60% a visitar pelos menos uma rede social e 21%
a jogar on-line.
A população global com mais
de 60 anos aumentará 65% de 2021 a 2040, chegando a mais de 2 bilhões de
pessoas. Esse grupo relativamente rico ganhou experiência e confiança e
adota soluções de tecnologia para
auxiliar na vida diária não só em compras, mas em socialização, exames de
saúde, finanças e aprendizagem.
Quem já faz: A startup Rendever criou
experiências de realidade virtual compartilhadas para diminuir o isolamento
social. Já o Evering é um anel de pagamento para pagar produtos nas lojas com
Visa. E a JD.com lançou um smartphone para idosos marcarem consultas médicas
por vídeo e receberem receitas em casa.
AFICIONADOS
FINANCEIROS - A gestão democratizada
do dinheiro possibilita que os consumidores ampliem seus conhecimentos e
segurança em matéria financeira, e 51% dos consumidores no mundo acredita que
estará melhor financeiramente nos próximos cinco anos.
Os consumidores estão
ganhando confiança para investir e ficando experientes em poupar para
fortalecer a segurança financeira. Isso porque a pandemia trouxe
volatilidade ao mercado de trabalho e colocou as pessoas em risco.
Incerteza,
instabilidade e lockdowns fizeram com que muitos consumidores gastassem
menos e economizassem mais. Também passaram a recorrer a
aplicativos para lidar com o dinheiro de forma inteligente. Agora, a
oportunidade é ampliar o acesso aos ainda desbancarizados e novatos em
finanças.
Quem já faz: A Robinhood é uma
plataforma de negociação acessível voltada para o investidor habitual. Já o
brasileiro Nubank oferece
serviços virtuais mais simples para ampliar o acesso à bancarização.
O
MOVIMENTO METAVERSO - Ecossistemas
digitais imersivos e tridimensionais começam a transformar as conexões sociais.
As vendas globais de headsets de realidade aumentada e realidade virtual
cresceram 56% de 2017 a 2021, atingindo a cifra de US$ 2,6 bilhões no último
ano.
O mundo digital está
evoluindo de reuniões virtuais para realidades 3D imersivas. Os consumidores
já adotam espaços digitais para socializar, e marcas no centro desse movimento
promoverão equidade. Esses ambientes devem impulsionar o e-commerce e
vendas de produtos virtuais à medida que o acesso se expande.
Quem já faz: A Gucci criou uma experiência
virtual multimídia no jogo Roblox, em que os avatares dos usuários eram
manequins. O Facebook virou Meta em 2021 para intensificar o foco no metaverso. Já o
grupo de k-pop BTS organizou um concerto virtual recorde transmitido para 1
milhão de pagantes no mundo.
ANTIGOS
PRODUTOS, NOVOS DONOS - Mercados
de compras peer-to-peer e venda reversa (ou recommerce), de produtos de segunda mão,
crescem à medida que os consumidores buscam itens únicos, acessíveis e
sustentáveis, e 33% têm comprado com frequência itens usados com intervalo de
poucos meses.
Economizar é a tendência. Os
consumidores estão mudando sua mentalidade de possuir algo para uma
mentalidade de ter experiências. Sustentabilidade e individualidade
estão removendo o estigma associado às compras de segunda mão
e impulsionando os marketplaces pessoa a pessoa
(peer-to-peer).
As vendas reversas
(recommerce) se tornarão predominantes e englobarão mais categorias.
Os consumidores continuarão a considerar a compra de itens de segunda mão,
especialmente bens duráveis. Além disso, as empresas precisam
reutilizar ou reciclar materiais para desenvolver novos produtos e
reduzir desperdícios.
Quem já faz: A Ikea atualizou seu
"Cantinho da Barganha' da loja para um 'Circular Hub', que apresenta
móveis usados como parte de um programa de recompra. Aqui no Brasil, o Enjoei,
espécie de brechó on-line, ganhou força e ampliou sua exposição em 2021 com
suas soluções de consumo colaborativo.
