A mulher perfeita levanta cedo, beija os filhos e o marido, prepara o café, arruma as crianças e as deixam na escola, depois segue para o trabalho, linda, reluzente, bem cuidada, de bom humor e perfumada. Já no trabalho, é elogiada pelo excelente desempenho, retorna cedo e prepara o almoço saudável que a família come reunida em volta de uma grande mesa. Pena que não existe!
Nas últimas décadas, temos visto cada vez mais
mulheres engolidas pela rotina massacrante de ser mãe, profissional e mulher.
Perseguindo modelos de saúde, beleza e comportamento inatingíveis.
Comparando-se a modelos ilusórios, frustrando-se com resultados reais distantes
dos ideais e consolando-se em aceitar o possível sem perceber que já executam o
impossível.
Como meras executoras de tarefas, se desdobram em
calendários e agendas com múltiplas atividades que não serão cumpridas,
seguidas daquelas que serão mal executadas. Exercem menos cargos de chefia, têm
remuneração menor e terminam por ficar mais suscetíveis a crises de estresse.
Na Medicina, além de todas as dificuldades normais
de cada mulher, ainda enfrentamos a responsabilidade de atender bem a todos os
pacientes, com atenção e competência. As dificuldades de cada mulher não podem
entrar no consultório ou no centro cirúrgico. Ao trocar a roupa privativa, sai
de cena a mulher e entra a cirurgiã. Talvez por isso compreendemos bem nossas
pacientes. A paciente que procura por nós, além da competência, espera por
empatia e sororidade.
Ser médica é dedicar-se integralmente à profissão,
pois, além dos longos plantões, ainda precisamos lidar com a rotina dos cursos
incessantes, que são extremamente necessários. Os avanços, a ciência e as
descobertas não param. Mas, conciliar toda essa demanda com a família e,
principalmente, com o cuidado com os filhos, sem perder o jogo de cintura, não
é uma tarefa nada fácil. É assim que, muitas vezes, deixamos nossas próprias
necessidades de lado.
De tempos em tempos, no entanto, é possível
encontrar super-heroínas capazes de aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a
vergonha e ousar serem diferentes. É quando a mágica acontece.
É quando exaustas das regras e modelos, as mulheres
se aceitam e se permitem ser originais. Nem sempre boa mãe, às vezes nem mãe.
Nem sempre casada, até mesmo preterida, mas feliz, bem resolvida e satisfeita.
Ser mulher nos dias atuais é um desafio diário de
permanecer consciente das próprias limitações sem se deixar imobilizar por elas.
É aceitar as próprias dificuldades, superar algumas e, no final, perceber que é
nelas que nos tornamos diferentes e únicas.
Foi vivendo imersa em tantas atividades da vida que
aprendi a pedir ajuda, delegar tarefas, fazer-me de tonta, surda e muda. A rir
de mim com leveza, perdoar-me e seguir em frente, porque uma mulher feliz não
precisa ser perfeita.
Dra. Roberta Campos - Cirurgiã
Vascular e presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia
Vascular Regional Maranhão (SBACV-MA)
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