Dados atualizados revelam que em 2021 índice ainda ficou 15% abaixo dos níveis pré-pandemia
Há décadas a realização da mamografia é
motivo de preocupação dos mastologistas e pesquisadores da Sociedade Brasileira
de Mastologista (SBM), pois se trata do exame mais eficaz para o diagnóstico
precoce do câncer de mama. Historicamente, o Brasil se mantém abaixo dos 70% de
cobertura populacional, preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Durante
a pandemia o índice tem sido ainda menor e continua aquém do recomendado.
De acordo com a Dra. Jordana Bessa, da
Sociedade Brasileira de Mastologia e coordenadora do estudo, em 2021 foram
realizadas pouco mais de 1,675 milhão de mamografias no Brasil, na faixa etária
de 50 a 69 anos, no sistema público. Estes números ainda são 15% abaixo do
habitual, mas mostram alguma recuperação em relação a 2020, quando foi
registrada uma queda de mais de 40% na realização do exame. “Acreditamos que o
avanço da vacina e o certo afrouxamento no que diz respeito ao isolamento
social tenha interferido nesses números, porém o cenário ainda é
preocupante...muito preocupante”, enfatiza a mastologista.
Segundo a pesquisadora, o sinal de
alerta sobre o impacto da pandemia no rastreamento periódico das mulheres bem
como no tratamento das pacientes de câncer de mama é legítimo, pois o câncer
não espera e em muitos casos a doença avança com velocidade e agressividade. “A
realização da mamografia sempre foi um tema complexo no país, principalmente
pela sua dimensão e peculiaridades regionais. “No Brasil, a maioria dos
carcinomas de mama é diagnosticada pelo toque ou pelo exame clínico, quando já
são maiores. Nosso rastreamento ainda estava engatinhando, sempre abaixo do que
recomenda a OMS, porém com a pandemia isso se agravou”, afirma a médica,
acrescentando que a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza a realização
anual do exame em todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade.
Além dos números totais, o estudo
identificou ainda aumento da proporção de pacientes com exames atrasados em
2021, com quase um terço tendo realizado sua última mamografia há mais de três
anos. Como no ano anterior (2020), repetiu-se o aumento no número de pacientes
com nódulos palpáveis ao exame físico. O
levantamento mostrou também que há uma tendência notável para o aumento da triagem para pacientes de alto risco,
com história familiar ou pessoal de mama. “Priorizar os indivíduos de alto
risco é uma estratégia para diminuir o impacto da pandemia, já que a maioria
dos resultados anormais de mamografia são encontrados neste grupo”.
A mastologista ressalta que uma das
prioridades (se não a maior) para o Brasil é um atendimento rápido, de forma
que pacientes com nódulos palpáveis ou resultados anormais de mamografia possam
ter acesso fácil à biópsia e ao início do tratamento. “A navegação do paciente
é fundamental para o seu tratamento e chance de cura. A SBM acaba de apoiar,
junto com outras entidades, o lançamento de um Guia prático de navegação,
orientando a população sobre os melhores caminhos para o tratamento da doença no
país”, anuncia.
A doutora sinaliza que o estudo teve
como base o número de mamografias realizadas pelos serviços públicos de saúde
em todo o Brasil, disponibilizados pelo DATASUS, banco de dados de acesso
aberto. O levantamento comparou o número de mamografias realizadas entre 2019 e
2021, em mulheres com idade entre 50-69 anos. Mamografias de instituições
privadas não foram incluídas. “Concluímos que, embora tenha sido registrada uma
melhora em relação ao fatídico ano de 2020, a pandemia agravou o cenário do
rastreamento do câncer de mama no Brasil, fato que continuará a contribuir para
o aumento do diagnóstico em estágios mais avançados”, conclui a mastologista.
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