Os avanços tecnológicos em cirurgia sempre são bem vindos, desde que não coloquem os pacientes em risco e que a equipe médica esteja treinada adequadamente. Nas modalidades cirúrgicas, de modo geral, e em especial na Urologia, esta revolução vem acontecendo de modo regular nos últimos 30 anos, principalmente para os tratamentos de cânceres, incontinência urinária, falência erétil e cálculos renais. Evoluímos das grandes incisões e prolongada internação para as cirurgias minimamente invasivas, com curtos períodos de hospitalização.
Dentro desta revolução, há uma pergunta: os resultados finais são
os mesmos, considerando as cirurgias convencionais e a robótica, principalmente
quando o problema é oncológico (câncer)? Consequentemente surge a dúvida: o
paciente que não tem acesso ao tratamento robótico estará menos assistido?
Na cirurgia robótica, a via de acesso envolve incisões menores
comparada à cirurgia aberta e o cirurgião realiza a cirurgia controlando
remotamente o braço do robô através de joysticks e pedais, em um módulo
satélite (console) que permite simultaneamente visualizar o campo cirúrgico em
monitores de alta definição de imagem. Essa tecnologia não descarta a possibilidade
de converter a cirurgia minimamente invasiva em cirurgia aberta, caso seja
necessário. Esta situação e outros riscos devem ser informados ao paciente
antes do ato cirúrgico, pelo médico que indicou o procedimento.
Em uma recente revisão que estudou 50 trabalhos científicos
randomizados, comparando cirurgias robóticas versus métodos
convencionais para cirurgias de abdome e pelve, revelou-se que, embora possa
haver alguns benefícios na cirurgia robótica, os resultados finais em relação à
cirurgia aberta convencional são discretos. Afirmar que os robôs permitem maior
precisão durante a operação, menor tempo de recuperação e geralmente melhores
resultados clínicos para os pacientes é factível, mas a revisão revelou que há
pouca diferença entre os dois tipos de abordagem.
Em 39 estudos analisados, os autores observaram complicações que
necessitaram de reintervenções cirúrgicas em 9% das laparoscopias e em 8% das
operações robóticas. A taxa de conversão (quando o cirurgião muda da cirurgia
minimamente invasiva para cirurgia aberta) foi de 8% em operações robóticas e
até 12% em laparoscopias, para todas as modalidades cirúrgicas. Em cirurgias
urológicas, quase não houve diferença entre as operações assistidas por robô e
as laparoscopias, em relação ao número de operações que tiveram que ser
convertidas para procedimentos abertos. Quanto à taxa de mortalidade, os
trabalhos avaliados mostraram que foram semelhantes em todas as três técnicas
(robótica, laparoscopia e cirurgia aberta).
Outro ponto abordado no estudo científico foi o custo da cirurgia
robótica, que foi considerada a mais onerosa dos métodos estudados.
As conclusões da revisão dos trabalhos científicos permitem
afirmar que os resultados pós-operatórios são semelhantes, independentemente da
abordagem cirúrgica. O importante, para o paciente, é optar por um cirurgião
especializado e experiente, além de uma equipe bem treinada, independente da
técnica cirúrgica (aberta ou minimamente invasiva).
Em minha opinião, “Considero que a cirurgia robótica é uma
realidade e tende a se tornar o padrão ‘standard’ em cirurgia em questão de
tempo”. Mas não posso deixar de responder à questão: os resultados finais são
os mesmos, considerando as cirurgias convencionais e a robótica? Neste momento,
a resposta é afirmativa, conforme demonstrado na revisão dos trabalhos
científicos. E quanto à dúvida: o paciente que não tem acesso ao tratamento
robótico estará menos assistido? A resposta é não, desde que o cirurgião e
equipe tenham experiência e expertise na doença a ser tratada e na técnica
cirúrgica escolhida.
Dr. Marco Aurélio Lipay - Doutor em Cirurgia
(Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Titular em
Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Membro Correspondente da
Associação Americana e Latino Americano de Urologia e Autor do Livro
"Genética Oncológica Aplicada à Urologia".
Nenhum comentário:
Postar um comentário