Até cinco vezes mais barato que os testes de farmácia, dispositivo desenvolvido no Instituto de Química de São Carlos também poderá revelar se quem tomou vacina já produziu anticorpos
Pesquisadores
do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP desenvolveram um teste
rápido para Covid-19 com custo aproximado de R$ 30. Até cinco vezes mais barato
que os testes convencionais encontrados nas farmácias, que hoje são vendidos
por cerca de R$ 140, o dispositivo foi criado para facilitar a testagem em
massa no Brasil. A tecnologia também será capaz de revelar se a pessoa que
tomou uma determinada dose de vacina já produziu anticorpos.
Denominado “Teste Popular de Covid-19”, o dispositivo analisa uma gota de
sangue retirada do paciente em busca de anticorpos que permitam detectar a
doença. A estratégia empregada para baratear sua produção foi otimizar a
quantidade de insumos do material e utilizar nanopartículas para a localização
dos anticorpos. Desenvolvidas no IQSC, essas nanopartículas possuem uma
molécula sonda, que fica na cor vermelha quando entra em contato com algum
anticorpo. A molécula foi obtida em parceria com a BioLinker, empresa
brasileira de biotecnologia.
Segundo Frank Crespilho, professor do IQSC e coordenador da pesquisa, esse
método é muito similar aos encontrados nas farmácias. No entanto, é mais
preciso, barato, requer menos reagentes e pode ser produzido integralmente no
Brasil. O docente conta que sua equipe desenvolveu o teste em cerca de quatro
meses, o que é um tempo recorde. Agora, a ideia com a nova tecnologia é
favorecer as populações mais vulneráveis: “Temos que pensar na população
brasileira, esse é o papel da USP. Todos os dias acordo feliz por ter o
privilégio de coordenar uma equipe que está trabalhando incessantemente para
produzir ciência de alto nível. A nossa ideia é que possamos fazer uma análise
em massa da população, com um custo bem mais competitivo e viável para a nossa
realidade econômica", afirma Crespilho, que é Coordenador do Grupo de
Bioeletroquímica e Interfaces do IQSC/USP, coordenador da Rede MeDiCo, a Rede
de Pesquisa em COVID-19 USP/CAPES, recentemente aprovada em edital de seleção
emergencial da CAPES, e Vice-Coordenador do Instituto de Estudos Avançados da
USP (IEA), Polo de São Carlos.
A doutoranda do IQSC, Karla Castro, pesquisadora da rede MeDiCo, também
participou do estudo: “Estamos buscando inovar em aspectos tecnológicos que permitam
a realização de testes de uma forma mais rápida, não perdendo sua seletividade
e especificidade. O procedimento de testagem utilizado no Teste Popular de
COVID-19 da USP é de fácil execução e não demanda estrutura laboratorial. Os
testes já estão em fase de validações e, até o presente momento, a leitura e
interpretação dos resultados são realizados em aproximadamente 10 minutos”, diz
a cientista.
Os pesquisadores explicam que o novo teste traz um caráter inovador, pois ele
será capaz de revelar se o indivíduo produziu anticorpos após receber uma
determinada dose de vacina, podendo auxiliar o médico a identificar a
necessidade de acompanhamento do paciente no processo de imunização. Além
disso, o dispositivo permitirá ainda o rastreamento de imunidade de variantes
do vírus.
A Dra. Mona Oliveira, chefe científica e fundadora da BioLinker, empresa
parceira no estudo, diz que será possível, baseando-se neste primeiro
resultado, desenvolver novas moléculas específicas e produzir os insumos
biotecnológicos de forma rápida, com baixo custo e alta performance. “Nosso
objetivo é viabilizar a aplicação de testagem em massa. O grupo do Prof. Frank
Crespilho é referência internacional em desenvolvimento de biossensores e nosso
colaborador em projetos de pesquisa aplicada e inovação. Com a pandemia, vimos
uma excelente oportunidade em participar do desenvolvimento dos bioligantes
(moléculas sondas) para detecção de anticorpos do coronavírus”, finaliza
Oliveira.
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). O teste já está pronto para produção em larga escala e passará,
em breve, pela regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). A expectativa é de que o produto esteja disponível para
comercialização em até dois meses.
Assessoria
de Comunicação do IQSC, com informações de Frank Crespilho, Karla Castro e Mona
Oliveira
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