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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O peso da indústria científica para a disseminação da ciência

istock 
Estudo aponta que artigos baixados em plataformas piratas recebem duas vezes mais citações que os armazenados em repositórios


Todo acadêmico tem uma certeza: além do imenso prestígio de escrever uma nova tese, há também uma imensa satisfação quando a mesma é citada por outro estudante em outro estudo. Afinal, não bastando servir de exemplo para a composição de outro trabalho, a citação também é uma forma de divulgação do trabalho, o que significa levar o conhecimento adiante.

No entanto, ainda que a citação seja muito relevante para artigos acadêmicos, a própria indústria desse meio impede que esse conhecimento seja disseminado: a maior parte das bibliotecas acadêmicas é restrita a assinantes e não gratuita, o que dificulta o acesso de boa parcela dos estudantes. E o inverso também se comprova: artigos encontrados em repositórios piratas acabam recebendo mais divulgação.

É o que mostra o estudo da Universidade Federal de Sergipe (UFS), publicado na revista Scientometrics: já é comprovado que artigos descarregados são citados duas vezes mais do que os não baixados, ou seja, aqueles que estão vinculados a plataformas piratas acabam mais favorecidos nesse processo.


Um pedaço da história

Não é de hoje que as plataformas de artigos científicos são fechadas para assinantes. A prática vem desde a década de 1950, por meio do militar Robert Maxwell, que foi um dos primeiros distribuidores de estudos para os Estados Unidos e Reino Unido com a editora Pergamon Press. 

Desde então, há uma indústria que se espalhou mundo afora para lucrar a partir dos artigos, o que de fato traz algumas vantagens aos criadores do conteúdo – e, claro, às plataformas –, mas também impede que a ciência avance.


A dificuldade de acesso à educação superior no Brasil

O estudo avaliou mais de quatro mil artigos computados pelo repositório, entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, e os comparou em 2017, após serem disponibilizados ilegalmente pela programadora cazaque Alexandra Elbakyan. O resultado foi que, após um acesso gratuito, o número de citações aumentou bastante – um indicativo interessante sobre o acesso à educação superior no Brasil.

“A ideia era isolar as variáveis que pudessem interferir no desempenho dos artigos e identificar a que melhor explicasse o número de citações”, esclarece o psicólogo colombiano e um dos autores do estudo Julian Tejada, do Departamento de Psicologia da UFS, em entrevista à revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

A tese mostra como o acesso a artigos no Brasil ainda é dificultado e quais são as suas desvantagens no meio acadêmico quando os arquivos são bloqueados, evidentemente. Mas também mostra a maneira a qual os estudantes recorrem para adquirirem conhecimento para suas produções.

Esse bloqueio ocorre tanto para a produção de artigos científicos no país, quanto para estudos mais simples, como é o caso dos concursos públicos. Para estudar para diversos concursos abertos  no Brasil, como o concurso Sefaz SC, por exemplo, boa parte dos estudantes se vê sem recursos e recorre à pirataria.


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