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segunda-feira, 8 de março de 2021

Mulheres demoram, em média, 7 anos para ter o diagnóstico de endometriose. Por que isso acontece?

Março é o Mês Mundial da Conscientização da Endometriose

 

A endometriose é uma doença crônica que atinge cerca de 10% das mulheres em idade fértil em todo o mundo. Além de ser uma enfermidade que pode causar dores muitos fortes e até mesmo incapacitantes, existe uma enorme desinformação sobre a doença tanto das pacientes como entre os próprios ginecologistas, o que dificulta o diagnóstico e afeta de forma grave a qualidade de vida destas mulheres.

Um estudo global realizado pela World Endometriosis Research Foundation revelou que mulheres portadoras da doença demoraram, em média, 7 anos para obter o diagnóstico de endometriose. O levantamento foi feito em 2011 com 1.418 pessoas do sexo feminino entre 18 e 45 anos.

A demora no diagnóstico – fruto da desinformação - é um dos motivos que levaram à criação do Março Amarelo – Mês Mundial da Conscientização da Endometriose – justamente para alertar as mulheres sobre a importância de estarem atentas aos principais sintomas da doença e também de procurarem um especialista no assunto, capacitado para realizar o diagnóstico correto da enfermidade.

“A mensagem principal é: a mulher não precisa sentir cólicas”, afirma Fernando Guastella, ginecologista formado pela USP e especialista em endometriose. “Se o médico afirmar que cólicas são normais, mas você estiver incomodada com a dor, procure outro profissional”, completa.

Professor responsável pelo setor de ultrassonografia ginecológica do centro de ensino médico CETRUS, Guastella ensina aos alunos, há 12 anos, como diagnosticar de forma correta a endometriose.

A seguir, ele dá dicas importantes sobre os sintomas da doença, informações sobre a causa, diagnóstico e tratamento.

 

O que é endometriose

E endometriose é uma doença caracterizada pela presença de células do endométrio fora do útero. O endométrio é o tecido da camada interna do útero. Todo mês, o útero se prepara para a fecundação do óvulo. Quando ela não ocorre, o endométrio descama e as células endometriais se desprendem e saem com o sangue menstrual. Em algumas mulheres, no entanto, as células endometriais podem migrar no sentido oposto e, se existir a predisposição para o desenvolvimento da doença, podem se multiplicar fora do útero, como no ovário, trompas, bexiga ou intestino causando a endometriose.


Atenção aos sintomas!  

  • Observe seu ciclo menstrual. Cólicas leves, moderadas, mas principalmente intensas, podem ser sintoma de endometriose. Se a dor lhe incomoda, procure um ginecologista e faça uma avaliação. 
  • Se você nunca teve cólica menstrual na vida e passa a ter, fique alerta. Pode ser sintoma de alguma alteração no aparelho reprodutor feminino. Na dúvida, consulte um ginecologista. 
  • Dor durante a relação sexual também pode ser sintoma de endometriose. Não dor na penetração, mas na parte mais profunda da vagina. 
  • Infertilidade, independentemente de sintomas dolorosos. 
  • Dor pélvica crônica ou distensão abdominal 
  • Dor para evacuar, diarreia ou constipação durante o período menstrual. 
  • Dor para urinar durante o período menstrual

 

A importância do diagnóstico correto

O primeiro passo para o diagnóstico é o exame ginecológico clínico. O exame físico (toque vaginal) consegue detectar cerca de 70% das lesões de endometriose localizadas na região retrocervical (atrás do colo do útero).

O diagnóstico de endometriose, no entanto, precisa ser confirmado por meio da realização dos exames corretos. “O que ocorre, muitas vezes, é que o médico pede para que a paciente faça um ultrassom transvaginal e nada é diagnosticado. E a mulher continua a sofrer com dores. O correto, para detectar a endometriose com exatidão, é fazer um ultrassom transvaginal com preparo intestinal.

Assim é possível estabelecer, com precisão, os focos de endometriose tanto no aparelho reprodutor feminino, no intestino e também em outros órgãos”, diz Fernando Guastella. “Há casos em que a mulher tem focos de endometriose em mais de uma região”, completa.

Outro método de detecção da doença é através da ressonância magnética. “A ressonância magnética e a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal apresentam capacidade diagnóstica semelhante, sendo muitas vezes, complementares. Um estudo recente determinou que quando os dois métodos são realizados na mesma paciente, a acurácia diagnóstica é próxima de 100%”, relata o ginecologista.

Segundo Fernando Guastella, também é muito importante que os exames sejam realizados por profissionais especializados no diagnóstico da endometriose. “É muito melhor fazer os exames com quem tem experiência no diagnóstico da doença. Caso contrário os resultados podem ser ruins”, afirma.


Causa

Existe uma predisposição genética na ocorrência da endometriose. Isso significa que, se um parente próximo tem ou teve a doença, a chance de aparecimento da enfermidade aumenta. “Não quer dizer que porque sua mãe teve, você terá também. Mas a probabilidade cresce”, explica o ginecologista.

E por que algumas mulheres, mesmo com predisposição genética, tem a doença e outras não? “Sabemos que as condições do ambiente em que a mulher vive modulam a ocorrência da endometriose. Stress, ansiedade e deficiências imunológicas podem desencadear a doença”, completa Fernando Guastella.


Tratamento

A endometriose é uma doença crônica, ou seja, que não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento é feito com mudanças no estilo de vida e hormônios que interrompem o ciclo menstrual. Quando os sintomas não forem controlados com o tratamento ou em casos mais graves, é necessária a realização de cirurgia para a retirada dos focos da doença. As intervenções cirúrgicas geralmente são feitas através de laparoscopia, ou cirurgia robótica, métodos minimamente invasivos.


Infertilidade 

A endometriose dificulta a vida de quem quer engravidar?  A resposta é sim. De um terço a metade das mulheres com endometriose têm dificuldade para engravidar. Fernando Guastella explica que isso ocorre devido ao processo inflamatório crônico desencadeado pela endometriose ou por alterações anatômicas do aparelho reprodutor, ou ambas as causas.


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