Os idosos já passaram por diferentes fases da história, mas uma pandemia tão letal certamente não estava nos planos. Há um ano, a OMS determinou que as pessoas com 60 anos ou mais fizessem parte do grupo de risco para agravamento da Covid-19. Por isso, muitos deles se viram completamente isolados de seus familiares da noite pro dia - e tudo isso sem hora pra acabar. Mas com o início da vacinação no país, eles veem surgir uma ponta de esperança. Afinal, mesmo com uma doença ainda tão nova e desconhecida, a vacina já surte efeitos - pelo menos na saúde mental.
Pouco se fala sobre o
bem-estar dos idosos, mas todo o estresse causado pelo novo coronavírus com
certeza acendeu esse alerta na sociedade. É o que explica o psicólogo Leonardo
Morelli: "Eles estão reclusos por obrigação, com medo de serem
contaminados e se quer podendo receber visitas dos familiares. Somado a isso,
muitas vezes essas pessoas não têm muitos afazeres e ficam presos à televisão,
acompanhando o aumento no número de mortos e infectados. Tudo isso traz muito
medo e pode fazer com que eles adoeçam mentalmente".
Segundo o IBGE, o
Brasil tem mais de 34 milhões de idosos. Destes, pelo menos 4 milhões vivem
sozinhos. Esse isolamento já é cruel por si só, em uma pandemia, afastados da
família e dos amigos, e com medo do futuro, é ainda pior. Leonardo explica
ainda que é comum que os idosos comparem idas ao hospital ou ao médico como
morte próxima, então é natural que eles sintam medo de serem as próximas
vítimas da doença. Por isso, mais do que nunca é necessário que os entes queridos
mantenham o apoio emocional, estando próximos mesmo que à distância, usando a
tecnologia como aliada para manter o carinho e a esperança em alta.
Recentemente, chegou a vez da mãe de Leonardo,
de 89 anos, receber a tão sonhada dose da vacina. E a Dona Maria de Lourdes não
se conteve de felicidade. "Ela nem dormiu direito! 7h da manhã ela já
estava esperando na porta de casa para ser vacinada", conta o
profissional. "Todo esse movimento faz com que a gente pense e reflita
sobre como isso é importante para eles, como a vacina vem como um alívio para
essa pressão e medo que eles estão vivendo e que muitas vezes a gente não
compreende", completa Morelli.
Até o momento, segundo
o consórcio de veículos de imprensa junto a secretarias de Saúde, mais de 8 milhões
de pessoas já receberam a primeira dose - mas esse número representa apenas
3,88% da população brasileira. "Cada um de nós tem uma visão de mundo
completamente diferente, e isso faz com que o nosso comportamento diante dessa
pandemia também seja distinto. Mas o importante é respeitar o outro e a maneira
que ele está vivendo. Por hora, nos resta aguardar que todos os idosos estejam
imunizados o quanto antes, mas mantendo a nossa saúde mental no melhor estado
para quando chegar a nossa vez", finaliza Leonardo.
Leonardo Morelli - psicólogo,
especialista em psicoterapia Breve e Hipnoterapia Ericksoniana, formado pela
FUMEC, mestre em psicologia pelo Centro Ericksoniano do México e com
especialização em Psicoterapia Ericksoniana pela The Milton Erickison Foudation
(Phoenix - USA). Ele também é diretor do Instituto Milton H. Erickison do Vale
do Aço, e idealizou e ajudou a implantar o projeto de "Assistência ao
Paciente Suicida" junto ao Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII
(principal hospital público de Belo Horizonte, da Fundação Hospitalar do Estado
de Minas Gerais - FHEMIG, que operacionaliza o SUS em nível estadual).
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