Na última semana o Brasil foi surpreendido com mais uma história de dor e comoção, com a morte do pequeno Henry Borel, de quatro anos. Uma tragédia com mais dois personagens investigados como suspeitos do crime: a mãe de Henry e o padrasto do menino. Muitos se perguntam porque tanta crueldade. E o que chama a atenção é a frieza com que os fatos se deram, além do comportamento apresentado pela mãe e pelo padrasto. Traçando um perfil psicológico dos dois, diante do que tem sido noticiado, podemos ver que a união de traços de psicopatia do padrasto com sinais de narcisismo perverso da mãe pode ter sido determinante para o desfecho trágico dessa história.
A psicopatia é mais comum do que se pensa.
Infelizmente, os psicopatas vivem entre nós e essa identificação não é muito
simples. Estudos estatísticos demonstram que o transtorno possui níveis de
intensidade e que, de cada 100 pessoas, em torno de 04 a 05 podem apresentar
sintomas característicos ao distúrbio.
Os psicopatas se apresentam, na maioria dos casos,
como simpáticos e amáveis. São sempre cativantes e, muitas vezes, prestativos.
A sedução é uma das características marcantes deste personagem. Também são
inteligentes e sábios. O lado negativo fica por conta da frieza e dos cálculos
estrategistas diante das situações, pois não sentem culpa alguma. Além disso, o
remorso não faz parte de seu rol de sentimentos. Psicanaliticamente falando, possuem
uma predominância da instância psíquica de personalidade ID, o que explica o
modo de vida voltado, único e exclusivamente para seu prazer pessoal e para o
atingimento de seus objetivos e metas. Não importa o que o outro sente ou quer,
importa o que eu desejo - essa é a bandeira que um psicopata empunha.
A psicopatia é muitas vezes confundida com um
transtorno de conduta. O diagnóstico final que decreta afetações do transtorno
relata disfunções neurológicas associadas a um conjunto de sentimentos influenciados
por crenças limitantes natas ou aprendidas ao longo da vida. Os primeiros
sinais podem aparecer ainda quando criança, em um grau mais leve e moderado.
Por isso, é muito importante um acompanhamento profissional de perto quando se
identificar qualquer indício de alteração comportamental motivado por
perversidades e frieza. Um psicopata, quando criança, apresenta algumas
características muito peculiares como: mentiras frequentes, dificuldade em
seguir regras, são antissociais, insensibilidade emocional, conturbações ao
tentar manter amizades, praticam bullying e até podem vir a cometer pequenos
delitos transgressores, como roubos, violências e vandalismos. Mas cuidado, o
diagnóstico final que decreta que a pessoa pode ser um psicopata ou não, para ser
realmente finalizado com êxito, pauta-se na ancoragem de intensidade e
frequência com que esses episódios e comportamentos acontecem. O mais comum é
que, por serem muito inteligentes e inquietos quanto à busca por conhecimento,
a grande maioria dos psicopatas têm ciência das características do seu
posicionamento destoante dentro da sociedade e, com isso, camuflam seus reais
sentimentos e ações - o que causa grande dificuldade na definição do distúrbio.
Visto que existem diferentes graus de psicopatia,
que variam desde os mais leves, moderados e até os graves, podemos afirmar que
nem todos chegam a se tornar assassinos. Podem desempenhar papéis de destaque
em seu meio social e usar de algum poder conferido a eles para praticar delitos
com total frieza emocional que, em muitos casos, chegam a impressionar. Podendo
também ser autores de fraudes, golpes, estelionatos e roubos.
Os psicopatas podem, ainda, mostrar uma faceta
carregada de sinais que demonstram que o distúrbio da psicopatia é latente. São
eles: egocentrismo; mentiras; trapaças e manipulações; ausência de culpa,
remorso e empatia; observação constante ao comportamento do outro, analisando
os passos de suas vítimas; alterações severas de humor, com ataques de
agressividade; podem ser superficiais e eloquentes; estão sempre envolvendo
emocionalmente as pessoas que se encontram vulneráveis; vivem a elogiar todos e
a perfeição faz parte de seus objetivos. Porém, os psicopatas nunca buscam
ajuda porque não se sentem incomodados com suas ações. São desprovidos de
sentimentos e mudar não está nunca em seus planos.
Analisando o perfil da mãe do pequeno Henry,
podemos identificar indícios claros de desenvolvimento de uma personalidade de
natureza narcísica perversa, onde a maior preocupação é consigo mesma. Pessoas
que apresentam esse distúrbio estão sempre em busca da perfeição estética,
afinal manter uma máscara sedutora para a sociedade é o mais importante. O foco
está sempre voltado para as aparências, onde o excesso de vaidade prevalece em
detrimento da empatia e compaixão pelo outro. Não conseguem fazer muitos
vínculos emocionais e uma pitada de egoísmo está sempre presente em seu caráter
perturbador.Esse perfil narcísico, normalmente, não consegue se abalar com o
luto. E isso ficou claro, na história triste e dramática do filho, vítima de
maus tratos e agressões.
A junção destas duas personalidades doentias,
certamente, foi o estopim determinante na morte trágica da criança de quatro
anos. A busca por poder e status percebida em ambos personagens descritos aqui,
padrasto e mãe, associada a todas as características de desvios de conduta e de
transtornos, foram fatores cruciais que completam essa receita desastrosa que
culminou na morte de uma criança indefesa, vulnerável e sofrida.
Portanto, o casamento do narcísico e do psicopata
pode potencializar a perversidade severa que irá rejeitar a presença de um
terceiro personagem. Provavelmente, motivo que levou às práticas de
maus-tratos, com o intuito consciente e velado de eliminar um obstáculo: o
menino. O casal, motivado por seus sintomas transgressores, não conseguiam
transmitir afeto e amor para a criança. Visto que a sedução doentia e aparente
da mãe e o papel forçado de bom moço e bom político do padrasto misturou-se com
a perversidade e frieza requintada presentes no crime. Enfim, se nem tudo que
reluz é ouro, fica claro que todo o cuidado é pouco no quesito relacionamentos.
O charme e a inteligência utilizados para impressionar e seduzir o outro podem
ser ingredientes bombásticos. Neste caso, a ausência de sentimentos denuncia os
fatos e, infelizmente, Henry foi vítima do lado sombrio da mente de pessoas que
deveriam apenas proteger e amar.
Dra Andréa Ladislau * Doutora em Psicanálise *
Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de Ciências
Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde * Pós Graduada em
Psicopedagogia e Inclusão Social * Professora na Graduação em Psicanálise *
Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In
Niterói * Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise
da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. * Professora Associada do
Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au
Canada, situado em souhaites.
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