A terapeuta Wanessa Moreira desenvolveu a “Terapia dos Blocos”, onde formas geométricas ilustram onde está o problema
O setembro amarelo é muito
importante na abordagem da saúde mental, principalmente o dia 10 de setembro
que é o Dia Internacional da Prevenção do Suicídio. Durante esse mês
acontecem seminários, conferências e ações importantes referentes ao
assunto. A cor amarela foi escolhida para representar a causa, pois em 1994, Mike Emme, 17 anos, que morava com os seus pais em
Colorado, nos Estados Unidos, se suicidou dentro de seu Mustang 1968. O jovem
havia reformado o carro e pintado de amarelo, sua cor favorita.
O adolescente deixou um recado pedindo
para que seus pais não se culpassem pelo o que havia feito, e quando
encontraram o bilhete, infelizmente já era tarde. Após sua morte foi descoberto
que Mike tinha sinais de depressão e não estava sabendo lidar com um término de
um relacionamento. Durante o funeral, os pais distribuíram cartões com fitas
amarelas para os amigos e familiares com os dizeres “se você está pensando
em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda”. A boa ação
viralizou e em pouco tempo Dale e Darlene, pais de Mike,
começaram a receber inúmeros pedidos de ajuda para lidar com a situação.
Agora para pensarmos em prevenção ao
suicídio, é preciso compreender um pouco o que leva uma pessoa a se suicidar.
Tirar a própria vida é algo tão
extremo, que uma pessoa precisa estar muito atormentada pelos seus pensamentos
de medo e de ataque para sentir que essa é a saída. O suicida dá a própria vida
em troca de ter paz, por não saber de que maneira se livrar dos problemas,
traumas, ameaças ou ainda não ter ideia de como agir para se encaixar na vida,
no que esperam dele, no que deveria estar realizando e não consegue. Ao
contrário do que se pensa, o suicídio não acontece apenas para pessoas que
vivem grandes dificuldades. Podemos encontrar essa ação tão extrema e
impactante em histórias com problemas rotineiros, relacionamentos rompidos,
frustrações do cotidiano, pessoas que se sentem culpadas por terem conquistado
riquezas, entre outros assuntos. Esse tema é tão complexo, que não é possível
definir um tipo de "motivo" para cometer o suicídio.
“Certa vez um paciente que estava se
tratando de uma síndrome de pânico me contou sobre um amigo dele que estava
muito nervoso por dificuldades no trabalho, e que esse mesmo amigo disse para
ele que estava precisando de uma Wanessa para ajudá-lo. Duas semanas depois
esse amigo se suicidou, estava vivendo uma série de problemas financeiros, e
estava sendo ameaçado por pessoas que emprestaram dinheiro a ele. Fiquei
realmente tocada por essa história, vem àquela sensação de que pena que não
tive a oportunidade de ajudar”, relata a terapeuta Wanessa Moreira.
O ato de tirar a própria vida
impacta e choca a todos que recebem a notícia - a mente de quem fica sabendo
sobre o assunto, tenta ouvir a história repetida vezes e "entender" o
que aconteceu. Acontece um curto circuito em quem recebe a notícia, mesmo que
não conheça a pessoa que morreu. Esse impacto acontece porque toda a mecânica
da mente é formatada para fazer uma pessoa sobreviver, a luta pela vida é algo
que faz parte das nossas entranhas, mesmo a vida "dando errado" as
pessoas têm esperança e lutam todos os dias para melhora-lá.
E de repente uma pessoa tira a própria
vida, isso não faz sentido para a mente que foi construída para fazer uma
pessoa sobreviver, fica sempre uma pergunta – Por que essa pessoa cometeu um
ato desses? Agora é importante trazer uma informação: mais do que os recursos
para sobreviver, a mente precisa ser desenvolvida para sobreviver. Vivemos a
era da informação, onde temos acesso a qualquer conteúdo em uma fração de
segundos, é possível digitar uma pergunta e encontrar várias respostas, então
não é a falta de informação o problema, mas a falta de desenvolver a mente para
captar essas informações e executar na vida de maneira prática.