A GRANDE
RENOVAÇÃO DA VIDA - Abalados e reflexivos,
os consumidores se concentram agora em bem-estar e desenvolvimento pessoal,
fazendo drásticas mudanças que refletem
valores, paixões e propósitos.
Crises podem fazer com que
pessoas analisem e mudem seus valores. No ano passado, os consumidores que
fizeram um inventário de suas vidas agora estão ativamente tentando traçar
um novo caminho a seguir.
Enquanto em 2015 apenas 12%
dos consumidores priorizaram o tempo para si mesmos, isso dobrou para
24% em 2021: entre julho e agosto, oito milhões de americanos pediram demissão
para buscar novos objetivos.
Quem já faz: A marca de moda Zara criou
uma coleção de roupas 'business casual' para ambientes de trabalho remotos ou
escritórios. Já a rede hoteleira Hyatt oferece pacotes 'Work from Hyatt' para
trabalhadores remotos que desejam mudar de cenário.
URBANOS
RURAIS - Os consumidores estão
mudando para áreas mais seguras, limpas e verdes na cidade, no subúrbio ou no
campo. Os moradores urbanos também querem que esses benefícios sejam trazidos a
seus bairros, e pelo menos 37% esperam trabalhar de casa num futuro
próximo.
Comunidades espaçosas e
sustentáveis ditarão onde eles escolherão viver. Independentemente
da localização, marcas e empresas precisarão ajustar estratégias para
reter esses clientes.
Expandir pontos de venda e
serviços tradicionais, e ao mesmo tempo investir em e-commerce ajudará
empresas a atingirem um público mais amplo.
Quem já faz: Singapura está construindo
uma cidade verde em uma antiga área industrial para criar alternativas
habitacionais urbanas sustentáveis, inteligentes e
menos poluídas.
EM BUSCA
DO AMOR PRÓPRIO - Autenticidade,
aceitação e inclusão são as prioridades de escolhas de estilo de vida e hábitos
de gastos à medida que os consumidores adotam sua verdadeira essência. No
relatório, 56% dos consumidores declararam que devem ser mais felizes nos
próximos cinco anos por esses motivos.
As inovações de produtos de
indulgência estão crescendo globalmente em todos os setores. As marcas de
beleza oferecem produtos com qualidade de salão em casa. Fabricantes
de alimentos e bebidas investem em ingredientes funcionais e bebidas
com pouco ou sem álcool, à medida que os consumidores buscam opções mais
saudáveis.
Muitas empresas estão
investindo em tecnologia para oferecer cuidado personalizado. Essa
personalização avançará em direção à aceitação em massa em todos os setores,
como beleza, cuidados pessoais e saúde do consumidor. Além disso,
o marketing e as ofertas precisam ser inclusivos.
Quem já faz: A Interflora lançou uma
coleção de arranjos florais autocombinados, com notas de amor próprio baseadas
em um questionário respondido pelo consumidor. Já a War Paint criou a primeira
loja de maquiagem para pele masculina no mun.do, além de colaborar com a Calm,
uma ONG de saúde mental.
O PARADOXO
DA SOCIALIZAÇÃO - Níveis de conforto
variáveis criam um retorno conflituoso para a vida pré-pandemia. Em 2021, 76%
dos consumidores adotaram precauções de saúde e segurança ao sair de
casa.
Essa é uma fase
comportamental que influencia seus hábitos. Eles querem socializar, mas
exigem abordagem flexível, e as empresas devem ser receptivas e fornecer
experiências integradas com soluções adaptáveis.
O trabalho remoto e os
eventos virtuais vão coexistir com compromissos presenciais, mas é preciso
oferecer a opção de escolha. As empresas devem levar em consideração os
oscilantes níveis de conforto. Modelos de negócios híbridos vão colocar
os consumidores no controle de sua experiência desejada.
Quem já faz: O Carrefour City, nos Emirados Árabes, é a primeira loja a usar inteligência artificial para compras e pagamentos sem contato. Já a Framery lançou cabines e cápsulas para escritórios voltadas à realização de videochamadas com melhor qualidade e sem interferências
Equipe de jornalistas do
Diário do Comércio
Fonte:
https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/saiba-como-atender-as-novas-expectativas-do-consumidor
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