Contato com a natureza favorece hábitos saudáveis, reduz angústia e estresse e alia descanso e entretenimento. Turismo de bem-estar deve representar 18% do turismo global até 2022
A relação entre saúde,
bem-estar e natureza é objeto de estudo em diferentes áreas do conhecimento. De
maneira geral, há evidências científicas de que a maior conexão com a natureza
pode oferecer inúmeros benefícios tanto para a dimensão física quanto para a
saúde mental dos indivíduos. Tais experiências favorecem hábitos e alimentação
saudáveis; realização de atividades físicas que ajudam a reduzir a pressão, a
angústia e o estresse; além de trazer tranquilidade, elevar as emoções
positivas e aliar descanso e entretenimento.
A Organização Mundial de
Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e
social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Em 1948, criou o Dia
Internacional da Saúde, comemorado neste 7 de abril, justamente para promover a
consciência sobre a importância destes diversos aspectos.
No Brasil, a Sociedade
Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein conduz uma iniciativa que
investiga os efeitos positivos da natureza nos seres humanos. O projeto
e-Natureza já demonstrou efetivo potencial para a promoção de emoções positivas
entre pacientes internados em hospitais. Por meio de um banco de imagens
submetido a mais de 27 mil avaliações, a pesquisa comprovou que os elementos
que compõem uma paisagem natural evocam emoções como alegria, paz e tranquilidade,
assim como melhora da autoestima. “Essas imagens têm influenciado a experiência
de pacientes em quimioterapia, tanto em nível físico quanto emocional. São
estudos pioneiros no país que sinalizam o potencial de pesquisas nessa área,
tendo em vista nossa biodiversidade, diferentes biomas, possibilidades de
intervenções baseadas na natureza em nosso meio”, explica a coordenadora do
projeto, Eliseth Leão.
O e-Natureza entra agora
em uma segunda fase, que visa ampliar a conexão e o engajamento dos profissionais
da saúde e da população com a natureza, com foco na promoção da saúde e
bem-estar. Esta etapa, que conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário,
desenvolverá um manual de boas práticas para o turismo de bem-estar em
ambientes naturais, que inclua ações como cursos de formação on-line para
gestores de unidades de conservação e profissionais de saúde, além de
atividades contemplativas, observação de aves e natureza, banhos de floresta e
interpretação ambiental. Com isso, espera-se qualificar, com fundamentação
científica, o setor em expansão de turismo de bem-estar na natureza.
A pesquisadora aponta
que o interesse pelo turismo de bem-estar tende a aumentar no pós-pandemia.
“Estar com a natureza é uma forma de autocuidado. Pela situação de isolamento
social, as pessoas parecem estar com um novo olhar, mesmo aquelas que não
tinham essa prática antes. Observamos esse interesse mesmo a partir das
próprias casas, por meio da jardinagem, da observação do céu, dos pássaros, do
pôr-do-sol. Muita gente percebe que existe aí um mecanismo de respiro, de
restauração”, salienta.
Turismo de bem-estar
Pesquisa realizada pela
Wellness Tourism Association (WTA) no segundo semestre de 2020 apontou que o
desejo de estar na natureza e a melhoria da saúde mental serão os dois maiores
impulsionadores do turismo de bem-estar no pós-quarentena.
“A natureza faz parte da
nossa essência e, portanto, o contato com áreas verdes é fundamental para nossa
saúde e bem-estar. É comprovado que esse tipo de experiência reduz níveis de
estresse e depressão, melhora a imunidade, a qualidade do sono e estimula a
criatividade”, afirma a gerente de Conservação da Natureza da Fundação Grupo
Boticário e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN),
Leide Takahashi.
O turismo de bem-estar é
definido pelo Global Wellness Institute (GWI) como "viagens associadas à
busca por manter ou melhorar o bem-estar pessoal". Segundo dados da
entidade, de 2015 a 2017, o mercado global de turismo de bem-estar cresceu de
US$ 563 bilhões para US$ 639 bilhões, cerca de 6,5% ao ano (mais que o dobro do
resultado do turismo em geral). A previsão é de que até 2022 o faturamento
desse mercado chegue a US$ 919 bilhões, o que significa 18% de todo o turismo
global. Serão mais de um bilhão de viagens individuais em todo o mundo.
Segundo o sócio-fundador
da agência Vivalá, Daniel Cabrera, o interesse por expedições na natureza é
cada vez maior entre os viajantes brasileiros. “As pessoas buscam experiências
mais profundas e mais autênticas de viagem. Por incrível que pareça, boa parte
dos brasileiros ainda não conhece o Brasil, apesar de toda a beleza e
diversidade do nosso território. Pouco a pouco, estão ficando mais atentas à
riqueza de vivências que o turismo de bem-estar pode proporcionar”, ressalta.
A Vivalá promove
expedições de turismo responsável para unidades de conservação, com foco na
interação com a natureza e com as comunidades locais. Ao proporcionar o contato
intenso com a natureza e a troca de experiências com pessoas que vivem em realidades
muito diferentes, as expedições também contribuem para a melhoria da qualidade
de vida e da saúde mental. “Existem muitos estudos que associam viagens à
felicidade. Acredito muito no poder transformador que as experiências em áreas
naturais e o contato com as comunidades podem gerar nos viajantes”, aponta.
Criança e natureza
O contato com a natureza
e o livre brincar são essenciais para o pleno desenvolvimento de meninos e
meninas. A chegada da pandemia em 2020 acentuou ainda mais as consequências da
privação destes momentos. O aumento da ansiedade e do déficit de atenção na
infância são alguns dos impactos da vida nos grandes centros urbanos em
crianças e adolescentes.
“É importantíssimo que a
criança esteja em contato com a grama, com a terrinha, com a pedrinha, com o
tronco, porque isso vai alimentar a sua imunidade, as suas defesas, para que
ela se torne mais saudável”, explica o pediatra sanitarista Daniel Becker, no
mini documentário Saúde e Vida Lá Fora, produzido a partir do
filme O Começo da Vida 2 - Lá Fora.
“A natureza é
reconhecida e recomendada pelos pediatras e profissionais da área da saúde como
forma de incentivar a adoção de hábitos salutares no cotidiano das famílias,
como forma de oferecer experiências e momentos que contribuam com a formação
saudável das crianças”, declara a coordenadora do programa Criança e Natureza,
Laís Fleury, que também é membro da RECN. A infância, mesmo antes da pandemia,
já sofria um certo confinamento, trazendo impactos negativos na saúde. É
importante trazer luz a este tema e mostrar que as crianças e adolescentes
precisam da natureza tanto quanto a natureza precisa deles para permanecer
viva”.
Confira alguns benefícios que o contato com a natureza traz à saúde das crianças:
- reduz sintomas de Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade e do estresse;
- melhora a nutrição: crianças que plantam seus
próprios alimentos são mais propensas a comer frutas e vegetais, têm um
conhecimento maior sobre nutrição e mais chances de manter hábitos
alimentares saudáveis por toda a vida;
- estimula a atividade física: brincar em diferentes ambientes naturais as torna mais ativas fisicamente, mais conscientes sobre sua alimentação e mais cuidadosas com o outro;
- inspira momentos de concentração: proporciona
a experiência do belo, aumenta o equilíbrio e a autorregulação em jovens
que vivem na cidade;
- estimula os sentidos e a criatividade.
(fonte: projeto Criança e Natureza)
Fundação Grupo Boticário
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
(RECN)
www.fundacaogrupoboticario.org.br
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