“Do que eu estou falando? Imagina uma
cena, beber um copo d’ água é extremamente saudável, beber dois litros de água
por dia, é considerado algo muito bom para o ser humano, faz bem. Tente beber o
líquido de um hidrante com aquela força da água em movimento, é algo que se
torna bem difícil. O uso de ansiolíticos, antidepressivos e o aumento de
suicídio é gritante, fora as pessoas que desistem da vida em vida, e passam
mais da metade dela se arrastando e desistindo delas mesmas. Esse crescente
desajuste que vai contra a escala saudável de vida, é um reflexo da necessidade
de desenvolver a mente para sobreviver nessa nova era de informação”, diz Wanessa Moreira.
Um caso recente foi do adolescente Lucas Santos, 16 anos, filho da cantora Walkyria Santos, que tirou a
própria vida depois de receber ataques em um vídeo publicado no TikTok.
Segundo a artista, a rede social “nojenta” e os comentários maldosos na internet
acabaram tirando a vida do seu filho. “Hoje eu perdi meu filho, mas preciso deixar esse sinal de alerta
aqui. Tenham cuidado com o que vocês falam, com o que vocês comentam. Vocês
podem acabar com a vida de alguém. Hoje sou eu e a minha família quem chora”,
escreveu a cantora em sua rede social.
Um filme que retrata bem a atual
realidade da juventude é “Ferrugem”, trama lançada em 2018, que através
de ataques verbais e bullying fazem com que a protagonista vá direto ao
suicídio. Assim como a maioria dos adolescentes, a jovem Tati, interpretada por
Tiffanny Dopke, ama compartilhar sua vida nas redes sociais e registrar
todos os momentos. Porém, após perder o inseparável celular, ela se vê vítima
da criminosa divulgação de seus registros íntimos no grupo de WhatsApp da turma
do colégio, o que gera terríveis consequências. O documentário “O Garoto Interrompido”, lançado em 2009, é forte, assombroso, porém necessário. Conta a
história de Evan Perry, o adolescente tinha 15 anos quando pulou do seu
prédio em New York. Sua mãe produziu esse documentário, para narrar a dor de
perder um filho. Evan tinha transtorno bipolar e passou por diversos
tratamentos diferentes ao longo de muito tempo. Ele falava sobre a morte aos cinco
anos e viveu às sombras da doença durante toda sua vida.
“Vou contar um caso que atendi na
última semana - um paciente relatou que só não tirava a própria vida por falta
de coragem de cometer suicídio. Ele contou que brigou com a mãe e o irmão
para defender sua esposa - e essa não é uma atitude fácil para ele, ele
geralmente é uma pessoa mais calma. A esposa disse que ele não a defendeu como
deveria (ela tem um perfil mais agressivo) e brigou com ele. Ele trabalha com a
família, onde ficou um clima ruim no ambiente de trabalho, nesse momento ele já
não sabe mais como agir e sente que a vida dele não vale a pena. Conflitos como
esse que assombram a cabeça das pessoas acontecem todos os dias”, relembra.
Uma maneira eficaz de desenvolver a
mente para sobreviver na era da informação, é desarmar a mente que fica
presa no stress de sobrevivência. Aqueles pensamentos que envolvem tudo ou
nada, serve ou não serve, pode ou não pode quando se consegue mostrar para uma
pessoa qual o conflito real que está colocando a mente dela nesse stress que
não encontra saída, e ainda dar uma direção para que a pessoa consiga enxergar
o que ela precisa fazer para começar a resolver o seu problema. A mente se
desarma e o problema que a atormentava fica de um tamanho muito menor, sem
causar a tormenta de desistir da vida.
“Depois de anos de estudos eu
desenvolvi a terapia dos blocos, onde formas geométricas ilustram
exatamente onde está o problema, e como desenvolver o pensamento de solução.
Nesse momento que é feito os blocos, a mente literalmente vê uma saída e
desarma todo aquele ‘looping’ de pensamento infinito, aquela ideia fixa que
estava aprisionando a pessoa ao problema”, finaliza.
O que uma pessoa precisa para sentir
paz, para sentir conforto e sentir que vale a pena estar vivo é saber que
existe um próximo passo a ser dado. A prisão da mente em problemas é o que
atordoa e tira o fôlego, o ânimo, a força e o desejo de estar vivo. Converse
e peça ajuda quando necessário.
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