(Foto: Internet) |
A partir do dia 1º de fevereiro, as aulas
presenciais serão retomadas novamente no Estado de São Paulo. Para algumas
escolas particulares, a volta ocorre já no final deste mês. A decisão, mesmo
que gradativa, ainda divide a opinião dos pais. Especialistas do Vera Cruz
Hospital orientam sobre as principais medidas preventivas para o retorno:
triagem de sintomas, protocolos de higiene, orientação e participação da
família são as principais instruções.
"Já tivemos uma primeira experiência no começo de outubro,
mas, apesar do aumento no número de casos, não podemos afirmar que foi devido
ao retorno da educação, já que se trata de um ambiente controlado. Tivemos
muitos outros eventos e setores no final do ano, sem protocolo de segurança, e
que podem ser responsáveis por esses índices. Além disso, existem outros vírus,
como influenza e o vírus sincicial respiratório (responsável, por exemplo, pela
bronquiolite), que nunca preocuparam tanto quanto a Covid-19, mas que possuem
índices de mortalidade muito maiores entre as crianças", argumenta a
médica pediatra Gabriela Murteira.
Segundo a especialista, muitos pais demonstram
preocupações baseadas em notícias falsas e dados não científicos. "Este é
o momento de disseminarmos informações de qualidade, pois o prejuízo dessas
crianças sem acesso às aulas essenciais é muito maior do que o risco que elas
possam correr. Estudos mostram que o risco dessas crianças na escola não é
maior do que na comunidade", defende. A pediatra reforça ainda que o
retorno é facultativo. "Ninguém é obrigado a retornar neste momento. Se
você faz parte de uma família 100% isolada e considera melhor permanecer assim,
tudo bem. Mas não adianta deixar as crianças em casa enquanto os pais voltam
para os escritórios, oferecendo os mesmos riscos à família", explica.
Os protocolos de segurança, redução no número de
alunos e bolhas sociais que vão isolar grupos específicos são algumas das
medidas de garantia, segundo ela. A médica fala, ainda, sobre o uso da máscara,
obrigatória apenas para crianças maiores de 12 anos. "Até cinco anos, o
uso não é indicado, e essa regra permanece mesmo com o retorno das aulas. Já
para as crianças de seis a 11 anos, a decisão é facultativa também",
reforça. "Tivemos muita procura por orientação nos últimos dois meses.
Indicamos que as famílias avaliem o risco e entendam que se trata de um
compartilhamento de responsabilidades. Qual a prioridade da sua família? Comece
avaliando por aí", orienta.
Para a pediatra, a suspensão das aulas
presenciais teve papel importante na redução de casos da Covid-19, diminuindo a
circulação e desafogando o sistema de saúde. Mas, agora, os prejuízos
psicológicos e educacionais de permanecer em casa podem se tornar um problema.
"Temos recebido muitos pacientes com crise de ansiedade, ou seja, estão
surgindo consequências irreparáveis de um isolamento que já pode, com todas as
regras e os protocolos, ser interrompido parcialmente."
A médica alerta ainda para a chegada da vacina.
"É importante afirmar que, apesar de trazer respiro, a imunização tem o
principal objetivo de reduzir internações, gravidade dos casos e até mortes.
Mas até que tenhamos uma vacinação em massa e eficaz, não devemos mudar os
nossos hábitos e cuidados diários", aponta.
Protocolos e consciência coletiva
Para o médico infectologista do Vera Cruz
Hospital, Leonardo Ruffing, a decisão precisa ser contextualizada sob vários
aspectos que incluem as políticas de saúde, educacionais, econômicas e de segurança
pública. "A definição se o retorno deve ocorrer novamente ou não, não é
estritamente médica, mas que envolve um gabinete multiprofissional de crise,
chancelada pelo executivo do estado e do município. Sabemos que existem riscos
envolvidos nessa retomada, mas temos observado aumento de traumas e acidentes
domésticos, associados a quadros de saúde física e mental das crianças, além de
prejuízo no desenvolvimento cognitivo e de sociabilidade", avalia.
Por isso, o especialista defende o retorno
gradativo novamente, mas feito com triagem dos sintomas de alunos, familiares,
professores e profissionais envolvidos na educação e reabertura das escolas.
"Uma das estratégias pode ser, por exemplo, priorizar o retorno de
profissionais infectados imunes, o que diminui as chances de disseminação da
doença. Afinal, são muitos os impactos psicológicos e de desenvolvimento dessas
crianças após tanto tempo no isolamento", avalia.
Para o infectologista, as regras são simples:
notificação no caso de sintomas dos alunos ou familiares; não negligenciar
nenhum quadro febril, mesmo que leve; pensar no coletivo; manter protocolos de
higiene, como troca diária do uniforme, higienização completa assim que chegar
em casa e diálogo da escola com os pais, além de testagem periódica dos
funcionários não acometidos pela Covid-19. "Alertamos ainda para o cuidado
com brinquedos coletivos nos espaços de educação. O ideal é que cada criança
tenha o seu e que ele seja higienizado com bastante frequência. Sugerimos ainda
as atividades ao ar livre, principalmente nos casos de pré-alfabetização. Além
disso, os pais precisam ser extremamente participativos, orientando seus filhos
e pensando que, ao protegê-los, protegem o coletivo. "Crianças não
desenvolvem grandes riscos, mas são vetores da doença. Daqui pra frente é
observar, seguir as regras e se imunizar assim que possível, afinal, estamos
trocando o pneu com o carro andando. Tudo ainda é muito novo e ainda precisa
ser observado. Ainda estamos ponderando os riscos e benefícios. Nenhum tipo de
coletividade é 100% seguro, mas em países como a Alemanha, por exemplo, a
educação está sendo considerada serviço essencial. Uma decisão bem
importante", afirma.
Ainda de acordo com os especialistas, não existem
expectativas da vacina em crianças ou pesquisas que apontem sua eficácia,
portanto, prorrogar o retorno das aulas não é a decisão mais garantida, porém,
ambos apostam na imunização. "As pessoas acreditam em remédios não
comprovados e até em receitas caseiras, mas, quando se trata de uma vacina,
começam as restrições. Sabemos que é reduzida a política adotada pelo Estado e
que deve começar ainda esse mês, mas, se você tiver acesso, tome a vacina,
sim", finaliza o infectologista.
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