Enquanto muitos esperam a vacinação em massa para começar a respirar com um pouco mais de tranquilidade em meio ao caos provocado pela Covid-19, outros ainda têm um longo caminho para se recuperar das sequelas deixadas pela doença. Pacientes com tempo quatro vezes maior de internação, cepas cada vez mais contagiosas e agressivas castigam a população, equipes de saúde e hospitais que ficam superlotados. Impactos cada vez mais severos e difíceis de serem superados.
Assim como outros setores da economia, os hospitais
ainda vão ter um longo período para se recuperar das sequelas da pandemia.
Foram milhões em investimentos não previstos, aumento dos preços dos insumos e um
rombo gigantesco no caixa das instituições de saúde.
O primeiro baque foi na reorganização das equipes,
com afastamento dos profissionais do grupo de risco e novas contratações,
seguido pela adequação da estrutura física dos hospitais, com alas e fluxos
separados para pacientes suspeitos, investimentos em ambiente de pressão
negativa, barreiras físicas e outras medidas, como treinamentos, para garantir
a segurança da equipe.
Aliado a isso, houve a diminuição natural no número
das consultas e exames que o medo da doença causou em muitas pessoas que
deixaram de realizar o acompanhamento de doenças crônicas. Cirurgias eletivas
suspensas. Muitas vezes, esses mesmos pacientes procuraram o atendimento mais
tarde, com a saúde bem agravada e precisando de intervenções que antes não
seriam necessárias, aumentando ainda mais a conta final.
Quando tudo parecia ter acalmado e acreditávamos
que iríamos conseguir respirar e começar a nos reerguer, vieram novas cepas,
leitos clínicos e de unidade de terapia intensiva com 100% de ocupação, prontos
atendimento atendendo com restrições ou fechados. Os hospitais, já tão
castigados economicamente pela suspensão das cirurgias eletivas, precisaram dar
conta da superlotação de leitos para Covid-19 que são remunerados com valor médio
abaixo do adequado para a sustentabilidade das instituições.
A indústria de insumos também não conseguiu suprir
a alta na demanda, parou de garantir a entrega e a alternativa para dar
continuidade à assistência da população acabou sendo a importação de
medicamentos. Tudo isso fez com que os insumos chegassem a triplicar de valor
em alguns casos, seja pela alta do dólar ou pela lei da oferta e procura.
Talvez tenha faltado empatia entre todos da saúde para avaliar os efeitos da
pandemia no setor.
Em meio a esse caos, com hospitais se adaptando à
nova realidade em tempo recorde, um ano depois, as fontes pagadoras ainda
procuram entendimento para pagamento de novas práticas fundamentais para
pacientes, como a importância de consultas intensivas de fisioterapeutas e
fonoaudiólogos e o aumento da necessidade e dos preços dos insumos.
Os hospitais se veem cada vez mais pressionados por
todos os lados. Pela população que precisa do atendimento de qualidade e que
muitas vezes não consegue acessar o serviço, pelos profissionais que estão
esgotados após mais de 12 meses de trabalho intenso, atendendo casos cada vez
mais graves, e pelo poder público para aumentar o número de leitos onde não se
tem espaço e, muito menos, mão de obra com a capacitação necessária para
realizar o atendimento em uma unidade intensiva.
Infelizmente, não podemos simplesmente apertar o
espaço e colocar cinco pacientes onde deveriam ser três, porque isso implica em
muito mais do que uma cama. Implica no aumento de profissionais, equipamentos,
medicamentos, tudo o que não encontramos mais no mercado.
Quando e como recuperar essas perdas financeiras,
ainda não sabemos. Mas o serviço não pode parar de expandir e oferecer aos seus
usuários a excelência no atendimento e na busca pela inovação constante. Os
investimentos em equipamentos de ponta, melhoria da estrutura e ampliação
precisaram continuar, mesmo em meio à escassez de recursos. São novos hospitais
construídos dentro deles próprios e em tempo real enquanto os atendimentos
seguem. A pandemia da Covid-19 vai passar, ainda vamos sofrer com suas sequelas
por um bom tempo, mas vamos sobreviver. Não tenho dúvidas disso!
José Octávio Leme - administrador e diretor do Hospital Marcelino Champagnat
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