Março é o Mês Mundial da Conscientização da Endometriose
A endometriose é uma
doença crônica que atinge cerca de 10% das mulheres em idade fértil em todo o
mundo. Além de ser uma enfermidade que pode causar dores muitos fortes e até
mesmo incapacitantes, existe uma enorme desinformação sobre a doença tanto das
pacientes como entre os próprios ginecologistas, o que dificulta o diagnóstico
e afeta de forma grave a qualidade de vida destas mulheres.
Um estudo global
realizado pela World Endometriosis Research Foundation revelou que mulheres
portadoras da doença demoraram, em média, 7 anos para obter o
diagnóstico de endometriose. O levantamento foi feito em 2011
com 1.418 pessoas do sexo feminino entre 18 e 45 anos.
A demora no diagnóstico
– fruto da desinformação - é um dos motivos que levaram à criação do Março
Amarelo – Mês Mundial da Conscientização da Endometriose –
justamente para alertar as mulheres sobre a importância de estarem atentas aos
principais sintomas da doença e também de procurarem um especialista no
assunto, capacitado para realizar o diagnóstico correto da enfermidade.
“A mensagem principal é:
a mulher não precisa sentir cólicas”, afirma Fernando Guastella, ginecologista
formado pela USP e especialista em endometriose. “Se o médico afirmar que
cólicas são normais, mas você estiver incomodada com a dor, procure outro
profissional”, completa.
Professor responsável
pelo setor de ultrassonografia ginecológica do centro de ensino médico CETRUS,
Guastella ensina aos alunos, há 12 anos, como diagnosticar de forma correta a
endometriose.
A seguir, ele dá dicas
importantes sobre os sintomas da doença, informações sobre a causa, diagnóstico
e tratamento.
O que é endometriose
E
endometriose é uma doença caracterizada pela presença de células do endométrio
fora do útero. O endométrio é o tecido da camada interna do útero. Todo mês, o
útero se prepara para a fecundação do óvulo. Quando ela não ocorre, o
endométrio descama e as células endometriais se desprendem e saem com o sangue
menstrual. Em algumas mulheres, no entanto, as células endometriais podem
migrar no sentido oposto e, se existir a predisposição para o desenvolvimento
da doença, podem se multiplicar fora do útero, como no ovário, trompas, bexiga
ou intestino causando a endometriose.
Atenção aos sintomas!
- Observe seu ciclo menstrual. Cólicas leves, moderadas, mas principalmente intensas, podem ser sintoma de endometriose. Se a dor lhe incomoda, procure um ginecologista e faça uma avaliação.
- Se você nunca teve cólica menstrual na vida e passa a ter, fique alerta. Pode ser sintoma de alguma alteração no aparelho reprodutor feminino. Na dúvida, consulte um ginecologista.
- Dor durante a relação sexual também pode ser sintoma de endometriose. Não dor na penetração, mas na parte mais profunda da vagina.
- Infertilidade, independentemente de sintomas dolorosos.
- Dor pélvica crônica ou distensão abdominal
- Dor para evacuar, diarreia ou constipação durante o período menstrual.
- Dor para urinar durante o período
menstrual
A importância do diagnóstico correto
O primeiro
passo para o diagnóstico é o exame ginecológico clínico. O exame físico (toque
vaginal) consegue detectar cerca de 70% das lesões de endometriose localizadas
na região retrocervical (atrás do colo do útero).
O diagnóstico de endometriose, no
entanto, precisa ser confirmado por meio da realização dos exames corretos. “O
que ocorre, muitas vezes, é que o médico pede para que a paciente faça um
ultrassom transvaginal e nada é diagnosticado. E a mulher continua a sofrer com
dores. O correto, para detectar a endometriose com exatidão, é fazer um
ultrassom transvaginal com preparo intestinal.
Assim é
possível estabelecer, com precisão, os focos de endometriose tanto no aparelho
reprodutor feminino, no intestino e também em outros órgãos”, diz Fernando
Guastella. “Há casos em que a mulher tem focos de endometriose em mais de uma
região”, completa.
Outro método
de detecção da doença é através da ressonância magnética. “A ressonância
magnética e a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal apresentam
capacidade diagnóstica semelhante, sendo muitas vezes, complementares. Um
estudo recente determinou que quando os dois métodos são realizados na mesma
paciente, a acurácia diagnóstica é próxima de 100%”, relata o ginecologista.
Segundo
Fernando Guastella, também é muito importante que os exames sejam realizados
por profissionais especializados no diagnóstico da endometriose. “É muito
melhor fazer os exames com quem tem experiência no diagnóstico da doença. Caso
contrário os resultados podem ser ruins”, afirma.
Causa
Existe uma
predisposição genética na ocorrência da endometriose. Isso significa que, se um
parente próximo tem ou teve a doença, a chance de aparecimento da enfermidade
aumenta. “Não quer dizer que porque sua mãe teve, você terá também. Mas a
probabilidade cresce”, explica o ginecologista.
E por que
algumas mulheres, mesmo com predisposição genética, tem a doença e outras não?
“Sabemos que as condições do ambiente em que a mulher vive modulam a ocorrência
da endometriose. Stress, ansiedade e deficiências imunológicas podem
desencadear a doença”, completa Fernando Guastella.
Tratamento
A
endometriose é uma doença crônica, ou seja, que não tem cura, mas pode ser
controlada. O tratamento é feito com mudanças no estilo de vida e hormônios que
interrompem o ciclo menstrual. Quando os sintomas não forem controlados com o
tratamento ou em casos mais graves, é necessária a realização de cirurgia para
a retirada dos focos da doença. As intervenções cirúrgicas geralmente são
feitas através de laparoscopia, ou cirurgia robótica, métodos minimamente
invasivos.
Infertilidade
A endometriose dificulta a vida de quem
quer engravidar? A resposta é sim. De um terço a metade das mulheres com
endometriose têm dificuldade para engravidar. Fernando Guastella explica que
isso ocorre devido ao processo inflamatório crônico desencadeado pela
endometriose ou por alterações anatômicas do aparelho reprodutor, ou ambas as
causas.
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