Pessoas que apresentam vitiligo não possuem limitações físicas ou cognitivas, não transmitem sua condição pelo contato social e estão aptas ao trabalho e ao desenvolvimento de relação afetivas e humanas em qualquer contexto. Essa é a avaliação de médicos que integram a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio deles, a entidade reitera essa percepção no momento em que uma das participantes do Big Brother Brasil (BBB) tem essa condição exposta em nível nacional.
“A forma como a candidata Natália Deodato se relaciona com o vitiligo é um exemplo de como pessoas com esta condição devem preservar sua autoestima em alta e buscarem ocupar espaços no convívio social. Um portador de vitiligo não deve ser excluído ou alvo de estigmas. Ele merece respeito, como qualquer outro individuo, e estímulos para desenvolver seu potencial”, ressalta o presidente da SBD, Mauro Enokihara.
O vitiligo tem como principal característica manchas que se espalham pela pele em decorrência de despigmentação provocada pela falta ou diminuição da melanina. No entanto, as marcas da doença não se limitam ao corpo. O estigma e o preconceito têm feito com que pessoas nessa condição fiquem vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos psicológicos e busquem o isolamento.
Apesar de alterações na aparência,
geralmente, o vitiligo não traz comprometimentos graves à saúde de quem o
desenvolve. Por isso, falar dessa condição requer um empenho especialmente
dedicado ao combate do preconceito e à discriminação contra essas pessoas.
“Estamos diante de uma oportunidade. Nos últimos dias, a busca pelo termo
‘vitiligo’ na internet foi impulsionada em decorrência da confirmação de uma
das candidatas ao prêmio do BBB com essa característica. É um espaço
privilegiado para reforçar a luta em defesa de pessoas que, como ela, devem ser
respeitadas em sua diversidade”, afirma Beni Grinblat, 2º secretário da SBD.
Manchas - O vitiligo é uma manifestação não contagiosa, autoimune e multifatorial. Seu surgimento pode estar relacionado à predisposição genética. Fatores externos podem contribuir para o aparecimento ou agravamento das manchas que decorrem da perda gradativa da pigmentação devido à formação de linfócitos T que destroem os melanócitos, responsáveis pela produção de melanina.
Existem cinco formas de manifestação do vitiligo: focal (manchas pequenas em uma área específica do corpo); mucosal (manchas somente nas mucosas, como lábios e região genital); segmentar (manchas distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo); acrofacial (manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e genitais); comum (manchas no tórax, abdome, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas e demais áreas acrofaciais); e universal (manchas espalhadas por quase todas as regiões do corpo).
Para esclarecer dúvidas sobre o assunto
e ajudar no combate ao preconceito causado pela desinformação, Caio Castro,
dermatologista especialista da SBD, apresenta, a seguir, respostas a dúvidas
relacionadas a essa condição. Confira e compartilhe.
O que causa o
vitiligo?
Vitiligo é uma doença autoimune de
origem genética em que os melanócitos são alvos dos linfócitos T que estão em situação
desregulada. Eles acham que os melanócitos são substâncias estranhas e os
atacam. Provavelmente, esses melanócitos apresentam alguma substância que o
linfócito T reconhece como corpo estranho, destruindo a fonte de produção da
melanina, que é o que dá cor à pele.
Quais as
limitações de alguém que vive nessa condição?
Não limitações que os impeçam de
trabalhar, casar, ter amigos e conviver em grupos sociais. No entanto, alguns
cuidados físicos devem ser tomados, sobretudo com a exposição solar.
É um problema
contagioso?
Por ser autoimune, não há nenhum risco
de transmissão ou contágio por vitiligo. Contudo, o principal problema para as
pessoas que vivem com vitiligo é o impacto causado na aparência, que por fugir
aos padrões pré-estabelecidos, leva à baixa na autoestima. Isso resulta em
isolamento e traumas emocionais.
A doença pode
acometer outros órgãos do corpo?
Aproximadamente 15% dos pacientes com
vitiligo têm alguma doença relacionada à tireoide. Porém, esses problemas são
causados pelos mesmos fatores que provocaram o vitiligo. Não há uma relação de
dependência entre as duas condições autoimunes. Por ser uma doença sistêmica,
os pacientes com vitiligo podem desenvolver uveíte (inflamação nos olhos) e
aproximadamente 10% dos afetados desenvolvem déficit auditivo.
Existe algum grupo
(raça, sexo, idade) mais propenso ao desenvolvimento do vitiligo?
O vitiligo afeta ambos os sexos e
pessoas de qualquer etnia. Os sinais costumam aparecer, em média, aos 24 anos.
Contudo, existem alguns dados de prevalência diferentes. Por exemplo, nos
países anglo-saxões, em média, 1% desenvolve a doença; no Brasil, 0,5% da
população manifesta essa condição; na China esse percentual chega a 0,1% e na
Índia a 5%.
O vitiligo é
hereditário?
Como se trata de uma condição com
origem genética, as chances de aparecer em pessoas da mesma família são muito
grandes, sobretudo quando se tem mãe ou irmãos com essa condição.
Como é feito o
diagnóstico?
O diagnóstico clínico é feito, a
princípio, a olho nu, apenas com o auxílio de uma lâmpada especial. Quando há
dúvidas é realizada biópsia das lesões, já que as manchas do vitiligo podem se
confundir com as de outras doenças de pele, como a micose fungoide
hipocromiante ou lúpus discoide.
O vitiligo tem
cura?
O vitiligo ainda não tem cura, mas tem
controle. Com a ajuda médica, fazendo uso de medicamento e terapias
reconhecidos cientificamente, alguns pacientes podem repigmentar a áreas
afetadas ou mesmo despigmentar o corpo por inteiro.
As primeiras
manchas surgem em alguma área específica do corpo?
Cada indivíduo pode apresentar os
sinais do vitiligo de forma diferente. Porém, geralmente, as primeiras manchas
aparecem no rosto, mãos e região genital.
As pessoas com
vitiligo estão vulneráveis ao desenvolvimento de outros problemas na pele?
Os pacientes dessa condição têm uma maior tendência de envelhecimento na pele, em especial nas áreas despigmentadas; além de maior propensão a sentir os efeitos de “queimaduras” no local por conta de exposição excessiva ao sol.
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