Além
das obras de Alvim Corrêa, brasileiro que ganhou notoriedade ao ilustrar o
clássico Guerra dos Mundos no início do século 20, trabalhos de outros 10
artistas contemporâneos integram a mostra
O ápice da trajetória de Alvim Corrêa foram as ilustrações da
famosa edição em francês, de 1906, do livro A Guerra dos Mundos, de
Herbert George Wells, que narra uma invasão de marcianos na terra.
A Pinacoteca de São
Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São
Paulo, inaugura a exposição Ninguém teria acreditado: Alvim Corrêa e 10
artistas contemporâneos. A mostra explora temáticas comuns às obras de
ficção científica, como invasão alienígena, ao exibir as ilustrações de Corrêa
para o célebre livro A Guerra dos Mundos, de Herbert George
Wells, que influenciou radicalmente a imaginação de todos em relação à figura
do extraterrestre e da guerra entre humanos e alienígenas. A seleção dos
trabalhos propõe um paralelo entre as visões fantásticas e sombrias de Corrêa e
o imaginário da arte contemporânea, e amplia a discussão para aspectos que
atravessam a história, como colonialismo, guerra, violência, preconceito, medo
e desejo.
A curadoria é de
Fernanda Pitta e Laurens Dhaenens, um desdobramento da parceria da Pinacoteca
com a Netwerk Aalst, da Bélgica. A seleção de 43 obras de Alvim Corrêa,
Alex Cerveny, Cabelo, Denilson Baniwa, Fernando Gutiérrez Huanchaco, Guerreiro
do Divino Amor, Ilê Sartuzi, Luiz Roque, Rivane Neuenschwander, Runo
Lagomarsino e Wendy Morris evidencia a complexa relação entre humanidade, novas
tecnologias e natureza. Importante ressaltar que a obra sem título (2012), do
artista Cabelo, feita de neon e veludo, que está na mostra é uma das 16
aquisições realizadas pela Pinacoteca de São Paulo, em novembro deste ano, por
meio do Programa de Patronos.
Alvim Corrêa (Rio de
Janeiro, 1876 - Bruxelas, 1910) teve uma carreira breve, morreu jovem e a maior
parte dos seus trabalhos se perdeu em um naufrágio. O ápice de sua trajetória
foram as ilustrações da famosa edição em francês, de 1906, do livro A
Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells, que narra uma invasão de
marcianos na terra. Não se sabe ao certo como Alvim Corrêa conheceu a obra, mas
segundo relatos do próprio Wells, Alvim, fascinado pela história, realizou uma
série de ilustrações e foi até a Inglaterra visitá-lo para mostrar os desenhos.
A iniciativa do brasileiro deu certo e resultou numa edição de luxo de 500
exemplares com 32 ilustrações em papel couché amarelo e 105 ilustrações, 42
delas publicadas como gravuras destacáveis no livro. Na mostra, o visitante
poderá conferir um exemplar dessa publicação em francês, edições brasileiras
recentes, de 2016 e 2017, além de uma projeção das gravuras que explicita o seu
caráter precursor de um imaginário cinematográfico.
Também serão expostos raros estudos do artista, pertencentes à coleção
Alexandre Eulálio, do CEDAE Unicamp, crítico literário e grande responsável
pela divulgação do trabalho do artista no Brasil, juntamente com José Roberto
Teixeira Leite e Pietro Maria Bardi. Convites de mostras organizadas por
Eulálio e por Bardi, um cartaz do anúncio do livro A Guerra dos Mundos,
além de fotos de Corrêa completam a seleção documental. A reunião dos trabalhos
inclui também 11 desenhos eróticos da série Visions Érotiques que
Corrêa publicou no início do século 20 sob o pseudônimo Henri Lemort.
