O Brasil segue em grave crise de identidade. Já faz
tempo, aliás. Parece que nos dividimos em dois, três ou quatro mundos
completamente distintos que olham somente ao próprio umbigo. Assim, prevalece a
intolerância; o resultado é o retrocesso coletivo.
A pandemia nos atordoa, é fato. São milhares os
óbitos, em tragédia sem perspectiva de ser estancada. Além das numerosas e
irreparáveis perdas, outros milhares de cidadãos têm a vida comprometida: falo
dos pós-Covid com sequelas importantes, em especial no campo neurológico. A
sociedade está apreensiva, tensa. Equilíbrio é cada vez mais raro.
Daí, temos parte da explicação de ânimos acirrados,
posicionamentos extremos e do clima de ódio em redes sociais, em discussões
familiares, em grupos de amigos e por aí vai.
As polêmicas não se resolvem de forma natural. O
esperado é que elas tragam à tona argumentos para reflexão, para revisão,
amadurecimento ou mesmo confirmação de pensamentos. Ocorre que viraram estopim
de guerra permanente.
Como médico, defendo o humanismo como remédio para
qualquer mal. No dia a dia da assistência, olhar o paciente com atenção,
tratá-lo com respeito, chamá-lo pelo nome já é meio caminho andado para
recuperação. Ou para elevar a qualidade da existência quando o caso requer
ações paliativas.
Na verdade, respeito e boa vontade são excelentes
receitas para tudo. Nosso país precisa de doses e mais doses. Nossa sociedade
precisa de cuidado, de empatia, de cumplicidade.
Hoje, ouso afirmar que não há outra estrada para o
Brasil sair do lamaçal. A vida é muito mais do que pequenas divergências.
Valores e princípios são para nos guiar; não para nos armar.
Vejam o exemplo que médicos, profissionais de saúde
e muitos outros nos dão agora. Cercados de dificuldades, sem equipamentos de
proteção individual, enfrentando insuficiência de medicamentos, de leitos, de
insumos, eles resistem com firmeza e paixão. Expõem-se por compromisso com o
próximo.
Ok, todos somos livres para expressar opiniões e
defender escolhas, porém, calma lá! Só o diálogo nos faz chegar a bom termo e a
soluções alvissareiras.
Reforço que agir pautado no humanismo é
indispensável, mais do que nunca. Esse é o gesto revolucionário que todos
precisamos.
Minha experiência de décadas de cuidados a
pacientes e de dedicação a alunos forjou em mim a convicção de que sempre há como
superar adversidades. Valhamo-nos de altruísmo. Dias melhores virão.
Antonio Carlos Lopes -
presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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