O biogás representa uma alternativa eficiente e promissora em termos ambientais para substituir o diesel como combustível nos caminhões de carga. Esta é a conclusão de um estudo de revisão publicado na revista Wires Energy and Environment por cientistas ligados ao Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) apoiado por FAPESP e Shell na Universidade de São Paulo (USP).
O grupo
analisou 45 artigos científicos com foco na chamada "avaliação de ciclo de
vida" dos combustíveis usados no setor de transporte de carga rodoviário.
Esse tipo de análise acompanha todo o processo de uso dos materiais – desde a
extração em poços de petróleo e gás, produção agrícola de matérias-primas ou
geração de eletricidade até o seu descarte ou eventual reciclagem.
Também
foram considerados os aspectos econômicos e ambientais dos diferentes tipos de
combustíveis, como emissões de gases de efeito estufa e de poluentes, entre
eles material particulado e monóxido de carbono. Além do biogás – produzido
pela decomposição de matéria orgânica por bactérias –, as células de
combustível alimentadas por hidrogênio também são apontadas como uma possível
boa alternativa no quesito de redução nas emissões de gases de efeito
estufa.
Os autores
do artigo ressaltam que os estudos com as avaliações de ciclo de vida apontam
quais tecnologias têm maior chance de reduzir as emissões, mas isso varia
conforme a localização, o desenvolvimento tecnológico, as condições das
rodovias, o peso, os materiais usados e a matriz energética de onde elas são
adotadas.
"O Brasil tem um grande
potencial para a adoção do biogás, pois poderia aproveitar resíduos da produção
de etanol, por exemplo", diz o engenheiro eletricista Pedro Gerber
Machado, pesquisador do Departamento de Engenharia Química do Imperial College
London, no Reino Unido, e primeiro autor do artigo – também assinado por Ana Teixeira,
Flávia Collaço e Dominique Mouette,
todas da USP.
"Isso,
no entanto, demandaria um grande investimento – algo que investidor em geral
não gosta – e não há uma produção centralizada. Outro estudo que fizemos aponta
que o Estado de São Paulo poderia substituir todo o gás natural que consome
hoje apenas com o biogás, mas teria de ser espalhado por 355 usinas ou plantas
e não a partir de um único lugar”, diz Machado.
Segundo os
autores, faltam investigações e informações sobre o impacto ambiental das diferentes
opções de combustível, principalmente aquelas relacionadas ao biogás. Há poucos
estudos que comparam todas as alternativas com todas as preocupações
ambientais. Enquanto no mundo há muitos países cujas frotas são movidas em
parte a gás natural liquefeito ou a eletricidade, no Brasil o diesel ainda é
onipresente, de acordo com Machado.
Governantes
de vários países buscam soluções em setores diversos da economia para zerar as
emissões de gases de efeito estufa, apontadas como responsáveis pelas mudanças
climáticas. O setor de transportes enfrenta grandes questionamentos, pois é
responsável por aproximadamente 30% do consumo de energia do mundo e por 16%
dessas emissões.
Embora a
eletrificação do setor de transporte rodoviário seja uma tendência global, essa
opção é a que traz mais incertezas, uma vez que os ganhos ambientais dependem
da matriz energética do país. Com uma matriz elétrica limpa, com altas
porcentagens vindas de fontes renováveis, afirmam os autores do artigo, os
caminhões elétricos (em especial os com células de combustível de hidrogênio)
são a melhor alternativa.
"Mas
será que somos capazes de manter uma matriz energética renovável se tivermos
uma demanda gigantesca do setor de transportes? Essa é a grande questão",
pontua Machado. "Não adianta eletrificar se, para atender a demanda dos
carros, passarmos a produzir energia a partir de gás natural."
Como o gás
natural é um combustível fóssil, ele praticamente não reduz as emissões de
gases de efeito estufa, embora provoque uma emissão menor de material
particulado. Dentro da tecnologia de gás natural comprimido (GNC), as emissões
variam conforme a eficiência e os possíveis vazamentos de metano durante o
transporte do gás natural. A opção por biodiesel, por sua vez, apresentou
poucas vantagens ambientais, uma vez que os artigos científicos analisados
apontaram um alto consumo energético e emissões elevadas na fase de produção.
Pela
perspectiva econômica, as melhores opções foram o GNC, o gás natural liquefeito
(GNL) e os caminhões híbridos. "O gás natural é uma opção mais barata que
o diesel e, por ter o benefício de emitir menos material particulado, poderá
vir a ser escolhido como alternativa. O preço vinculado à qualidade ambiental
provavelmente será usado em um grande pacote de marketing. Não se deve
esconder, porém, que ele é um combustível fóssil e, portanto, emite gases de
efeito estufa", afirma Machado.
O artigo Review of life cycle greenhouse gases, air pollutant emissions and
costs of road medium and heavyâ?ÂÂÂduty
trucks pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/wene.395.
Um texto do pesquisador Pedro Machado
comentando os dados do estudo pode ser lido no blog Sustainable Gas Institute, do Imperial College London,
em: wwwf.imperial.ac.uk/blog/sustainable-gas-institute/2021/04/07/what-are-the-best-options-for-road-freight-transport/.
Com informações da Assessoria de
Comunicação do RCGI.
Agência
FAPESP*
https://agencia.fapesp.br/estudo-aponta-biogas-como-alternativa-promissora-ao-diesel-para-caminhoes/36353/
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