Na mostra, a visão dos
dez artistas contemporâneos é colocada em diálogo com os desenhos, pinturas e
ilustrações de Alvim Corrêa. As obras de Corrêa levam a reflexão sobre a
exploração e as lutas, sobre o medo e o desejo para o campo do ficcional e do
fantástico, de seres humanos contra os marcianos ou contra seres monstruosos
advindos de nossa própria imaginação. Os trabalhos contemporâneos também
exploram por meio de diferentes abordagens da ficção, da fantasia e da
imaginação, questões que estão no pano de fundo da história de Wells.
Sartuzi,
Neuenschwander e Lagomarsino, por exemplo, apresentam em seus trabalhos figuras
incomuns com o objetivo de explorar o sentimento humano de repulsa e atração
pelo diferente, além da violência, medo e preconceito. Cabelo, por sua vez,
apresenta desenhos e um neon onde trabalha narrativas e imagens de seres
fantásticos que povoam a sua imaginação. Cerveny também explora seres
imaginários e os astros siderais, em ilustrações feitas para poemas do livro Vejam
como eu sei escrever, de José Paulo Paes, pertencentes ao acervo da
Pinacoteca. Cópias da Bíblia Manual para falar com Deus
(2018-2021), que se acredita ter sido transmitida por seres-extraterrestres aos
latino-americanos, transcrita e ilustrada pelo artista peruano Fernando
Gutierrez Huanchaco, estarão disponíveis para o público na exposição.
A exposição ainda traz
o vídeo Zero (2019), de Luiz Roque, que apresenta uma distopia em
um roteiro que considera a extinção e um mundo pós-humano. Faz parte também da
curadoria o trabalho da artista Wendy Morris, natural da Namíbia, que apresenta
uma instalação inédita realizada a partir de sua pesquisa sobre a relação entre
colonialismo, escravização, feminismo e resistência. A curadoria também inclui
dois trabalhos em vídeo inéditos: Kopheneue (2021), de Denilson
Baniwa, e Estudo para um diagrama superficcional: Suíça vs Amazônia, uma
guerra supernutricional (2021), de Guerreiro do Divino Amor. As
produções trazem visões sobre uma guerra total e apocalíptica mais do que
presente, o da destruição do meio-ambiente e das culturas tradicionais que o
preservam.
Catálogo
A exposição Ninguém
teria acreditado: Alvim Corrêa e 10 artistas contemporâneos conta com
catálogo ricamente ilustrado, com texto dos curadores Fernanda Pitta e Laurens
Dhaenens, um ensaio de Dhaenens e textos dos artistas contemporâneos Denilson
Baniwa e Wendy Morris, que também possuem trabalhos na mostra. A publicação
possui 80 páginas e estará disponível na loja física e online do museu.
Lais Myrrha
Ainda na mesma data,
04.12.2021. a instalação O condensador de futuros, da
artista Lais Myrrha (Belo Horizonte, 1974), será inaugurada. A obra é
construída a partir da redução da cúpula do Senado Federal, que vai aparecer
como se estivesse "presa" no octógono, a 1,30m de altura. A
intervenção terá um significado indefinido entre abrigo/esconderijo e
armadilha; e o público, se assim desejar, poderá atravessar ou adentrar o
espaço. O trabalho de Lais Myrrha é marcado por reflexões sobre os territórios,
a história, a memória e a política.
Curadoria: Fernanda Pitta e
Laurens Dhaenens
Artistas: Alvim Corrêa , Alex Cerveny, Cabelo, Denilson Baniwa, Fernando
Gutiérrez Huanchaco, Guerreiro do Divino Amor, Ilê Sartuzi, Luiz Roque, Rivane
Neuenschwander, Runo Lagomarsino e Wendy Morris.
Edifício Pina Luz
Praça da Luz 2, São
Paulo, SP
Período: 04.12.2021 a
11.04.2022
De
quarta a segunda, das 10h às 18h
Ingressos com
horário marcado e vendas pelo site da Pinacoteca
Aos sábados, a
entrada é gratuita mas deve ser reservada com antecedência pelo site
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