Com 917.473 mil casos registrados entre 2010 e 2021, Brasil enfrenta uma crescente e silenciosa epidemia de
sífilisShutterstock
Mesmo com a folia do Carnaval suspensa pela
pandemia de Covid-19, a data está se aproximando e, com ela, a importância de
destacar e prevenir as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Conforme a
enfermeira Ana Paula Bento Lima, líder do Serviço de Controle de Infecção
Hospitalar do Hospital Geral de Itapevi, gerenciado pelo CEJAM - Centro de
Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, esta época do ano, historicamente,
apresenta um aumento considerável das chamadas exposições de risco -- relações
sexuais desprotegidas --, responsáveis pelas Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs).
A terminologia
substituiu recentemente a expressão “Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DSTs)”, porque uma pessoa pode estar aparentemente sadia, mas infectada. E
transmitir da mesma forma, sem sinais ou sintomas de uma doença.
“O Carnaval é uma
época de grande extravasamento e alegria, especialmente após um período
prolongado de restrição a eventos sociais. As pessoas costumam ir a baladas e
festas e podem acabar abusando de bebidas alcoólicas e/ou drogas. Dessa forma,
é muito importante chamar a atenção para o tema”, afirma Ana Paula.
As ISTs podem ser
causadas por vírus, bactérias, parasitas e outros micro-organismos, e sua
transmissão acontece, principalmente, por meio de contato sexual -- seja ele
oral, vaginal ou anal -- com uma pessoa que esteja infectada, sem o uso de
preservativos.
Entre as infecções
mais comuns estão herpes genital, HPV, gonorreia, HIV/Aids, hepatites virais
dos tipos B e C, clamídia, tricomoníase e sífilis. Essa última é considerada
uma epidemia silenciosa no Brasil, com um total 917.473 casos de sífilis
adquirida notificados entre 2010 e junho de 2021, segundo o boletim
Epidemiológico do Ministério da Saúde.
“Hoje em dia há a
falsa sensação de que, caso a pessoa se infecte, é só tratar, dispensando o uso
do preservativo. Isso é uma falácia. Algumas ISTs acabam tornando-se doenças
crônicas e podem gerar complicações futuras”, alerta a enfermeira.
Prevenção
Todos que praticam
relações sexuais desprotegidas estão expostos ao risco de contrair uma IST,
independente de idade, estado civil, gênero, orientação sexual ou crença. A
camisinha, seja ela masculina ou feminina, continua sendo o método
comprovadamente mais eficaz para evitar as transmissões e até mesmo uma
gestação não planejada.
“Entretanto, vale
ressaltar que apenas uma oferta exclusiva de preservativos não é suficiente
para garantir os diversos aspectos da saúde sexual”, explica a enfermeira.
Dessa forma,
torna-se fundamental a ampliação dos conhecimentos para a aplicação da chamada
“prevenção combinada”, que abrange o uso de preservativos, ações de cautela,
diagnóstico e tratamento.
No
Brasil, tanto a prevenção, por meio do uso de preservativos e Profilaxia
Pré-Exposição (PrEP), uma combinação de dois medicamentos (tenofovir e
entricitabina) em um único comprimido, que impede que o HIV se estabeleça e se
espalhe pelo corpo, como o diagnóstico e o tratamento são fornecidos de forma
gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Um tratamento
adequado é capaz de melhorar a qualidade de vida e interromper o ciclo de
transmissão destas infecções.
Segundo a
especialista, as ISTs também podem ser transmitidas pelo contato sanguíneo; de
uma mãe para o seu bebê, durante a gestação, parto ou amamentação ou por formas
menos comuns, através do contato de mucosas ou pele não íntegra com secreções
corporais contaminadas. “Por isso, é importante não compartilhar objetos de uso
pessoal, como toalhas, barbeadores, alicates e escovas de dente, entre outros.”
Sintomas
Normalmente, os
sintomas das ISTs costumam aparecer principalmente nos órgãos genitais, mas não
é uma regra. Alguns podem surgir na palma das mãos, olhos e outras partes do
corpo.
“Durante a higiene
pessoal, observe seu corpo, isso pode ajudar a identificar uma infecção em
estágio inicial. Caso perceba algum sinal ou sintoma, procure o serviço de
saúde, independentemente de quando foi a última relação sexual”, explica a
enfermeira.
Ela destaca ainda que algumas destas infecções podem passar despercebidas por um longo período. “Esses casos são considerados assintomáticos. Se não forem diagnosticados e tratados, podem levar a graves complicações, como infertilidade, câncer e até mesmo óbito.”
Relação desprotegida
Em caso de exposição sexual de risco, é
possível recorrer à PEP (Profilaxia Pós-Exposição), uma medida preventiva de
urgência à infecção pelo HIV, disponível em unidades de saúde de todo o país.
“A PEP consiste no uso de medicamentos capazes
de reduzir o risco de adquirir essas infecções. Seu uso deve ser feito em até
72 horas após a relação desprotegida, ao longo de 28 dias”, afirma a
enfermeira.
Mesmo com o uso da profilaxia, o preservativo
ainda é a barreira de proteção mais eficiente, já que ele é capaz de prevenir
outras infecções, como sífilis e gonorreia, não abrangidas pela PEP.
“Quando for sair para a curtição, tenha sempre
preservativos em mãos. Por meio deles, podemos prevenir as ISTs e gestações
indesejadas. Além disso, é de extrema importância um acompanhamento regular”,
finaliza.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João
Amorim”
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