Estudo aponta que
artigos baixados em plataformas piratas recebem duas vezes mais citações que os
armazenados em repositóriosistock
Todo acadêmico tem uma certeza: além do
imenso prestígio de escrever uma nova tese, há também uma imensa satisfação
quando a mesma é citada por outro estudante em outro estudo. Afinal, não
bastando servir de exemplo para a composição de outro trabalho, a citação
também é uma forma de divulgação do trabalho, o que significa levar o
conhecimento adiante.
No entanto, ainda que a citação seja
muito relevante para artigos acadêmicos, a própria indústria desse meio impede
que esse conhecimento seja disseminado: a maior parte das bibliotecas
acadêmicas é restrita a assinantes e não gratuita, o que dificulta o acesso de
boa parcela dos estudantes. E o inverso também se comprova: artigos encontrados
em repositórios piratas acabam recebendo mais divulgação.
É o que mostra o estudo da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), publicado na revista Scientometrics: já é
comprovado que artigos descarregados são citados duas vezes mais do que os não
baixados, ou seja, aqueles que estão vinculados a plataformas piratas acabam
mais favorecidos nesse processo.
Um pedaço da história
Não é de hoje que as plataformas de
artigos científicos são fechadas para assinantes. A prática vem desde a década
de 1950, por meio do militar Robert Maxwell, que foi um dos primeiros
distribuidores de estudos para os Estados Unidos e Reino Unido com a editora
Pergamon Press.
Desde então, há uma indústria que se
espalhou mundo afora para lucrar a partir dos artigos, o que de fato traz
algumas vantagens aos criadores do conteúdo – e, claro, às plataformas –, mas
também impede que a ciência avance.
A dificuldade de
acesso à educação superior no Brasil
O estudo avaliou mais de quatro mil
artigos computados pelo repositório, entre setembro de 2015 e fevereiro de
2016, e os comparou em 2017, após serem disponibilizados ilegalmente pela
programadora cazaque Alexandra Elbakyan. O resultado foi que, após um acesso
gratuito, o número de citações aumentou bastante – um indicativo interessante
sobre o acesso à educação superior no Brasil.
“A ideia era isolar as variáveis que
pudessem interferir no desempenho dos artigos e identificar a que melhor
explicasse o número de citações”, esclarece o psicólogo colombiano e um dos
autores do estudo Julian Tejada, do Departamento de Psicologia da UFS, em
entrevista à revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp).
A tese mostra como o acesso a artigos
no Brasil ainda é dificultado e quais são as suas desvantagens no meio acadêmico
quando os arquivos são bloqueados, evidentemente. Mas também mostra a maneira a
qual os estudantes recorrem para adquirirem conhecimento para suas produções.
Esse bloqueio ocorre tanto para a
produção de artigos científicos no país, quanto para estudos mais simples, como
é o caso dos concursos públicos. Para estudar para diversos concursos
abertos no Brasil, como o concurso
Sefaz SC, por exemplo, boa parte dos estudantes
se vê sem recursos e recorre à pirataria.
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