Desinformação e fake news levaram uma parcela significativa de brasileiros a desconfiar da eficácia e da segurança dos imunizantes
A chegada da vacina contra a Covid-19
não trouxe apenas esperança e alívio aos brasileiros. Junto com o crescimento
no número de casos e óbitos, a falta de leitos e até de oxigênio nos hospitais
estão questões políticas envolvendo a compra de vacinas, atraso na imunização,
denúncias de fura-fila no recebimento das doses e muita desconfiança sobre a
eficácia e a segurança dos imunizantes.
IMAGEM: Pixabay/Arquivo pessoal |
“A vacina é totalmente confiável,
segura, foi validada através de estudos sérios, desenvolvidos por instituições
de prestígio e autorizadas pelos órgãos competentes”, explica.
Atualmente, mais de 40 milhões de
pessoas já foram vacinadas no mundo, com raras reações consideradas graves, o
que, segundo o professor, demonstra a segurança do imunizante. Em alguns casos,
a vacina pode ocasionar efeitos leves como dor no local da aplicação – o mesmo
efeito de outros tipos de vacinas já amplamente utilizadas no Brasil.
O fato de ter sido desenvolvida tão
rapidamente, continua o especialista, está diretamente ligado à evolução da
ciência nos últimos anos, aos muitos estudos já em desenvolvimento para outras
vacinas e que foram aplicados para os imunizantes contra o Coronavírus.
“Essa vacina não foi produzida do
zero, o que acelerou os resultados. Além disso, a ciência está mais veloz. Para
sequenciar o genoma humano pela primeira vez levamos uma década, hoje se faz
isso em poucos dias”, exemplifica.
Thiago Massuda lembra ainda que o
mundo todo se empenhou na pesquisa e na troca de informações para o desenvolvimento
de um imunizante para conter a pandemia. “Todos esses fatores foram
determinantes para agilizar o processo.”
Interferência
política
Na avaliação do pesquisador, a
politização envolvendo a compra das vacinas é “algo muito triste e lamentável”.
“Enquanto pesquisadores e profissionais da saúde estão preocupados em levar o
melhor para a população, sempre pautados em conhecimento científico, alguns
políticos parecem mais preocupados em tirar proveito eleitoral da situação”,
condena o biomédico.
Thiago diz que a demora nas
negociações fez com que o aumento na demanda mundial tornasse as vacinas
escassas, dificultando o acesso do Brasil às doses. “Se o governo tivesse sido
mais eficiente, teríamos a possibilidade de imunizar boa parte da população
ainda em 2021, mas a omissão brasileira tornou impossível estimar o ritmo que a
campanha de vacinação terá por aqui.”
Apoio
da população
Para que a imunização tenha maior
eficácia, o professor do UNICURITIBA diz que é fundamental contar com a adesão
e a conscientização da população sobre a importância da vacina. “O início da
vacinação não significa o fim da pandemia. Estamos vivendo um dos piores
momentos no Brasil e serão meses até que os resultados da vacina apareçam, por
isso, temos que manter e reforçar os cuidados. A boa notícia é que agora temos
uma esperança.”
Embora faltem estudos de longo prazo
sobre a vacina, a estimativa é que seja possível controlar a disseminação do
vírus assim que 60% a 70% da população estejam imunizadas. As chances de
reinfecção após receber as duas doses também são uma incógnita.
“Todos os voluntários que participaram
dos testes serão acompanhados por anos e só então teremos a resposta sobre o
tempo de proteção e se haverá necessidade de reforço anual, a cada dez anos ou
se a vacina protegerá para sempre”, explica o especialista.
Variante
brasileira
A mutação dos vírus é algo muito
comum e uma delas, a chamada “variante brasileira”, tem como característica o
maior poder de transmissão.
De acordo com o especialista em
imunologia, estudos preliminares feitos com outras variantes do Coronavírus
mostram que as vacinas continuam produzindo efeito protetor. “Acredito que o
comportamento seja exatamente o mesmo com essa variante encontrada aqui e que
as vacinas se mantenham eficazes”, avalia.
Sobre “boatos” que circulam no país a
respeito dos efeitos negativos que a vacina poderia causar, como infertilidade
nas mulheres ou alterações no DNA humano, o biomédico é enfático: “Não há
nenhum fundamento científico nisso e esse tipo de fake news não ajuda em nada
no combate à pandemia.”
A nova tecnologia empregada na
produção das vacinas - como os imunizantes da Pfizer e Moderna, explica o
professor - usa o RNA do vírus na produção de proteínas do Sars-Cov-2. Essas
proteínas estimulam o sistema imunológico a produzirem anticorpos. “É uma
técnica amplamente estudada, muito promissora e que poderá ser usada amplamente
no futuro.”
Vacinas
autorizadas no Brasil
Duas
vacinas estão autorizadas pela Anvisa no Brasil: a Coronavac, desenvolvida pela
Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da Pfizer/BioNtech em
parceria com a Fiocruz. O Paraná recebeu o primeiro lote da Coronavac e começou
a imunização dos profissionais da saúde no dia 18 de janeiro. Após um intervalo
de 14 a 28 dias, esse grupo receberá a segunda dose.
“Como ainda
não sabemos se a pessoa imunizada pode se infectar e transmitir a doença,
embora ela não vá desenvolver as formas graves e nem ir a óbito, que é o que
queremos nesse momento, é importante que as medidas de distanciamento, uso de
máscara e higiene das mãos seja mantida até que consigamos controlar a
disseminação do vírus”.
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