Problemas se
tornaram ainda mais frequentes nos consultórios por causa do isolamento e do
sofrimento psicológico neste período
Os transtornos alimentares – conjunto de doenças
psiquiátricas de origem genética e hereditária, caracterizado pela constante
perturbação na alimentação - já afetam 4,7% da população brasileira, de acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS); entre os jovens, o índice pode chegar
a 10%.
“São doenças que retratam mais do que a quantidade
ou os aspectos econômicos e demográficos relacionados ao consumo da população.
Não estamos falando apenas sobre o quanto ou o que se come, mas como e por que
se come”, reflete Dra. Lívia Salomé, especialista em Medicina do Estilo de Vida
pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Regional Minas Gerais do
Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
Ela lembra que durante a pandemia, quando as
pessoas tiveram seus níveis de estresse aumentados por conta do isolamento e do
sofrimento psicológico, os problemas alimentares tornaram-se ainda mais
frequentes nos consultórios.
Um dos transtornos mais comuns é a anorexia
nervosa, causada por um desejo excessivo, ilimitado e sem controle de emagrecer
e se manter em um determinado padrão de beleza. “O paciente com anorexia para
de comer e não consegue ver que seu corpo, aos poucos, está definhando com a
falta de nutrição adequada”, explica a médica.
Já a bulimia nervosa é marcada por episódios de
ingestão compulsiva de alimentos, seguidos de métodos inadequados para reverter
este abuso. “As medidas mais empregadas pelos pacientes para reparar esta
situação são a indução de vômitos, uso abusivo de laxantes e diuréticos,
manutenção de dietas muito restritivas, jejum prolongado e prática extenuante
de exercícios físicos”, afirma Dra. Lívia. Ela lembra que tudo isso é realizado
com o intuito de reduzir os efeitos da alimentação compulsiva e aliviar o
sentimento de culpa gerado pelo medo de engordar.
Outro transtorno com grande prevalência é a
compulsão alimentar, no qual a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo
quando não está com fome. “Pessoas com esta doença comem grandes quantidades de
alimentos em pouco tempo e durante o episódio de compulsão, sentem perda de
controle”, diz a especialista em Medicina do Estilo de Vida.
A Dra. Lívia elencou quatro comportamentos que,
quando combinados a outros fatores, são capazes de desencadear graves transtornos
alimentares:
Comer e petiscar sem pensar
Quando a pessoa não planeja sua alimentação, acaba
comendo de forma impulsiva – isso faz com que elas busquem alimentos que nos
dão recompensas instantâneas, como o prazer de comer um doce ou um hambúrguer com
fritas. “A falta de atenção e de controle ao que se consome pode levar a um
quadro de compulsão alimentar”, explica ela.
Redução no consumo nutricional
Com o isolamento, muitas pessoas passaram a
recorrer ao fast food sem nenhuma restrição, piorando o consumo
nutricional. “O mau hábito fez com que muita gente esquecesse de como a
alimentação balanceada é importante”, diz ela. Por outro lado, pacientes com
transtornos alimentares possuem inadequações profundas no consumo e no padrão
alimentar, além de diversas crenças equivocadas sobre alimentação. “É uma via
de mão dupla: eu como mal e continuo comendo porque acredito ser difícil mudar
um padrão”.
Hábito de comer para lidar com acontecimentos
O hábito de comer de forma desenfreada, sem sentir
fome, está associado a questões emocionais. “Muitas vezes, a ligação entre
ansiedade e compulsão alimentar tem como base problemas emocionais associados à
tristeza, culpa, frustração, questões mal resolvidas, baixa autoestima e
obesidade”, explica.
Maior exposição às redes sociais
Em tempos de Instagram, a cultura da magreza e as
dietas milagrosas da moda deixam as pessoas mais vulneráveis aos problemas de
saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos alimentares. “Durante o
isolamento, é preciso buscar outras alternativas para se divertir e evitar a
exposição excessiva a certos tipos de conteúdo que nos fazem acreditar em
corpos irreais”, opina ela.
Sono ruim
O sono também pode influenciar na alimentação, já
que quando não dormimos muito bem, temos maior tendência à impulsividade e à
falta de atenção. “É bom lembrar que comer em excesso é um comportamento comum
em pessoas com alguns transtornos emocionais, como a depressão e ansiedade.
Logo, mudanças no padrão de descanso influenciam no apetite e na nossa capacidade
de nos sentir saciados”, finaliza Dra. Livia.
Dra. Lívia Salomé -
Graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem especialização
em Clínica Médica e certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo American
College of Lifestyle Medicine. Atualmente, é vice-presidente da Regional Minas
Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).
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