O câncer de próstata é um dos tumores mais frequentes no mundo todo. No Brasil, é o segundo mais comum entre os homens e, em valores absolutos e considerando ambos os sexos, também é o segundo mais prevalente.
Consenso entre médicos, entidades e órgão nacionais e internacionais de saúde, os exames preventivos devem ser realizados periodicamente pela população em geral. A partir deles, especialistas de qualquer área médica realizarão as avaliações diagnósticas necessárias. A partir dos resultados, indicações serão apresentadas para definir o melhor tratamento, procedimento ou cirurgia. E, após o tratamento, possíveis novas avaliações e/ou acompanhamento.
Para
homens a partir dos 45 anos de idade, os exames preventivos são importantes
para o rastreio do câncer de próstata – justamente por ser muito comum entre os
homens. Inicialmente, urologistas e uro-oncologistas se utilizam para o
diagnóstico os exames de toque e de PSA (Antígeno Prostático Específico), este
por meio da dosagem no sangue. São exames padrão e recomendados nas primeiras
investigações dos pacientes.
Estudo
comparativo e tratamentos
Quando diagnosticado o câncer de próstata, médico e paciente (e até familiares) decidirão as possibilidades de tratamento em conjunto, levando em conta diversos fatores, como técnicas, procedimentos e cirurgias que estão no escopo para o tratamento, métodos mais indicados e avançados e a qualidade de vida do paciente após tratamento.
Entre as questões que pairam sobre homens diagnosticados com câncer de próstata, a primeira é a busca pela cura, o desejo de continuar vivendo. Outras duas preocupações comuns dizem respeito aos efeitos colaterais pós-tratamento – e, às vezes, ao longo da vida. No caso do câncer de próstata, as sequelas mais comuns podem ser a incontinência urinária e a impotência sexual (disfunção erétil).
Recentemente foi apresentada uma análise com resultados do controle do câncer de próstata que envolveu dados comparativos entre terapia focal e cirurgia radical (prostatectomia).
Há um consenso geral de que os homens com câncer de próstata de risco intermediário a alto têm mais benefícios com o tratamento ativo, enquanto aqueles diagnosticados com câncer de baixo risco podem seguir com vigilância ativa, ou seja, o monitoramento do câncer de próstata por meio de exames e consultas, que podem evitar ou postergar a execução de procedimentos e cirurgias.
O estudo em análise, Focal therapy compared to radical prostatectomy for non-metastatic prostate cancer: a propensity score-matched study¹, publicado pela Springer Nature (28 January 2021), identificou que a terapia focal foi avaliada como a melhor estratégia para o tratamento do câncer de próstata.
Comumente indicado, os tratamentos radicais de glândula inteira, como prostatectomia radical ou radioterapia radical, apresentam resultados oncológicos favoráveis, porém geralmente com um alto grau de efeitos colaterais, notadamente incontinência urinária e disfunção erétil. A terapia focal envolve a ablação apenas das áreas afetadas pelo câncer, reduzindo assim danos ao tecido colateral, como feixes neurovasculares, esfíncter urinário externo, colo da bexiga e reto.
Essa estratégia de preservação de tecido não é incomum em outros cânceres de órgãos sólidos. No câncer de próstata, após estudos de fase inicial, os dados de outros grandes estudos prospectivos multicêntricos mostraram melhores taxas de controle do câncer a curto e médio prazo ao usar tecnologias ablativas focais, entre elas o ultrassom focado de alta intensidade (HIFU) e a crioterapia. Vale destacar que o HIFU apresenta baixas taxas de efeitos colaterais, como já demonstrado em diversos outros estudos internacionais.
Em pacientes com câncer de próstata de risco intermediário e baixo, não metastático, os resultados oncológicos ao longo de 8 anos foram semelhantes entre a terapia focal e a prostatectomia radical.
Enquanto os médicos aguardam os resultados dos ensaios clínicos randomizados que comparam diretamente a terapia focal à terapia radical, dados como esses podem ser usados para aconselhar melhor os pacientes sobre suas opções de tratamento.
Os dados da análise foram coletados entre novembro/2005 e setembro/2018 em dois registros de terapia focal multicêntrica prospectiva usando HIFU e crioterapia e um registro prospectivo de prostatectomia radical laparoscópica.
A prostatectomia radical com preservação dos nervos unilateral ou bilateral foi realizada conforme determinado pelo cirurgião operatório e pelas características do tumor do paciente. Não foi realizada a dissecção de rotina dos linfonodos.
Todos os pacientes foram submetidos a testes de PSA trimestrais durante o primeiro ano e semestralmente durante 2 anos e, depois, anualmente. Os pacientes que se submeteram à terapia focal também foram submetidos a uma ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI) durante 12 meses com realização de biópsias caso houvesse suspeita de câncer residual.
Após prostatectomia radical, os pacientes receberam radioterapia de resgate, terapia de privação de androgênio ou vigilância com base no PSA. O teste de PSA supersensível foi usado após a radioterapia de resgate com prostatectomia radical na presença de fatores de risco para recorrência e um aumento consistente do PSA pós-operatório.
No entanto, dados já apresentados em outros estudos apontam benefícios significativos da terapia focal para o tratamento do câncer de próstata. Especificamente sobre o HIFU, outros estudos internacionais já o indicavam para o câncer localizado de baixo, médio e alto risco. Entre os métodos disponíveis para o tratamento do câncer de próstata, a técnica HIFU é a que apresenta os menores índices de efeitos colaterais, de 0 a 2% para incontinência urinária e de 5 a 26% para disfunção erétil, baixa taxa de mortalidade e alto índice de sobrevida livre de metástases após 10 anos, com taxas aceitáveis de morbidade.
A
análise de comparação combinada entre a terapia focal e a prostatectomia radical
para o tratamento de câncer de próstata não metastático mostrou que a terapia
focal apresentou controle do câncer semelhante à prostatectomia radical.
Dr.
Marcelo Bendhack - Doutor em Uro-Oncologia pela
Universidade de Düsseldorf (Alemanha) e Graduado em Urologia e Doutor em
Cirurgia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Presidente da Sociedade
Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA) e especialista pela Sociedade
Brasileira de Urologia (SBU). Membro do conselho da Federação Mundial de
Uro-Oncologia (WUOF). Membro titular do corpo Clínico e Chefe do Serviço de
Uro-Oncologia do Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba/PR). Professor da
Pós-graduação - HCV - Universidade Positivo (Curitiba/PR).
¹Focal
therapy compared to radical prostatectomy for non-metastatic prostate cancer: a
propensity score-matched study¹, publicado pela Springer Nature, 28 January
2021; https://www.nature.com/articles/s41391-020-00315-y
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