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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas elevam o risco de mortalidade infatojuvenil por Covid-19

Pesquisadores do Departamento de Pediatria da FMUSP reforçam a necessidade de reclassificação da pandemia como sindemia

 

Estudo inédito, promovido pela Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), aponta que comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas elevam o risco de mortalidade de crianças e adolescentes hospitalizados por Covid-19 no Brasil.

Publicado como pré-print e aguardando revisão para publicação em periódico científico internacional, o artigo realizou uma análise estatística de dados do Ministério da Saúde sobre 5.857 pacientes menores de 20 anos hospitalizados por Covid-19. 

Em comparação com pacientes previamente saudáveis, o estudo demonstrou existir maior mortalidade por Covid-19 em crianças com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Especialmente, quando associadas aos pacientes com mais de uma doença crônica, o risco de mortalidade apresentado era quase dez vezes maior. 

Além disso, o estudo mostrou maior mortalidade entre crianças das etnias parda, indígena e amarela, quando comparadas com crianças brancas. Residentes das regiões Norte e Nordeste ou de cidades com menor desenvolvimento socioeconômico também tiveram maior chance de óbito. 

Os resultados obtidos pelo trabalho levam os pesquisadores a propor a reclassificação da Covid-19 como uma sindemia, ou seja, o sinergismo de duas condições de saúde (Covid-19 e DCNT), que se potencializam mutuamente e são impulsionadas por desigualdades socioeconômicas estruturais. 

“Nossos resultados são relevantes para a formulação de políticas de saúde pública, uma vez que o país ainda está planejando sua estratégia de vacinação e tentando encontrar a melhor maneira de enfrentar os desafios de saúde impostos pela pandemia da Covid-19”, afirma Alexandre Ferraro, professor associado do Departamento de Pediatria da FMUSP e um dos pesquisadores do estudo. 

Vale ressaltar que, como o próprio estudo reforça, crianças e adolescentes são em sua maioria poupados pela Covid-19, apresentando baixo índice de gravidade e mortalidade em comparação à faixa adulta. 

“Abordar a Covid-19 como parte de uma sindemia convida a uma visão mais ampla que vai além das soluções biomédicas e engloba o ambiente socioeconômico que promove o agrupamento e a interação com as DCNT. Tratamento adequado, medidas preventivas e vacinação não são suficientes: a intervenção governamental é necessária para enfrentar o desafio de mudar as disparidades estruturalmente enraizadas na sociedade brasileira”, finaliza Braian Sousa, pesquisador do estudo.


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