Quando somos pequenos costumamos ser ensinados gradativamente a categorizar. Isso nos auxilia muito na construção de alguns conceitos e no desenvolvimento da lógica e da coerência. Formamos grupamentos de acordo com números, cores, sons ou utilidades. Aprendemos a criar padrões, protótipos emoldes. E essa forma de funcionamento pode nos acompanhar em boa parte de nossa história.
Não há nada de contraditório no pensamento
cartesiano. Ao contrário, no inicio de nossa narrativa ele se torna inclusive
altamente eficaz no que tange a aquisição de novos conhecimentos e na
subsequente formação de categorias, classes e hierarquias. Contudo, quando
seguimos usando o mesmo exemplo matemático na vida adulta, corremos um alto
risco de impor normas métricas às pessoas.
Quando cristalizamos o conceito de normalidade,
dizemos basicamente que apesar dos desvios padrões existentes, temos uma média
do que é esperado para os comportamentos, pensamentos ou emoções de cada um.
Entretanto, essa forma de pensar suprime por completo a singularidade. Ao
exigir que tenhamos um modelo, tudo o que destoa acaba sendo classificado como
errado, censurável ou inconveniente. E essa é uma das origens de nossos
preconceitos.
Em meio a tudo isso, ainda hoje, existe muita
discriminação quanto aos portadores de transtornos mentais. Àqueles que não se
encaixam no funcionamento esperado pela sociedade, se percebem muitas vezes
segregados. Recebem estigmas que intensificam negativamente seu quadro. Isso
quando não são deliberadamente apartados ou impelidos compulsoriamente a
ficarem à margem da vida social ou laboral.
Essa psicofobia afasta a cada vez a possibilidade
de tratamento. Ao se perceberem rejeitadas, as pessoas acometidas com doenças
psíquicas desenvolvem ainda mais resistência quanto à necessidade de se cuidar.
Desse modo, perceber o sofrimento emocional e mental como algo real, desconstruindo
representações sociais, é essencial. Ainda que, num primeiro momento, o
diferente possa parecer assustador, apenas acolhendo as dissemelhançascriamos
verdadeiras pontes na direção da empatia e do acolhimento do outro.
Nesse sentido, boa parte do nosso amadurecimento é
composto pela capacidade de desconstruir arquétipos aprendidos na infância e
pela expansão denossa aceitação para um espectro de possibilidades. Entender
que categorias funcionam para coisas, não para pessoas e que, portanto, essa inclusão
se faz necessária e iminente é o ponto de partida para uma sociedade não apenas
mais gentil como também muito maisjusta.
Bruna Richter - graduada em Psicologia pelo IBMR e
em Ciências Biológicas pela UFRJ, pós graduanda no curso de Psicologia Positiva
e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC. Escreveu os livros
infantis: “A noite de Nina – Sobre a Solidão”, “A Música de Dentro – Sobre a
Tristeza” e ” A Dúvida de Luca – Sobre o Medo”. A trilogia versa sobre
sentimentos difíceis de serem expressos pelas crianças – no intuito de
facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre afetos que não conseguem ser
nomeados. Inventou também um folheto educativo para crianças relacionado à
pandemia, chamado “De Carona no Corona”. Bruna é ainda uma das fundadoras
do Grupo Grão, projeto que surgiu com a mobilização voluntária em torno de
pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre
expressão de sentimentos por meio da arte. Também formada em Artes Cênicas,
pelo SATED, o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.
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