Pandemia ampliou o
uso prolongado e excessivo de fones de ouvidos, capazes de gerar deficiências
auditivas ao longo dos anos
A distância e o isolamento provocados pela pandemia
de Covid-19 fizeram com que um público cada vez maior tivesse de recorrer a
horas e horas de reuniões e encontros online, principalmente no âmbito do
trabalho. Pesquisa da Comscore revelou um aumento superior a 2.000% no uso de
aplicativos de videochamadas durante o período. Diante do uso irrestrito e
muitas vezes excessivo dos fones de ouvido neste tipo de ocasião, ganhou
importância em 3 de março, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU)
como o Dia Mundial da Audição.
A campanha anual tem como objetivo compartilhar
informações e promover ações que alertem sobre a prevenção de perda auditiva e
melhoria dos cuidados com o sistema auditivo. Em 2021, a ONU definiu que o tema
da iniciativa será “Cuidados auditivos para todos”.
Para Gilberto Ulson Pizarro, otorrinolaringologista do Hospital Paulista, o
mote do ano não poderia ser mais atual. “A pandemia apenas ampliou e destacou
um comportamento que já era visível aos médicos. Infelizmente, as pessoas não
dedicam ao sistema auditivo os mesmos cuidados que têm com outros órgãos e
sistemas do corpo. Um dos objetivos da campanha da ONU é ressaltar que os
cuidados auditivos devem ser promovidos à população como um todo, e não apenas
para aqueles pacientes que já apresentam alguma deficiência auditiva”, afirma.
Nas grandes cidades, além do uso excessivo de fones
de ouvido, é cada vez maior a exposição das pessoas a ruídos elevados. Somado à
não realização periódica de exames auditivos, este cenário tem o potencial de
gerar cada vez mais pacientes com perda parcial e até definitiva da capacidade
de ouvir.
A fonoaudióloga do Hospital Paulista Alessandra
Macedo, por sua vez, ressalta que o cuidado à saúde auditiva é inferior, de
maneira geral, ao necessário. “Nesse sentido, entendo que boas campanhas
direcionadas à população em mídias sociais, internet e grande imprensa são
grandes aliadas na conscientização e na atenção aos cuidados com a saúde”,
explica a especialista, indicando o exame que, necessariamente, deveria estar
presente no check-up anual geralmente realizado pelas pessoas.
“Sem dúvidas, a Audiometria Total Liminar, que
envolve respostas comportamentais do indivíduo a tons puros e à fala. O exame é
realizado com o uso de fones de ouvido, com o paciente dentro de uma cabine
acústica. É indolor e não invasivo”, destaca.
Exames em todas as idades
Importante ressaltar que os exames auditivos podem
e devem ser feitos em todas as idades. O mito de que problemas auditivos
acometem somente os indivíduos com idade mais avançada atrapalha o diagnóstico
correto e o tratamento inicial às deficiências, podendo, inclusive, piorar os
quadros de forma irreversível.
“O Teste da Orelhinha, por exemplo, já é feito com
todas as crianças nascidas no Brasil, seja na rede pública ou na privada.
Qualquer alteração a partir desse exame já permite que a equipe médica atue no
sentido de reverter ou amenizar o quadro, gerando melhor qualidade de vida aos
recém-nascidos”, afirma o otorrinolaringologista.
Alessandra destaca ainda que os exames realizados
em crianças podem incluir brinquedos e bonecos que as ajudam a fornecer
respostas fidedignas para o estímulo sonoro apresentado. “Nesses casos, temos a
Audiometria Condicionada e a Audiometria com Reforço Visual como exemplos”,
sinaliza.
“Em idosos que apresentam declínio cognitivo,
indivíduos com alguma dificuldade para fornecer uma resposta comportamental
frente ao estímulo sonoro, ou ainda pacientes com dificuldades físicas para se
manterem sentados dentro da cabine acústica, é possível recorrer aos exames
objetivos de audição. Entre eles estão as Emissões Oto-acústicas e o PEATE
(Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico), também conhecido como BERA,
em sua sigla em inglês, que pode ser realizado até mesmo sob sedação”,
complementa.
“O importante é ressaltar que os exames auditivos
não geram dor aos pacientes e não são invasivos. A ideia é promover um
diagnóstico, de modo que uma equipe médica multidisciplinar possa determinar
com eficácia e acuidade os melhores tratamentos disponíveis para cada caso, a
depender também da idade e do estilo de vida de cada paciente”, complementa
Gilberto.
Profissões que exigem maiores cuidados
A fonoaudióloga também chama a atenção para
atividades profissionais que, em sua prática cotidiano, submetem a pessoa a
altos níveis de ruídos por período prolongados. São situações que, se
frequentes, podem impactar sensivelmente a capacidade auditiva.
“Todos os profissionais que atuam expostos a níveis
elevados de ruído por período prolongado devem ter atenção redobrada em relação
à sua saúde auditiva. Utilizar tampões e protetores auriculares, além de
abafadores de som, e realizar exames auditivos anualmente são atitudes
essenciais para quem não quer problemas futuros na audição”, finaliza a fono.
Hospital Paulista de Otorrinolaringologia
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