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sexta-feira, 21 de maio de 2021

Especialista aponta quatro comportamentos ligados aos transtornos alimentares durante a pandemia

Problemas se tornaram ainda mais frequentes nos consultórios por causa do isolamento e do sofrimento psicológico neste período


Os transtornos alimentares – conjunto de doenças psiquiátricas de origem genética e hereditária, caracterizado pela constante perturbação na alimentação - já afetam 4,7% da população brasileira, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS); entre os jovens, o índice pode chegar a 10%. 

“São doenças que retratam mais do que a quantidade ou os aspectos econômicos e demográficos relacionados ao consumo da população. Não estamos falando apenas sobre o quanto ou o que se come, mas como e por que se come”, reflete Dra. Lívia Salomé, especialista em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. 

Ela lembra que durante a pandemia, quando as pessoas tiveram seus níveis de estresse aumentados por conta do isolamento e do sofrimento psicológico, os problemas alimentares tornaram-se ainda mais frequentes nos consultórios.

Um dos transtornos mais comuns é a anorexia nervosa, causada por um desejo excessivo, ilimitado e sem controle de emagrecer e se manter em um determinado padrão de beleza. “O paciente com anorexia para de comer e não consegue ver que seu corpo, aos poucos, está definhando com a falta de nutrição adequada”, explica a médica.

Já a bulimia nervosa é marcada por episódios de ingestão compulsiva de alimentos, seguidos de métodos inadequados para reverter este abuso. “As medidas mais empregadas pelos pacientes para reparar esta situação são a indução de vômitos, uso abusivo de laxantes e diuréticos, manutenção de dietas muito restritivas, jejum prolongado e prática extenuante de exercícios físicos”, afirma Dra. Lívia. Ela lembra que tudo isso é realizado com o intuito de reduzir os efeitos da alimentação compulsiva e aliviar o sentimento de culpa gerado pelo medo de engordar. 

Outro transtorno com grande prevalência é a compulsão alimentar, no qual a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome. “Pessoas com esta doença comem grandes quantidades de alimentos em pouco tempo e durante o episódio de compulsão, sentem perda de controle”, diz a especialista em Medicina do Estilo de Vida.

A Dra. Lívia elencou quatro comportamentos que, quando combinados a outros fatores, são capazes de desencadear graves transtornos alimentares:


Comer e petiscar sem pensar

Quando a pessoa não planeja sua alimentação, acaba comendo de forma impulsiva – isso faz com que elas busquem alimentos que nos dão recompensas instantâneas, como o prazer de comer um doce ou um hambúrguer com fritas. “A falta de atenção e de controle ao que se consome pode levar a um quadro de compulsão alimentar”, explica ela.


Redução no consumo nutricional

Com o isolamento, muitas pessoas passaram a recorrer ao fast food sem nenhuma restrição, piorando o consumo nutricional. “O mau hábito fez com que muita gente esquecesse de como a alimentação balanceada é importante”, diz ela. Por outro lado, pacientes com transtornos alimentares possuem inadequações profundas no consumo e no padrão alimentar, além de diversas crenças equivocadas sobre alimentação. “É uma via de mão dupla: eu como mal e continuo comendo porque acredito ser difícil mudar um padrão”. 


Hábito de comer para lidar com acontecimentos

O hábito de comer de forma desenfreada, sem sentir fome, está associado a questões emocionais. “Muitas vezes, a ligação entre ansiedade e compulsão alimentar tem como base problemas emocionais associados à tristeza, culpa, frustração, questões mal resolvidas, baixa autoestima e obesidade”, explica. 


Maior exposição às redes sociais

Em tempos de Instagram, a cultura da magreza e as dietas milagrosas da moda deixam as pessoas mais vulneráveis aos problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos alimentares. “Durante o isolamento, é preciso buscar outras alternativas para se divertir e evitar a exposição excessiva a certos tipos de conteúdo que nos fazem acreditar em corpos irreais”, opina ela.


Sono ruim

O sono também pode influenciar na alimentação, já que quando não dormimos muito bem, temos maior tendência à impulsividade e à falta de atenção. “É bom lembrar que comer em excesso é um comportamento comum em pessoas com alguns transtornos emocionais, como a depressão e ansiedade. Logo, mudanças no padrão de descanso influenciam no apetite e na nossa capacidade de nos sentir saciados”, finaliza Dra. Livia.

 


 Dra. Lívia Salomé  - Graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem especialização em Clínica Médica e certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine. Atualmente, é vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).


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