Agravados
pela pandemia do Covid-19, existem hoje muitos desafios de habitação que a
população brasileira enfrenta, sobretudo de quem vive em situação de
vulnerabilidade social. Em contrapartida, segundo o Conselho Internacional da
Construção (CIC), mais de um terço dos recursos naturais extraídos no Brasil
são para as indústrias da construção e 50% da energia gerada abastece a operação
das edificações. Esses dados destacam a importância do segmento, que cada vez
mais tem se estimulado para a digitalização. Além disso, a construção civil
movimenta 7% do PIB brasileira e emprega anualmente 2,5M de pessoas diretamente
(de acordo com a Sienge – construtoras).
Ainda
há muito a ser feito. Atualmente, os desafios vividos podem ser analisados do
ponto de vista qualitativo e quantitativo. No déficit quantitativo, vemos 5,9
milhões de moradias que não teriam condições de serem adequadas aos moradores,
com a necessidade de novas construções ou corretas adequações e, no viés
qualitativo, há 24,9 milhões de moradias urbanas que já possuem algum tipo de
inadequação, tornando-se impróprias para habitação, porém, com a possibilidade
de adequação, incluindo condições desejáveis de moradia nelas. Hoje, no
entanto, não há a priorização destes déficits, gerando uma complicação pública
onde, no mundo ideal, a sociedade teria seu direito garantido.
Indo
mais a fundo no assunto, 85,8% dos domicílios com déficit quantitativo estão
localizados em áreas urbanas, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste.
Isso corresponde a cerca de 5 milhões de moradias. Para completar, 85% da
população de nosso País vive nas áreas urbanas, o que destaca a importância do
direito à moradia e o seu bom estado. Hoje, infelizmente, são as áreas urbanas
que concentram alguns dos mais graves problemas habitacionais, e para
equacioná-lo será necessário focar na produtividade do setor. [o que não fecha
a conta do direito social garantido pela Constituição].
Dito
isso, quero também trazer boas notícias e apontar que o setor da caminha para
enfrentar seus desafios de produtividade. [Quero trazer para cá uma reflexão
sobre como aproveitar de forma sustentável tudo o que o segmento tem a nos
oferecer]. A Sienge nos aponta, de forma geral, que o ideal para aumentar a
produtividade no setor, olhando também para a preservação do meio ambiente é:
1) reduzir o tempo construtivo, 2) padronizar atividades, 3) reduzir
desperdícios de materiais e aumentar o controle sobre o estoque e 4) diminuir
retrabalhos. Com um bom planejamento de construção e com um apoio de um
ecossistema completo para trazer inovações à tona, essas dicas podem ser
colocadas em prática em nosso País. Porém, o desafio é global. Um estudo da
McKinsey indicou que nas duas últimas décadas, a produtividade na construção
civil cresceu apenas 1% comparado com 2.8% na média e 3.6% quando se olha a
indústria.
Porém,
olhando para o copo “meio” cheio, trago boas notícias: a produtividade tem
aumentado recentemente. A MRV Engenharia ressalta que, um prédio que demorava
180 dias para ser construído, agora se ergue em 60 dias. Em 2007, a construção
de um apartamento exigia 11 operários. Em 2019, isso era feito com 4.5. No
Brasil, o setor da construção como um todo é responsável por 50% da Formação
Bruta de Capital Fixo e é o que mais gera empregos; para cada 10 empregos
diretos, são gerados 5 indiretos. Estima-se que cada R$ 1,00 investido na
construção civil gere R$ 1,88 na atividade. (fonte: Valor Econômico, maio de
2021).
Estamos
no caminho certo. O Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) da USP
indica que a produtividade no Brasil é um quinto da americana e europeia. Temos
que continuar a desenvolver e fortalecer a digitalização desse mercado,
tornando todos os processos cada vez mais digitais, com segurança, rapidez,
acessibilidade e simplicidade. E temos muito espaço para trazer essa inovação
ao setor. Capacitações, treinamentos, inserção de produtos e serviços online,
como e-commerces, são exemplos de atitudes que já podem acontecer. O uso do BIM
no levantamento de materiais e na orçamentação da construção também pode ser
feito. No Brasil, apenas 9,5% das empresas utilizam BIM. O BIM 4D inclui
andamento da obra, o 5D inclui orçamento e o 6D entra na fase de gestão e
manutenção.
A
covid-19 acelerou em pelo menos três anos a adoção de tecnologias digitais no
setor da construção, segundo estudo global realizado pela consultoria McKinsey.
Que a tecnologia continue “viralizando” no setor de construção civil, pois só
com inovação vamos garantir o acesso universal à moradia, além de trazer
grandes benefícios a todos os envolvidos: profissionais, lojistas, varejistas,
indústrias e, claro, os consumidores finais.
Rafael Salomão - Head de Varejo da Juntos Somos Mais e foi
Head de Inovação e Sustentabilidade na TIGRE. Formado em Relações
Internacionais com Mestrado em Administração, é especialista nos segmentos de
meios de pagamento, fidelidade, mídia, varejo e indústria (petróleo e gás,
energia, construção civil e materiais de construção).
Juntos Somos Mais
www.juntossomosmais.com.br.
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