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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Realização de mamografias ainda “patina” no Brasil

Dados atualizados revelam que em 2021 índice ainda ficou 15% abaixo dos níveis pré-pandemia


Há décadas a realização da mamografia é motivo de preocupação dos mastologistas e pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologista (SBM), pois se trata do exame mais eficaz para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Historicamente, o Brasil se mantém abaixo dos 70% de cobertura populacional, preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Durante a pandemia o índice tem sido ainda menor e continua aquém do recomendado.

De acordo com a Dra. Jordana Bessa, da Sociedade Brasileira de Mastologia e coordenadora do estudo, em 2021 foram realizadas pouco mais de 1,675 milhão de mamografias no Brasil, na faixa etária de 50 a 69 anos, no sistema público. Estes números ainda são 15% abaixo do habitual, mas mostram alguma recuperação em relação a 2020, quando foi registrada uma queda de mais de 40% na realização do exame. “Acreditamos que o avanço da vacina e o certo afrouxamento no que diz respeito ao isolamento social tenha interferido nesses números, porém o cenário ainda é preocupante...muito preocupante”, enfatiza a mastologista.

Segundo a pesquisadora, o sinal de alerta sobre o impacto da pandemia no rastreamento periódico das mulheres bem como no tratamento das pacientes de câncer de mama é legítimo, pois o câncer não espera e em muitos casos a doença avança com velocidade e agressividade. “A realização da mamografia sempre foi um tema complexo no país, principalmente pela sua dimensão e peculiaridades regionais. “No Brasil, a maioria dos carcinomas de mama é diagnosticada pelo toque ou pelo exame clínico, quando já são maiores. Nosso rastreamento ainda estava engatinhando, sempre abaixo do que recomenda a OMS, porém com a pandemia isso se agravou”, afirma a médica, acrescentando que a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza a realização anual do exame em todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade.

Além dos números totais, o estudo identificou ainda aumento da proporção de pacientes com exames atrasados ​​em 2021, com quase um terço tendo realizado sua última mamografia há mais de três anos. Como no ano anterior (2020), repetiu-se o aumento no número de pacientes com nódulos palpáveis ​​ao exame físico. O levantamento mostrou também que há uma tendência notável para o aumento da triagem para pacientes de alto risco, com história familiar ou pessoal de mama. “Priorizar os indivíduos de alto risco é uma estratégia para diminuir o impacto da pandemia, já que a maioria dos resultados anormais de mamografia são encontrados neste grupo”.

A mastologista ressalta que uma das prioridades (se não a maior) para o Brasil é um atendimento rápido, de forma que pacientes com nódulos palpáveis ou resultados anormais de mamografia possam ter acesso fácil à biópsia e ao início do tratamento. “A navegação do paciente é fundamental para o seu tratamento e chance de cura. A SBM acaba de apoiar, junto com outras entidades, o lançamento de um Guia prático de navegação, orientando a população sobre os melhores caminhos para o tratamento da doença no país”, anuncia.

A doutora sinaliza que o estudo teve como base o número de mamografias realizadas pelos serviços públicos de saúde em todo o Brasil, disponibilizados pelo DATASUS, banco de dados de acesso aberto. O levantamento comparou o número de mamografias realizadas entre 2019 e 2021, em mulheres com idade entre 50-69 anos. Mamografias de instituições privadas não foram incluídas. “Concluímos que, embora tenha sido registrada uma melhora em relação ao fatídico ano de 2020, a pandemia agravou o cenário do rastreamento do câncer de mama no Brasil, fato que continuará a contribuir para o aumento do diagnóstico em estágios mais avançados”, conclui a mastologista.


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